Comemorações e efemérides - antónio mário santos
"“O cinquentenário deixa-me a sensação de que o que se vai promover é um suspiro de alívio por a Liberdade ter durado tanto."
A minha costela de investigador de história, sempre sensível às efemérides e suas comemorações, ante o uso e abuso que delas fazem as estruturas dos poderes (sempre interligadas e cada uma per si a procurar o seu poleiro próprio), coloca-me numa posição de inconformismo céptico.
O caso recente, da Jornada Mundial da Juventude, com bispos, presidentes de Câmara, primeiro-ministro, presidente da República, todos em bicos dos pés para a fotografia da celebridade e do proveito, foi um dos exemplos magníficos desse abuso de aproveitamento dum turismo religioso, sob bênção papal, com nenhuns resultados visíveis de melhoria da qualidade de vida da juventude portuguesa, obrigada, por necessidade de uma vida digna, ao abandono da sua própria pátria.
Um próximo, o cinquentenário do 25 de Abril em 2024, deixa-me a sensação de que o que se vai promover é um suspiro de alívio por a Liberdade ter durado tanto. Não creio que os promotores revelem a frustração nacional de, em cinco décadas, se ter atabalhoadamente resolvido, dos três Dês do programa revolucionário do MFA, mal o Democratizar, razoavelmente o Descolonizar, tendo ficado por cumprir o Desenvolver.
Pessoalmente, sou dos que, passados quase cinquenta anos, continua a denunciar que a revolução, de forma astuta, foi abocanhada pelos que, instantâneos, puseram o cravo vermelho na lapela, de imediato se crustaciaram aos poderes do Estado, da Economia e da Sociedade, de braço dado com as famílias que, no fascismo, eram o seu suporte.
Cresceu, pandemicamente, uma chusma de mandíbulas orquestradas que, liberais por iniciação e segredo, capitalistas por intenção, entre si partilharam o que havia a partilhar, mantendo as desigualdades entre capital e trabalho, alargando cada vez mais o fosso entre o direito a uma vida decente e o espectro cada vez mais sombrio da sobrevivência da sociedade portuguesa.
Somos hoje, como há 50 anos, um país dos três efes, com uma informação livre, mas pouco, dominada pelo poder político ou financeiro ou por eles perseguida e silenciada, mentalizado para um individualismo e um egoísmo destruidor de qualquer tipo de solidariedade e do activismo colectivo.
Cinquenta anos depois, continuamos na cauda da Europa, sob a governança de elites cada vez mais conjugadas na defesa dos seus interesses, sufragadas por um povo aliterato e individualista, que coloca o seu voto em quem perpetua as desigualdades económicas e sociais, num masoquismo sempre insatisfeito, misto de resignação e de messianismo.
Localmente, a comemoração dos 130 anos do nascimento da escritora Maria Lamas, com celebrações diversas em 2023 e 2024 deixa-me, em simultâneo, interessado e inquieto. Não pela figura, que ultrapassou, durante a sua vida, em importância e prestígio, o local onde nasceu e à qual, ligada por relações sentimentais, deu o seu contributo, de forma esporádica, nas décadas de trinta e quarenta, quer na imprensa local, quer como oradora. Mas pelas figuras locais que, durante o fascismo, por ela se bateram, pelas mulheres da sua terra que mantiveram o seu nome e o seu combate emancipador. Há um passado que, com o desaparecimento dos intervenientes, e com poucas fontes documentais a escrutinar, se sujeita a, mesmo de forma inconsciente, deturpações e erros.
Seria bom que o aniversário dos 130 anos do nascimento de Maria Lamas abrisse, em definitivo, as portas a uma investigação desse longo período da história concelhia. Maria Lamas, se viva, decerto o defenderia.
Comemorações e efemérides - antónio mário santos
“O cinquentenário deixa-me a sensação de que o que se vai promover é um suspiro de alívio por a Liberdade ter durado tanto.
A minha costela de investigador de história, sempre sensível às efemérides e suas comemorações, ante o uso e abuso que delas fazem as estruturas dos poderes (sempre interligadas e cada uma per si a procurar o seu poleiro próprio), coloca-me numa posição de inconformismo céptico.
O caso recente, da Jornada Mundial da Juventude, com bispos, presidentes de Câmara, primeiro-ministro, presidente da República, todos em bicos dos pés para a fotografia da celebridade e do proveito, foi um dos exemplos magníficos desse abuso de aproveitamento dum turismo religioso, sob bênção papal, com nenhuns resultados visíveis de melhoria da qualidade de vida da juventude portuguesa, obrigada, por necessidade de uma vida digna, ao abandono da sua própria pátria.
Um próximo, o cinquentenário do 25 de Abril em 2024, deixa-me a sensação de que o que se vai promover é um suspiro de alívio por a Liberdade ter durado tanto. Não creio que os promotores revelem a frustração nacional de, em cinco décadas, se ter atabalhoadamente resolvido, dos três Dês do programa revolucionário do MFA, mal o Democratizar, razoavelmente o Descolonizar, tendo ficado por cumprir o Desenvolver.
Pessoalmente, sou dos que, passados quase cinquenta anos, continua a denunciar que a revolução, de forma astuta, foi abocanhada pelos que, instantâneos, puseram o cravo vermelho na lapela, de imediato se crustaciaram aos poderes do Estado, da Economia e da Sociedade, de braço dado com as famílias que, no fascismo, eram o seu suporte.
Cresceu, pandemicamente, uma chusma de mandíbulas orquestradas que, liberais por iniciação e segredo, capitalistas por intenção, entre si partilharam o que havia a partilhar, mantendo as desigualdades entre capital e trabalho, alargando cada vez mais o fosso entre o direito a uma vida decente e o espectro cada vez mais sombrio da sobrevivência da sociedade portuguesa.
Somos hoje, como há 50 anos, um país dos três efes, com uma informação livre, mas pouco, dominada pelo poder político ou financeiro ou por eles perseguida e silenciada, mentalizado para um individualismo e um egoísmo destruidor de qualquer tipo de solidariedade e do activismo colectivo.
Cinquenta anos depois, continuamos na cauda da Europa, sob a governança de elites cada vez mais conjugadas na defesa dos seus interesses, sufragadas por um povo aliterato e individualista, que coloca o seu voto em quem perpetua as desigualdades económicas e sociais, num masoquismo sempre insatisfeito, misto de resignação e de messianismo.
Localmente, a comemoração dos 130 anos do nascimento da escritora Maria Lamas, com celebrações diversas em 2023 e 2024 deixa-me, em simultâneo, interessado e inquieto. Não pela figura, que ultrapassou, durante a sua vida, em importância e prestígio, o local onde nasceu e à qual, ligada por relações sentimentais, deu o seu contributo, de forma esporádica, nas décadas de trinta e quarenta, quer na imprensa local, quer como oradora. Mas pelas figuras locais que, durante o fascismo, por ela se bateram, pelas mulheres da sua terra que mantiveram o seu nome e o seu combate emancipador. Há um passado que, com o desaparecimento dos intervenientes, e com poucas fontes documentais a escrutinar, se sujeita a, mesmo de forma inconsciente, deturpações e erros.
Seria bom que o aniversário dos 130 anos do nascimento de Maria Lamas abrisse, em definitivo, as portas a uma investigação desse longo período da história concelhia. Maria Lamas, se viva, decerto o defenderia.
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
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» Hélder Dias
Entrevistador... |
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