A histeria e a hipocrisia
O ébola não é coisa nova. O vírus foi descoberto há 38 anos, precisamente em 1976, por uma equipa do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia. Nunca ninguém quis saber das consequências deste vírus mortal que ataca há décadas. Até que há alguns meses o vírus nos bateu à porta.
Gerou-se uma sensação de catástrofe mundial, numa cena digna de ser apresentada ao mundo pelo nosso Artur Albarran, que ficará para sempre gravado nas nossas memórias pela introdução fatalista com que nos apresentava as suas reportagens: ”o drama, a tragédia, o horror”.
E com este som de fundo fomos formatados para uma coisa que não existe: uma pandemia global. Não existe. Não quero exagerar ao ponto de afirmar que foi tudo um golpe de marketing, ao nível da Gripe A, mas há claramente um aproveitamento diss nas vendas de material hospitalar, na comercialização de produtos higiénicos e até – imaginem! – na venda de peluches com a forma do vírus. Existe um vírus mortal com quatro décadas que se espalhou além das fronteiras habituais, e foi isto que nos assustou. Porque estamos habituados ao nosso conforto e no hemisfério norte há este comodismo conveniente de vivermos bem com o mal do hemisfério sul.
O caos tem a particularidade de gerar mais caos. É contra producente. Apenas favorece, precisamente, quem espalha o caos. O pináculo desta histeria global teve os nossos vizinhos espanhóis como protagonistas. Quando se confirmou o contágio da enfermeira Teresa Romero as autoridades acharam por bem internar o seu marido e… assassinar o seu cão. Recuso-me a usar o termo abater porque esse usa-se em casos extremos e para poupar o animal a maior sofrimento. Uma espécie de eutanásia. Tudo o resto é um assassínio. O cão da enfermeira, de seu nome Excalibur, foi assassinado porque sim. Porque o homem acha-se superior a todas as outras espécies e revela um total desprezo e hipocrisia por aquilo que pode transtornar o seu conforto. O tiro que matou o Excalibur foi um tiro na nossa dignidade, foi a prova de que damos valor residual à condição animal, por mais leis e decretos que disfarcem essa evidência.
Por último, a hipocrisia.
Como referi, esta doença é familiar às autoridades mundiais desde 1976. Uma vida, portanto. Muitas outras vidas foram perdidas enquanto sacudimos por cima do ombro aquilo que não queremos ver.
Em quase quarenta anos desta doença registaram-se milhares de mortes em África e nunca ninguém quis saber. Nunca ninguém investiu para procurar uma cura, não eram enviados medicamentos experimentais para teste nem se geravam campanhas de solidariedade. Meia-dúzia de pessoas não-africanas foram infectadas e o mundo entra numa espécie de cataclismo sem retorno. E, dessas pessoas não-africanas infectadas, nenhuma morreu por uma eficaz actuação das autoridades. Esclarecedor, correcto?
Entretanto, em Portugal, com o aparecimento do vírus legionella parece que o ébola deixou de ser um problema mediático. A questão de fundo é esta: ou é um problema grave, ou não é. Se deixou repentinamente de ser uma preocupação, é porque não é um problema grave.
A certeza que fica de tudo isto é que o vírus mundial mais fácil de propagar é o da estupidez humana no espaço mediático, sobretudo quando as pessoas não se questionam e assumem tudo o que ouvem como factual.
A histeria e a hipocrisia
O ébola não é coisa nova. O vírus foi descoberto há 38 anos, precisamente em 1976, por uma equipa do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia. Nunca ninguém quis saber das consequências deste vírus mortal que ataca há décadas. Até que há alguns meses o vírus nos bateu à porta.
Gerou-se uma sensação de catástrofe mundial, numa cena digna de ser apresentada ao mundo pelo nosso Artur Albarran, que ficará para sempre gravado nas nossas memórias pela introdução fatalista com que nos apresentava as suas reportagens: ”o drama, a tragédia, o horror”.
E com este som de fundo fomos formatados para uma coisa que não existe: uma pandemia global. Não existe. Não quero exagerar ao ponto de afirmar que foi tudo um golpe de marketing, ao nível da Gripe A, mas há claramente um aproveitamento diss nas vendas de material hospitalar, na comercialização de produtos higiénicos e até – imaginem! – na venda de peluches com a forma do vírus. Existe um vírus mortal com quatro décadas que se espalhou além das fronteiras habituais, e foi isto que nos assustou. Porque estamos habituados ao nosso conforto e no hemisfério norte há este comodismo conveniente de vivermos bem com o mal do hemisfério sul.
O caos tem a particularidade de gerar mais caos. É contra producente. Apenas favorece, precisamente, quem espalha o caos. O pináculo desta histeria global teve os nossos vizinhos espanhóis como protagonistas. Quando se confirmou o contágio da enfermeira Teresa Romero as autoridades acharam por bem internar o seu marido e… assassinar o seu cão. Recuso-me a usar o termo abater porque esse usa-se em casos extremos e para poupar o animal a maior sofrimento. Uma espécie de eutanásia. Tudo o resto é um assassínio. O cão da enfermeira, de seu nome Excalibur, foi assassinado porque sim. Porque o homem acha-se superior a todas as outras espécies e revela um total desprezo e hipocrisia por aquilo que pode transtornar o seu conforto. O tiro que matou o Excalibur foi um tiro na nossa dignidade, foi a prova de que damos valor residual à condição animal, por mais leis e decretos que disfarcem essa evidência.
Por último, a hipocrisia.
Como referi, esta doença é familiar às autoridades mundiais desde 1976. Uma vida, portanto. Muitas outras vidas foram perdidas enquanto sacudimos por cima do ombro aquilo que não queremos ver.
Em quase quarenta anos desta doença registaram-se milhares de mortes em África e nunca ninguém quis saber. Nunca ninguém investiu para procurar uma cura, não eram enviados medicamentos experimentais para teste nem se geravam campanhas de solidariedade. Meia-dúzia de pessoas não-africanas foram infectadas e o mundo entra numa espécie de cataclismo sem retorno. E, dessas pessoas não-africanas infectadas, nenhuma morreu por uma eficaz actuação das autoridades. Esclarecedor, correcto?
Entretanto, em Portugal, com o aparecimento do vírus legionella parece que o ébola deixou de ser um problema mediático. A questão de fundo é esta: ou é um problema grave, ou não é. Se deixou repentinamente de ser uma preocupação, é porque não é um problema grave.
A certeza que fica de tudo isto é que o vírus mundial mais fácil de propagar é o da estupidez humana no espaço mediático, sobretudo quando as pessoas não se questionam e assumem tudo o que ouvem como factual.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |