A doença das democracias liberais
"É possível que estejamos a entrar numa fase de persistente retracção dos valores democráticos. O mais preocupante é que parece haver pouca capacidade para deter esta onde de irracionalidade. "
Em curta entrevista concedida este ano ao Estadão de S. Paulo, o cientista político Yascha Mounk, especialista na crise das democracias liberais, afirmava temer que não se esteja perante um mero episódio de populismo, mas a entrar numa era populista. Os líderes populistas ocupam já parte significativa dos governos em países ocidentais e quando os eleitores percebem que esse tipo de políticos é bem pior que os tradicionais, não volta às opções moderadas mas opta por populistas ainda mais radicais.
O romancista Amós Oz oferece duas razões plausíveis para a emergência desta crise universal das democracias. Uma primeira é a redução da política ao entretenimento. As pessoas votam porque querem divertir-se, excitar-se, querem novidade e escândalo, desligando o voto daquilo que vem a seguir. Se aceitarmos o argumento de Oz, podemos procurar as fontes que promoveram o entretenimento a factor cultural determinante das condutas políticas. A televisão e as redes sociais são uma dessas fontes, pois transformaram tudo em entretenimento, tornando-o no modelo da vida social. Outra vem da própria educação e da retórica contínua que a visa modernizar, substituindo o esforço e a superação pela busca de prazeres fáceis e recompensas imediatas, isto é, pelo entretenimento.
Uma segunda ideia do escritor israelita prende-se com a grande complexidade do mundo actual. A globalização ou a questão climática, por exemplo, são de tal maneira intrincadas que os eleitores não as compreendem. Os níveis de literacia do cidadão médio são insuficientes para lidar com a sociedade em que vive. A consequência é a eleição de políticos que oferecem soluções simples. Por norma, esses políticos escolhem um bode expiatório e acusam-no de todos os males que atormentam as pessoas. Esta mentira é agradável aos eleitores e estes, sem instrumentos para pensar e avaliar a realidade, optam pelo mais fácil e o que lhes parece mais agradável.
É possível que estejamos a entrar numa fase de persistente retracção dos valores democráticos. O mais preocupante é que parece haver pouca capacidade para deter esta onde de irracionalidade. Assistimos a um teste dos mais difíceis que se podem colocar às democracias representativas. Serem vítimas já não de golpes militares ou revoluções, mas dos seus próprios resultados. Os eleitores escolhem democraticamente aqueles que pervertem ou perverterão os regimes democráticos, como se o conjunto de direitos civis e políticos que estes regimes asseguram fossem irrelevâncias que se podem dispensar.
A doença das democracias liberais
É possível que estejamos a entrar numa fase de persistente retracção dos valores democráticos. O mais preocupante é que parece haver pouca capacidade para deter esta onde de irracionalidade.
Em curta entrevista concedida este ano ao Estadão de S. Paulo, o cientista político Yascha Mounk, especialista na crise das democracias liberais, afirmava temer que não se esteja perante um mero episódio de populismo, mas a entrar numa era populista. Os líderes populistas ocupam já parte significativa dos governos em países ocidentais e quando os eleitores percebem que esse tipo de políticos é bem pior que os tradicionais, não volta às opções moderadas mas opta por populistas ainda mais radicais.
O romancista Amós Oz oferece duas razões plausíveis para a emergência desta crise universal das democracias. Uma primeira é a redução da política ao entretenimento. As pessoas votam porque querem divertir-se, excitar-se, querem novidade e escândalo, desligando o voto daquilo que vem a seguir. Se aceitarmos o argumento de Oz, podemos procurar as fontes que promoveram o entretenimento a factor cultural determinante das condutas políticas. A televisão e as redes sociais são uma dessas fontes, pois transformaram tudo em entretenimento, tornando-o no modelo da vida social. Outra vem da própria educação e da retórica contínua que a visa modernizar, substituindo o esforço e a superação pela busca de prazeres fáceis e recompensas imediatas, isto é, pelo entretenimento.
Uma segunda ideia do escritor israelita prende-se com a grande complexidade do mundo actual. A globalização ou a questão climática, por exemplo, são de tal maneira intrincadas que os eleitores não as compreendem. Os níveis de literacia do cidadão médio são insuficientes para lidar com a sociedade em que vive. A consequência é a eleição de políticos que oferecem soluções simples. Por norma, esses políticos escolhem um bode expiatório e acusam-no de todos os males que atormentam as pessoas. Esta mentira é agradável aos eleitores e estes, sem instrumentos para pensar e avaliar a realidade, optam pelo mais fácil e o que lhes parece mais agradável.
É possível que estejamos a entrar numa fase de persistente retracção dos valores democráticos. O mais preocupante é que parece haver pouca capacidade para deter esta onde de irracionalidade. Assistimos a um teste dos mais difíceis que se podem colocar às democracias representativas. Serem vítimas já não de golpes militares ou revoluções, mas dos seus próprios resultados. Os eleitores escolhem democraticamente aqueles que pervertem ou perverterão os regimes democráticos, como se o conjunto de direitos civis e políticos que estes regimes asseguram fossem irrelevâncias que se podem dispensar.
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![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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