Os velhos e os fracos - jorge carreira maia
"Quando nem a religião nem a moral são suficientes para que os indivíduos percebam o dano que condutas irresponsáveis provocam, só resta a violência"
É plausível afirmar que o corpo político, ao contrário do que aconteceu na primeira vaga da pandemia, não tem estado feliz na actual situação. Refiro-me ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro e aos dirigentes das várias oposições. Todos eles não viram, ou não quiseram ver, que os portugueses, passado o medo inicial, iriam complicar as coisas e tomar o vírus como coisa sem importância. Não sei, todavia, se os esforços conjuntos de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Rui Rio, como principal líder da oposição, mesmo sem os sinais contraditórios dados, seriam suficientes para impor aos portugueses, de forma mais musculada, outro tipo de comportamentos.
Há um problema que perpassa na forma como parte da população passou a lidar com o assunto. O vírus não é tão mortal como dizem. Mata alguns velhos e, entre os mais novos, só é problemático para os que sofrem de algumas doenças, isto é, os mais fracos. É isto que, apesar de falso e imoral, está na cabeça de muita gente, que acha que o determinado pelo poder político é apenas facultativo e um embaraço que não se deve tomar em consideração. Trata-se de uma forma de selecção natural e, por isso, justa. Eu que estou no vigor da vida – pensam – não tenho de ser cerceado nos direitos por causa de velhos e fracos. Tenho direito de facto, mesmo que contrarie a lei, a fazer o Natal e a passagem de ano como bem me aprouver, assim como conduzir a vida como entender. Mesmo que estas ideias não tivessem sido formuladas explicitamente por muitos dos que infringiram recomendações e leis, elas estavam lá a soprar-lhes aos ouvidos.
Isto mostra como faliram nas sociedades contemporâneas conceitos como de próximo ou de dever para com os outros. A secularização da sociedade portuguesa, composta em grande parte por católicos não praticantes, conduziu a que se deixasse de ter disponível a ideia de amor ao próximo como guia dos comportamentos. Por outro lado, a ideia de dever para com o outro, uma forma laica de impor uma moral do respeito, não encontrou espaço para florescer, num ambiente marcado pela cultura do eu e dos seus interesses e prazeres. Ora quando nem a religião nem a moral são suficientes para que os indivíduos percebam o dano que condutas irresponsáveis provocam, só resta a violência legítima dos representantes do soberano, que em democracia é o povo. É para isso que serve, em primeiro lugar, o poder político, tornar a comunidade, segundo as regras do Estado de direito, um espaço seguro para todos, incluindo velhos e fracos. E isto tem falhado.
Os velhos e os fracos - jorge carreira maia
Quando nem a religião nem a moral são suficientes para que os indivíduos percebam o dano que condutas irresponsáveis provocam, só resta a violência
É plausível afirmar que o corpo político, ao contrário do que aconteceu na primeira vaga da pandemia, não tem estado feliz na actual situação. Refiro-me ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro e aos dirigentes das várias oposições. Todos eles não viram, ou não quiseram ver, que os portugueses, passado o medo inicial, iriam complicar as coisas e tomar o vírus como coisa sem importância. Não sei, todavia, se os esforços conjuntos de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Rui Rio, como principal líder da oposição, mesmo sem os sinais contraditórios dados, seriam suficientes para impor aos portugueses, de forma mais musculada, outro tipo de comportamentos.
Há um problema que perpassa na forma como parte da população passou a lidar com o assunto. O vírus não é tão mortal como dizem. Mata alguns velhos e, entre os mais novos, só é problemático para os que sofrem de algumas doenças, isto é, os mais fracos. É isto que, apesar de falso e imoral, está na cabeça de muita gente, que acha que o determinado pelo poder político é apenas facultativo e um embaraço que não se deve tomar em consideração. Trata-se de uma forma de selecção natural e, por isso, justa. Eu que estou no vigor da vida – pensam – não tenho de ser cerceado nos direitos por causa de velhos e fracos. Tenho direito de facto, mesmo que contrarie a lei, a fazer o Natal e a passagem de ano como bem me aprouver, assim como conduzir a vida como entender. Mesmo que estas ideias não tivessem sido formuladas explicitamente por muitos dos que infringiram recomendações e leis, elas estavam lá a soprar-lhes aos ouvidos.
Isto mostra como faliram nas sociedades contemporâneas conceitos como de próximo ou de dever para com os outros. A secularização da sociedade portuguesa, composta em grande parte por católicos não praticantes, conduziu a que se deixasse de ter disponível a ideia de amor ao próximo como guia dos comportamentos. Por outro lado, a ideia de dever para com o outro, uma forma laica de impor uma moral do respeito, não encontrou espaço para florescer, num ambiente marcado pela cultura do eu e dos seus interesses e prazeres. Ora quando nem a religião nem a moral são suficientes para que os indivíduos percebam o dano que condutas irresponsáveis provocam, só resta a violência legítima dos representantes do soberano, que em democracia é o povo. É para isso que serve, em primeiro lugar, o poder político, tornar a comunidade, segundo as regras do Estado de direito, um espaço seguro para todos, incluindo velhos e fracos. E isto tem falhado.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |