O drama dos partidos de poder
Opinião » 2018-12-07 » Jorge Carreira Maia"O poder para PSD e PS não é um instrumento, mas o fim em si mesmo, adaptando-se à volubilidade do eleitorado, na ânsia de encontrar maiorias absolutas."
A crise em que se arrasta o principal partido da oposição, o PSD, é sintomática da natureza dos partidos de poder em Portugal. São fortes e sólidos quando estão no poder; são frágeis e à beira da desagregação quando a governação lhes foge. Também nisto, o PSD e o PS são partidos irmãos. Quando estão no poder, a distribuição de lugares serena os ímpetos dos barões, sossega os ardores das bases e aquieta os rompantes dos caciques locais, aqueles que, na verdade, mantêm o partido vivo nos piores momentos.
Enquanto esteve no poder com Passos Coelho, o PSD dava a imagem de um partido pronto para todos os combates, falava com voz tonitruante e dava a ideia de ser uma espécie de dono político do país. Por seu lado, o PS vivia em guerra civil, que conduziu ao homicídio político de António José Seguro, o que não foi suficiente para António Costa ganhar as eleições. O que perdeu o PSD e salvou o PS foi a aritmética esquerda – direita, a qual, pela primeira vez, gerou um governo, ainda por cima estável. No entanto, não nos devemos iludir. Nem o PSD está à beira do fim, nem o PS está sólido e saudável. O que se passa é que o PSD está fora do poder e o PS, dentro. Basta que a ocupação do poder mude, para que o drama que atinge o PSD seja transferido para o PS.
Isto diz muito da natureza destes dois partidos, os quais nunca tiveram princípios ideológicos reais. O PSD, um partido do centro-direita e da direita, adoptou, por oportunismo político, uma designação de esquerda (sim, a social-democracia é de esquerda). Por seu lado, o PS, contrariamente aos seus irmãos estrangeiros, não tem qualquer ligação ao movimento reformista das classes trabalhadoras. É uma organização assente nas profissões liberais, por vezes com laivos de jacobinismo oratório, sem um contacto real com as velhas tradições da social-democracia europeia. Em momentos mais exaltados fala em socialismo democrático, apenas como efeito retórico.
Os dois principais partidos portugueses são, deste modo, organizações cimentadas apenas pelo poder. O poder para PSD e PS não é um instrumento, mas o fim em si mesmo, adaptando-se à volubilidade do eleitorado, na ânsia de encontrar maiorias absolutas. Em caso de ausência dessa maioria, ambos recorrem a alianças que os mantenham no comando do país, para que bases, caciques e barões durmam tranquilos e, se possível, gratos. O facto dos dois principais partidos portugueses não possuírem, no seu núcleo, uma tradição política real, torna-os, dramaticamente, vulneráveis quando estão na oposição, e é um factor de fragilização da democracia portuguesa.
O drama dos partidos de poder
Opinião » 2018-12-07 » Jorge Carreira MaiaO poder para PSD e PS não é um instrumento, mas o fim em si mesmo, adaptando-se à volubilidade do eleitorado, na ânsia de encontrar maiorias absolutas.
A crise em que se arrasta o principal partido da oposição, o PSD, é sintomática da natureza dos partidos de poder em Portugal. São fortes e sólidos quando estão no poder; são frágeis e à beira da desagregação quando a governação lhes foge. Também nisto, o PSD e o PS são partidos irmãos. Quando estão no poder, a distribuição de lugares serena os ímpetos dos barões, sossega os ardores das bases e aquieta os rompantes dos caciques locais, aqueles que, na verdade, mantêm o partido vivo nos piores momentos.
Enquanto esteve no poder com Passos Coelho, o PSD dava a imagem de um partido pronto para todos os combates, falava com voz tonitruante e dava a ideia de ser uma espécie de dono político do país. Por seu lado, o PS vivia em guerra civil, que conduziu ao homicídio político de António José Seguro, o que não foi suficiente para António Costa ganhar as eleições. O que perdeu o PSD e salvou o PS foi a aritmética esquerda – direita, a qual, pela primeira vez, gerou um governo, ainda por cima estável. No entanto, não nos devemos iludir. Nem o PSD está à beira do fim, nem o PS está sólido e saudável. O que se passa é que o PSD está fora do poder e o PS, dentro. Basta que a ocupação do poder mude, para que o drama que atinge o PSD seja transferido para o PS.
Isto diz muito da natureza destes dois partidos, os quais nunca tiveram princípios ideológicos reais. O PSD, um partido do centro-direita e da direita, adoptou, por oportunismo político, uma designação de esquerda (sim, a social-democracia é de esquerda). Por seu lado, o PS, contrariamente aos seus irmãos estrangeiros, não tem qualquer ligação ao movimento reformista das classes trabalhadoras. É uma organização assente nas profissões liberais, por vezes com laivos de jacobinismo oratório, sem um contacto real com as velhas tradições da social-democracia europeia. Em momentos mais exaltados fala em socialismo democrático, apenas como efeito retórico.
Os dois principais partidos portugueses são, deste modo, organizações cimentadas apenas pelo poder. O poder para PSD e PS não é um instrumento, mas o fim em si mesmo, adaptando-se à volubilidade do eleitorado, na ânsia de encontrar maiorias absolutas. Em caso de ausência dessa maioria, ambos recorrem a alianças que os mantenham no comando do país, para que bases, caciques e barões durmam tranquilos e, se possível, gratos. O facto dos dois principais partidos portugueses não possuírem, no seu núcleo, uma tradição política real, torna-os, dramaticamente, vulneráveis quando estão na oposição, e é um factor de fragilização da democracia portuguesa.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |