Torres Novas, hoje, é um activo tóxico
Opinião » 2017-10-17 » Ana Sentieiro"A quem pode servir este pôr cidadãos contra cidadãos, onde todos nos vamos enredando, porque sentimos o cheiro e as consequências estão à vista de todos? "
Como é que o município pensa atrair investimento para as zonas industriais sem fazer o trabalho de casa primeiro? Vamos imaginar um cenário possível, que não agrada ao dono da Fabrióleo por razões que não vêm aqui ao caso - o da deslocalização da empresa para a zona industrial de Torres Novas: este cenário também não agrada à gestão da nossa câmara municipal e muito menos à empresa Águas do Ribatejo.
Este exercício servirá apenas para nos obrigar a repensar sobre o que o município foi protelando, ano após ano. Para onde seriam encaminhados estes resíduos industriais? Esta é uma pergunta lógica, pois é cruel entender o quanto deficitário é o concelho na forma como lida com as questões ambientais.
Claro que, para o município, é mais fácil este jogo do passa culpa. Os licenciamentos foram dados em que condições? Será que esta fábrica está toda legal? As suas obras foram licenciadas pela câmara municipal para poder trabalhar? Então, porquê o arrastar de pareceres, se está tudo legal? Alguma coisa não está a ser bem contada, ao ponto de as entidades que deviam zelar pelo interesse público, ano apôs ano, nos irem ludibriando, passando responsabilidades de secretaria para secretaria, quando afinal são elas parte do problema. E permitindo ao tribunal usar a ambiguidade das próprias normas, aquelas que o próprio Estado criou, afinal para salvar os prevaricadores.
A quem pode servir este pôr cidadãos contra cidadãos, onde todos nos vamos enredando, porque sentimos o cheiro e as consequências estão à vista de todos? A Fabrióleo é a ponta do iceberg, e infelizmente é a maior poluidora, mas não está sozinha. Nesta fase, aos torrejanos já pouco interessa quem é culpado, porque afinal o ditado popular por cá vai-se cumprindo: todos sabemos que a culpa vai morrer solteira, mas o que todos queremos é não ser um concelho apenas conhecido como o mais poluidor do País, onde todos os dias se cometem atentados ambientais com graves consequências para a saúde pública de todos nós e para o nosso ecossistema.
Para quando uma lista pública de todas as entidades públicas e privadas que estão a usar o rio e todos os outros cursos de água do concelho, para despejos de águas residuais? Era justo que todos nós tivéssemos acesso a esses dados.
Toda a zona limítrofe à ribeira do Serradinho e grande parte da Ribeira da Boa Água não têm acesso a tratamento de águas residuais domésticas, muito menos industriais.
Não pode haver dois pesos e duas medidas: a câmara, se licencia actividades industriais, tem de ser responsável e assegurar que essas empresas cumprem todos os requisitos legais inerentes ao seu funcionamento, ou então não lhe passa as licenças.
O que temos assistido à volta da poluição do rio Almonda e da poluição da Ribeira da Boa Água só revela um empurrar da culpa e uma total impunidade dos prevaricadores. Será que o Carreiro da Areia e populações limítrofes não têm problemas já suficientes para que a Águas do Ribatejo construa uma Etar que sirva as populações e as indústrias aí existentes?
Parece-me correcto, porque se eventualmente a Fabrióleo estivesse disposta a vir para a Zona industrial das Cotôas, e usar dos mesmos direitos que assistem, ou deveriam assistir às outras empresas aí sediadas, como é que a nossa gestão autárquica iria resolver esta situação, ou de outras empresas que se queiram instalar no concelho? Infelizmente, seria a transferência do caos e ficaria à vista de todos o que são as zonas industriais de Torres Novas.
Esgotos a céu aberto, como vemos frequentemente na valeta da zona industrial, não augurariam nada de bom, porque a Etar das Cotôas nunca teria capacidade para tratar as águas residuais da zona industrial. A Etar das Cotôas, a que está a servir a zona industrial de Torres Novas, está há muito tempo sub-dimensionada. Quando foi construída, não previa o aumento exponencial urbano da zona alta de Torres Novas, muito menos os resíduos industriais. Esta Etar ficou obsoleta e sem capacidade de resposta e assim continua.
Talvez seja a altura de pensarmos na intervenção da Águas do Ribatejo, que para quem não sabe é uma empresa constituída apenas com capitais públicos das autarquias envolvidas, criada para intervir no âmbito dos sistemas intermunicipais de abastecimento de água e de saneamento de concelhos da Lezíria do Tejo e outros, sendo uma empresa que diz ter por missão “um elevado sentido de responsabilidade na protecção do ambiente e consequente sustentabilidade ambiental”. Propõe-se, ainda, assegurar um serviço de excelência que garanta o fornecimento contínuo de água com qualidade e a drenagem e tratamento de águas residuais dos municípios abrangidos.
Está na hora de esta empresa alterar o deficiente funcionamento das estações de tratamento de águas residuais de Torres Novas e incluir outras zonas do concelho no leque dos seus investimentos públicos. Só este caminho pode tornar Torres Novas numa cidade atractiva e amiga do ambiente, onde empresas e famílias tenham um lugar e possam coabitar pacificamente. Cabe à autarquia ser justa e fazer opções que melhorem a vida de todos nós, mas também cabe a cada um de nós tornarmo-nos mais exigentes com o uso e prioridades que a câmara e as empresas municipais dão ao dinheiro público.
Torres Novas merece voltar a ser um concelho onde qualidade de vida e saúde pública andem de mãos dadas, onde uma boa gestão dos recursos hídricos nos permita construir e dignificar um futuro sustentável e onde os ecossistemas sejam respeitados e protegidos para as novas gerações.
