Do rescaldo da festa à realidade da Europa - antómio mário santos
Opinião » 2024-06-11 » António Mário Santos
Vivemos, na Europa, tempos difíceis. As eleições europeias, que se desenrolarão no próximo domingo, podem apontar para o fim da União Europeia como hoje a conhecemos. O avanço da extrema direita, racista e xenófoba, na maioria dos países europeus, veio ressuscitar o velho problema das nacionalidades e das suas fronteiras, dos impérios coloniais arrumados nos armários da história, da milenária contenda entre a ciência e a fé, da economia neoliberal assente no conceito do Estado-Nação e nos direitos fundamentais da cidadania democrática.
Tempos que, assentes no individualismo egoísta do cada um que se amanhe, eu tenho direito a uma vida boa, os meus estudos dão-me direito à exigência, as desigualdades sociais e económicas são uma realidade indesmentível, a Europa para os Europeus, um Estado Mínimo numa economia liberal ao serviço dum sociedade cada vez mais estratificada, entre minorias privilegiadas e maiorias cada vez mais exploradas, se agrava com a violência e o ódio gerado por duas guerras, a invasão da Ucrânia pela Rússia a sonhar o refazer do antigo império russo, e no Médio Oriente, o genocídio palestiniano em Gaza e na ocupação por colonatos da Cisjordânia perpetrado pelo fundamentalismo sionista,
As forças políticas tradicionais que, do Mercado Comum, à actual União Europeia, foram perdendo terreno e , ainda que separadas por grupos políticos, na prática foram abandonando a escala dos direitos democráticos, como a saúde, habitação, educação, segurança social, direitos das mulheres, políticas do ambiente e das alterações climáticas, rendidas ao domínio do mercado, do predomínio privilegiado da banca s dos grupos económicos multinacionais. Reformadores, liberais, socialistas, democratas- cristãos, nos respectivos partidos, viram as novas gerações perderem a confiança nas suas promessas e nas suas concretizações, virarem-se para as forças populistas de protesto, cujo programa é ser contra qualquer forma de democracia, para um regresso ao autoritarismo totalitário, apoiado pelo russo Purin e pela americano Trump, e que constitui o real programa das extremas-direitas dos países europeus, cavalgando o protesto e a crise que a guerra da Ucrânia e as desigualdades sociais tem conduzido as jovens gerações licenciadas e os abandonados pelo sistema a uma rutura brutal com a partidocracia tradicional reinante, que substituiu na realidade a política dos direitos pela prática dos interesses. As ideologias foram abandonadas, o poder acumulado, a partilha entre eles ultrapassa as linhas vermelhas que distanciam as suas ideologias.
Há muito que as esquerdas alertam para as causas que originaram o avanço da extrema-direita e a indiferença das populações em relação aos partidos constituintes das democracias liberais. Dentro dos próprios , Manuel Alegre, um socialista histórico, em Memórias Minhas, em Março publicado, escreve. «Em França. Itália e noutros países os velhos bastiões da esquerda esvaziaram-se e, em breve, votariam na extrema-direita. Os partidos socialistas e sociais-democratas deixaram.se colonizar pelo neoliberalismo, aderiam a «terceira via» e, como várias vezes disse, há já muitos anos, corriam o risco de se tornarem historicamente desnecessários» (pg-300). E em 1996, no 23º aniversário do 25 de Abril, em discurso proferido na Assembleia da República, disse: «Passados 22 anos, é tempo de o 25 de Abril deixar de ser uma revolução envergonhada da sua própria vitória., Caiu o muro, ruíram os modelos, anunciou-se o fim da História, substituiu-se a teologia da revolução pela teologia do mercado.» … «aqui e na Europa, os socialistas têm pesada responsabilidade de dar uma nova resposta, à escala do continente, aos gravíssimos problemas sociais que são fruto da descolonização da Europa pelo ultraliberalismo. Aqui na Europa, é pela esquerda que tem de se dar corpo à esperança e de voltar a fazer da política, não apenas a gestão do que está, mas um instrumento de mudança da sociedade e da vida» (pg-305)
Palavras sábias, que as direcções do Partido Socialista varreram para debaixo do tapete dos salões do poder. Deixo-lhes a lembrança da leitura do livro dum grande poeta e socialista histórico para uma melhor compreensão do que quiseram ser e no que se transformaram.
