Jornal, virtual, viral
Entre 1992 e 1996 tive uma crónica semanal no jornal Público, na sua edição dominical. As cónicas que ali escrevi ganharam – não gosto de falsas modéstias – alguma aceitação e relevo. Sei porquê. Em primeiro lugar pelo estilo e pela retórica. Nunca gostei de escrever ”à portuguesa”, num grande relambório de frases complicadas, invocando uma qualquer autoridade aristocrática das elites letradas. Se Miguel Esteves Cardoso já tinha inaugurado um estilo novo de escrita de opinião, eu recorri a algo de semelhante, mas aplicado a outros temas. E essa é a segunda razã escrever sobre política, escrever sobre o pequeno quotidiano (a partir de um olhar de antropólogo, até) e, sobretudo, escrever sobre género e sexualidade, com um tom e um estilo despreocupado, direto, sem autocensura e a partir de uma pulsão de liberdade, de recusa visceral do mofo e do bafio nacionais, resultou.
Mas eis que em 1996 uma reestruturação naquele jornal levou à cessação da minha colaboração – em circunstâncias aliás desagradáveis. Percebo hoje que foi o sinal do que aí vinha: uma espécie de liberalização geral de tudo que, na comunicação social, passaria pelo triunfo do negócio sobre a informação, da defesa de interesses sobre a pluralidade. O espaço para o intelectual público desaparecia, como o espaço para a busca de novas vozes, ambos substituídos pelos opinadores-funcionários, uma espécie de coleção de representantes de posicionamentos enquistados – nos partidos, nos interesses, e quase sempre puxando ao centro, um centro não só político, mas de consenso cultural.
Felizmente, nesse momento apareceu o uso generalizado da internet e durante muitos anos dedicar-me-ia a um blogue, depois de um breve período experimentando uma página pessoal. O tempo do boom dos blogues foi o tempo de uma curiosa democratização da opinião, mas operando em paralelo à comunicação social. Também aí houve, claro, ”transferências”, com algum bloguismo transitando para a opinião publicada autorizada e até mesmo para a política e a governação. Mais recentemente, o universo dos blogs esmoreceu e foi substituído em larga medida pelo Facebook. Toda uma outra coisa, claro, feita de redes de sociabilidade mais caóticas – no bom e no mau sentido -, que os blogues ainda funcionavam demasiado por ”tribos”. Aderi ao Facebook (não ao Twitter, que me parece parco e nervoso e sem possibilidade de verdadeira escrita), e muito, por ter percebido que ali – e ao contrário do que se pensa – não é preciso ficar prisioneiro da futilidade e do narcisismo. Pode-se criar a linguagem, tom, estilo e linha de conteúdo que se quiser, e assim substituir a crónica e o blogue. Mas sempre, e ainda, com a comunicação social funcionando em paralelo, em autarcia e isolamento.
Pelo caminho, o ”Torrejano”, justamente entre o ”Público” e o começo do blogue. Uma espécie de recusa, de auto-expulsão da capital do Império do Mal (o jornal de âmbito nacional), e antes de passar para o não-lugar internáutico e virtual de um blogue (e, mais tarde, o ”lugar viral” do Facebook). Alguém poderia ver isso, sobranceiramente, como um recuo, um refúgio, um remanso, um período nas termas ou na montanha mágica. Eu vi-o como um símbolo das sobreposições entre percurso individual e percurso de Portugal. Do jornal ao virtual ao viral, precisamos de opinião, em todas as frentes. E o jornal local ou regional tem esta característica extraordinária: o seu localismo impede-o de se perder no grande negócio de influências da imprensa nacional e permite-lhe ganhar características de rede e comunidade que só as redes sociais viriam a proporcionar às pessoas que, como eu, vivem sem uma geografia localizada e comunitária.
Jornal, virtual, viral
Entre 1992 e 1996 tive uma crónica semanal no jornal Público, na sua edição dominical. As cónicas que ali escrevi ganharam – não gosto de falsas modéstias – alguma aceitação e relevo. Sei porquê. Em primeiro lugar pelo estilo e pela retórica. Nunca gostei de escrever ”à portuguesa”, num grande relambório de frases complicadas, invocando uma qualquer autoridade aristocrática das elites letradas. Se Miguel Esteves Cardoso já tinha inaugurado um estilo novo de escrita de opinião, eu recorri a algo de semelhante, mas aplicado a outros temas. E essa é a segunda razã escrever sobre política, escrever sobre o pequeno quotidiano (a partir de um olhar de antropólogo, até) e, sobretudo, escrever sobre género e sexualidade, com um tom e um estilo despreocupado, direto, sem autocensura e a partir de uma pulsão de liberdade, de recusa visceral do mofo e do bafio nacionais, resultou.
Mas eis que em 1996 uma reestruturação naquele jornal levou à cessação da minha colaboração – em circunstâncias aliás desagradáveis. Percebo hoje que foi o sinal do que aí vinha: uma espécie de liberalização geral de tudo que, na comunicação social, passaria pelo triunfo do negócio sobre a informação, da defesa de interesses sobre a pluralidade. O espaço para o intelectual público desaparecia, como o espaço para a busca de novas vozes, ambos substituídos pelos opinadores-funcionários, uma espécie de coleção de representantes de posicionamentos enquistados – nos partidos, nos interesses, e quase sempre puxando ao centro, um centro não só político, mas de consenso cultural.
Felizmente, nesse momento apareceu o uso generalizado da internet e durante muitos anos dedicar-me-ia a um blogue, depois de um breve período experimentando uma página pessoal. O tempo do boom dos blogues foi o tempo de uma curiosa democratização da opinião, mas operando em paralelo à comunicação social. Também aí houve, claro, ”transferências”, com algum bloguismo transitando para a opinião publicada autorizada e até mesmo para a política e a governação. Mais recentemente, o universo dos blogs esmoreceu e foi substituído em larga medida pelo Facebook. Toda uma outra coisa, claro, feita de redes de sociabilidade mais caóticas – no bom e no mau sentido -, que os blogues ainda funcionavam demasiado por ”tribos”. Aderi ao Facebook (não ao Twitter, que me parece parco e nervoso e sem possibilidade de verdadeira escrita), e muito, por ter percebido que ali – e ao contrário do que se pensa – não é preciso ficar prisioneiro da futilidade e do narcisismo. Pode-se criar a linguagem, tom, estilo e linha de conteúdo que se quiser, e assim substituir a crónica e o blogue. Mas sempre, e ainda, com a comunicação social funcionando em paralelo, em autarcia e isolamento.
Pelo caminho, o ”Torrejano”, justamente entre o ”Público” e o começo do blogue. Uma espécie de recusa, de auto-expulsão da capital do Império do Mal (o jornal de âmbito nacional), e antes de passar para o não-lugar internáutico e virtual de um blogue (e, mais tarde, o ”lugar viral” do Facebook). Alguém poderia ver isso, sobranceiramente, como um recuo, um refúgio, um remanso, um período nas termas ou na montanha mágica. Eu vi-o como um símbolo das sobreposições entre percurso individual e percurso de Portugal. Do jornal ao virtual ao viral, precisamos de opinião, em todas as frentes. E o jornal local ou regional tem esta característica extraordinária: o seu localismo impede-o de se perder no grande negócio de influências da imprensa nacional e permite-lhe ganhar características de rede e comunidade que só as redes sociais viriam a proporcionar às pessoas que, como eu, vivem sem uma geografia localizada e comunitária.
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Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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