O futebol e o radicalismo de direita - jorge carreira maia
Opinião » 2024-06-23 » Jorge Carreira Maia
Decorre o Europeu de futebol, hora em que o fervor nacionalista se exalta. O futebol, na sua dimensão industrial, foi colonizado por perspectivas ideológicas que fomentam, na consciência dos adeptos, uma visão do mundo muito específica. Essa visão associa três ideias centrais. Por um lado, a ideia de competição. Por outro a ideia de mérito. Por fim, a ideia de pertença à tribo e à nação. Quem defende valores racionais na convivência humana e regimes políticos demo-liberais está espantado e preocupado pela emergência da extrema-direita e da direita radical. Não se interroga, porém, como o desporto de alta competição, no caso da Europa e de parte do mundo, o futebol, foi fundamental para difundir um conjunto de crenças que facilitaram a adesão a essas visões ideológicas. Embora, há décadas, nos campos de futebol, existam sinais claros disso.
A indústria do futebol propaga uma visão da vida que se alinha com o neoliberalismo e o tribalismo nacional. Dois dos elementos centrais dessa indústria são a competição, como se se estivesse num mercado, e o mérito. Só os melhores têm lugar nos sítios onde se é muito bem pago. A relação entre essa visão do futebol de alta competição e as nossas sociedades é tão clara que não vale a pena explicá-la. Um terceiro elemento da indústria do futebol é a emoção do adepto. Não a emoção estética de um grande golo ou de uma bela jogada, mas o orgulho de derrotar os adversários, de os humilhar, de mostrar que somos ontologicamente superiores, super-homens, enquanto os outros são sub-humanos. Isto manifesta-se no clubismo e, ao nível de selecções, no nacionalismo. O nacionalismo, durante muito tempo na Europa, apenas subsistiu no futebol, onde era cultuado ao extremo.
Apesar de parte da extrema-direita actual se apresentar com programas economicamente antiliberais, outra parte combina o radicalismo libertário na economia com o tribalismo nacionalista. Contudo, mesmo essas direitas que, aparentemente, querem limitar a concorrência do mercado, apenas o fazem em nome da concorrência entre tribos, entre nós e os outros. A progressão dessas direitas extremadas e radicais encontrou, nas consciências das pessoas, uma visão do mundo, formatada, durante décadas, pela indústria do futebol. Parte da população tinha a consciência disponível para acolher aquele tipo de ideologia. Não é um acaso que a liderança portuguesa desses sectores ideológicos tenha vindo do exaltado comentário futebolístico. O futebol é um belo jogo, mas a indústria do futebol, onde pertencem os campeonatos de selecções, não é ideologicamente neutra e, muito menos, pura. Bons jogos.
O futebol e o radicalismo de direita - jorge carreira maia
Opinião » 2024-06-23 » Jorge Carreira Maia
Decorre o Europeu de futebol, hora em que o fervor nacionalista se exalta. O futebol, na sua dimensão industrial, foi colonizado por perspectivas ideológicas que fomentam, na consciência dos adeptos, uma visão do mundo muito específica. Essa visão associa três ideias centrais. Por um lado, a ideia de competição. Por outro a ideia de mérito. Por fim, a ideia de pertença à tribo e à nação. Quem defende valores racionais na convivência humana e regimes políticos demo-liberais está espantado e preocupado pela emergência da extrema-direita e da direita radical. Não se interroga, porém, como o desporto de alta competição, no caso da Europa e de parte do mundo, o futebol, foi fundamental para difundir um conjunto de crenças que facilitaram a adesão a essas visões ideológicas. Embora, há décadas, nos campos de futebol, existam sinais claros disso.
A indústria do futebol propaga uma visão da vida que se alinha com o neoliberalismo e o tribalismo nacional. Dois dos elementos centrais dessa indústria são a competição, como se se estivesse num mercado, e o mérito. Só os melhores têm lugar nos sítios onde se é muito bem pago. A relação entre essa visão do futebol de alta competição e as nossas sociedades é tão clara que não vale a pena explicá-la. Um terceiro elemento da indústria do futebol é a emoção do adepto. Não a emoção estética de um grande golo ou de uma bela jogada, mas o orgulho de derrotar os adversários, de os humilhar, de mostrar que somos ontologicamente superiores, super-homens, enquanto os outros são sub-humanos. Isto manifesta-se no clubismo e, ao nível de selecções, no nacionalismo. O nacionalismo, durante muito tempo na Europa, apenas subsistiu no futebol, onde era cultuado ao extremo.
Apesar de parte da extrema-direita actual se apresentar com programas economicamente antiliberais, outra parte combina o radicalismo libertário na economia com o tribalismo nacionalista. Contudo, mesmo essas direitas que, aparentemente, querem limitar a concorrência do mercado, apenas o fazem em nome da concorrência entre tribos, entre nós e os outros. A progressão dessas direitas extremadas e radicais encontrou, nas consciências das pessoas, uma visão do mundo, formatada, durante décadas, pela indústria do futebol. Parte da população tinha a consciência disponível para acolher aquele tipo de ideologia. Não é um acaso que a liderança portuguesa desses sectores ideológicos tenha vindo do exaltado comentário futebolístico. O futebol é um belo jogo, mas a indústria do futebol, onde pertencem os campeonatos de selecções, não é ideologicamente neutra e, muito menos, pura. Bons jogos.
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