Do rescaldo da festa à realidade da Europa - antómio mário santos
Opinião » 2024-06-11 » António Mário SantosVivemos, na Europa, tempos difíceis. As eleições europeias, que se desenrolarão no próximo domingo, podem apontar para o fim da União Europeia como hoje a conhecemos. O avanço da extrema direita, racista e xenófoba, na maioria dos países europeus, veio ressuscitar o velho problema das nacionalidades e das suas fronteiras, dos impérios coloniais arrumados nos armários da história, da milenária contenda entre a ciência e a fé, da economia neoliberal assente no conceito do Estado-Nação e nos direitos fundamentais da cidadania democrática.
Tempos que, assentes no individualismo egoísta do cada um que se amanhe, eu tenho direito a uma vida boa, os meus estudos dão-me direito à exigência, as desigualdades sociais e económicas são uma realidade indesmentível, a Europa para os Europeus, um Estado Mínimo numa economia liberal ao serviço dum sociedade cada vez mais estratificada, entre minorias privilegiadas e maiorias cada vez mais exploradas, se agrava com a violência e o ódio gerado por duas guerras, a invasão da Ucrânia pela Rússia a sonhar o refazer do antigo império russo, e no Médio Oriente, o genocídio palestiniano em Gaza e na ocupação por colonatos da Cisjordânia perpetrado pelo fundamentalismo sionista,
As forças políticas tradicionais que, do Mercado Comum, à actual União Europeia, foram perdendo terreno e , ainda que separadas por grupos políticos, na prática foram abandonando a escala dos direitos democráticos, como a saúde, habitação, educação, segurança social, direitos das mulheres, políticas do ambiente e das alterações climáticas, rendidas ao domínio do mercado, do predomínio privilegiado da banca s dos grupos económicos multinacionais. Reformadores, liberais, socialistas, democratas- cristãos, nos respectivos partidos, viram as novas gerações perderem a confiança nas suas promessas e nas suas concretizações, virarem-se para as forças populistas de protesto, cujo programa é ser contra qualquer forma de democracia, para um regresso ao autoritarismo totalitário, apoiado pelo russo Purin e pela americano Trump, e que constitui o real programa das extremas-direitas dos países europeus, cavalgando o protesto e a crise que a guerra da Ucrânia e as desigualdades sociais tem conduzido as jovens gerações licenciadas e os abandonados pelo sistema a uma rutura brutal com a partidocracia tradicional reinante, que substituiu na realidade a política dos direitos pela prática dos interesses. As ideologias foram abandonadas, o poder acumulado, a partilha entre eles ultrapassa as linhas vermelhas que distanciam as suas ideologias.
Há muito que as esquerdas alertam para as causas que originaram o avanço da extrema-direita e a indiferença das populações em relação aos partidos constituintes das democracias liberais. Dentro dos próprios , Manuel Alegre, um socialista histórico, em Memórias Minhas, em Março publicado, escreve. «Em França. Itália e noutros países os velhos bastiões da esquerda esvaziaram-se e, em breve, votariam na extrema-direita. Os partidos socialistas e sociais-democratas deixaram.se colonizar pelo neoliberalismo, aderiam a «terceira via» e, como várias vezes disse, há já muitos anos, corriam o risco de se tornarem historicamente desnecessários» (pg-300). E em 1996, no 23º aniversário do 25 de Abril, em discurso proferido na Assembleia da República, disse: «Passados 22 anos, é tempo de o 25 de Abril deixar de ser uma revolução envergonhada da sua própria vitória., Caiu o muro, ruíram os modelos, anunciou-se o fim da História, substituiu-se a teologia da revolução pela teologia do mercado.» … «aqui e na Europa, os socialistas têm pesada responsabilidade de dar uma nova resposta, à escala do continente, aos gravíssimos problemas sociais que são fruto da descolonização da Europa pelo ultraliberalismo. Aqui na Europa, é pela esquerda que tem de se dar corpo à esperança e de voltar a fazer da política, não apenas a gestão do que está, mas um instrumento de mudança da sociedade e da vida» (pg-305)
Palavras sábias, que as direcções do Partido Socialista varreram para debaixo do tapete dos salões do poder. Deixo-lhes a lembrança da leitura do livro dum grande poeta e socialista histórico para uma melhor compreensão do que quiseram ser e no que se transformaram.
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