Torres Novas, hoje, é um activo tóxico
Opinião » 2017-10-17 » Ana SentieiroA quem pode servir este pôr cidadãos contra cidadãos, onde todos nos vamos enredando, porque sentimos o cheiro e as consequências estão à vista de todos?
Como é que o município pensa atrair investimento para as zonas industriais sem fazer o trabalho de casa primeiro? Vamos imaginar um cenário possível, que não agrada ao dono da Fabrióleo por razões que não vêm aqui ao caso - o da deslocalização da empresa para a zona industrial de Torres Novas: este cenário também não agrada à gestão da nossa câmara municipal e muito menos à empresa Águas do Ribatejo.
Este exercício servirá apenas para nos obrigar a repensar sobre o que o município foi protelando, ano após ano. Para onde seriam encaminhados estes resíduos industriais? Esta é uma pergunta lógica, pois é cruel entender o quanto deficitário é o concelho na forma como lida com as questões ambientais.
Claro que, para o município, é mais fácil este jogo do passa culpa. Os licenciamentos foram dados em que condições? Será que esta fábrica está toda legal? As suas obras foram licenciadas pela câmara municipal para poder trabalhar? Então, porquê o arrastar de pareceres, se está tudo legal? Alguma coisa não está a ser bem contada, ao ponto de as entidades que deviam zelar pelo interesse público, ano apôs ano, nos irem ludibriando, passando responsabilidades de secretaria para secretaria, quando afinal são elas parte do problema. E permitindo ao tribunal usar a ambiguidade das próprias normas, aquelas que o próprio Estado criou, afinal para salvar os prevaricadores.
A quem pode servir este pôr cidadãos contra cidadãos, onde todos nos vamos enredando, porque sentimos o cheiro e as consequências estão à vista de todos? A Fabrióleo é a ponta do iceberg, e infelizmente é a maior poluidora, mas não está sozinha. Nesta fase, aos torrejanos já pouco interessa quem é culpado, porque afinal o ditado popular por cá vai-se cumprindo: todos sabemos que a culpa vai morrer solteira, mas o que todos queremos é não ser um concelho apenas conhecido como o mais poluidor do País, onde todos os dias se cometem atentados ambientais com graves consequências para a saúde pública de todos nós e para o nosso ecossistema.
Para quando uma lista pública de todas as entidades públicas e privadas que estão a usar o rio e todos os outros cursos de água do concelho, para despejos de águas residuais? Era justo que todos nós tivéssemos acesso a esses dados.
Toda a zona limítrofe à ribeira do Serradinho e grande parte da Ribeira da Boa Água não têm acesso a tratamento de águas residuais domésticas, muito menos industriais.
Não pode haver dois pesos e duas medidas: a câmara, se licencia actividades industriais, tem de ser responsável e assegurar que essas empresas cumprem todos os requisitos legais inerentes ao seu funcionamento, ou então não lhe passa as licenças.
O que temos assistido à volta da poluição do rio Almonda e da poluição da Ribeira da Boa Água só revela um empurrar da culpa e uma total impunidade dos prevaricadores. Será que o Carreiro da Areia e populações limítrofes não têm problemas já suficientes para que a Águas do Ribatejo construa uma Etar que sirva as populações e as indústrias aí existentes?
Parece-me correcto, porque se eventualmente a Fabrióleo estivesse disposta a vir para a Zona industrial das Cotôas, e usar dos mesmos direitos que assistem, ou deveriam assistir às outras empresas aí sediadas, como é que a nossa gestão autárquica iria resolver esta situação, ou de outras empresas que se queiram instalar no concelho? Infelizmente, seria a transferência do caos e ficaria à vista de todos o que são as zonas industriais de Torres Novas.
Esgotos a céu aberto, como vemos frequentemente na valeta da zona industrial, não augurariam nada de bom, porque a Etar das Cotôas nunca teria capacidade para tratar as águas residuais da zona industrial. A Etar das Cotôas, a que está a servir a zona industrial de Torres Novas, está há muito tempo sub-dimensionada. Quando foi construída, não previa o aumento exponencial urbano da zona alta de Torres Novas, muito menos os resíduos industriais. Esta Etar ficou obsoleta e sem capacidade de resposta e assim continua.
Talvez seja a altura de pensarmos na intervenção da Águas do Ribatejo, que para quem não sabe é uma empresa constituída apenas com capitais públicos das autarquias envolvidas, criada para intervir no âmbito dos sistemas intermunicipais de abastecimento de água e de saneamento de concelhos da Lezíria do Tejo e outros, sendo uma empresa que diz ter por missão “um elevado sentido de responsabilidade na protecção do ambiente e consequente sustentabilidade ambiental”. Propõe-se, ainda, assegurar um serviço de excelência que garanta o fornecimento contínuo de água com qualidade e a drenagem e tratamento de águas residuais dos municípios abrangidos.
Está na hora de esta empresa alterar o deficiente funcionamento das estações de tratamento de águas residuais de Torres Novas e incluir outras zonas do concelho no leque dos seus investimentos públicos. Só este caminho pode tornar Torres Novas numa cidade atractiva e amiga do ambiente, onde empresas e famílias tenham um lugar e possam coabitar pacificamente. Cabe à autarquia ser justa e fazer opções que melhorem a vida de todos nós, mas também cabe a cada um de nós tornarmo-nos mais exigentes com o uso e prioridades que a câmara e as empresas municipais dão ao dinheiro público.
Torres Novas merece voltar a ser um concelho onde qualidade de vida e saúde pública andem de mãos dadas, onde uma boa gestão dos recursos hídricos nos permita construir e dignificar um futuro sustentável e onde os ecossistemas sejam respeitados e protegidos para as novas gerações.
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