Crónicas de Timor I - Vida em isolamento - anabela santos
"O pensamento leva-me também à preocupação pelo que está a acontecer pelo mundo. É assustador! "
Este texto será o relato de uma quarentena ou de uma solidão imposta, sem floreamento ou qualquer romantismo pela razão óbvia: é um isolamento e é imposto.
Depois da clausura de vinte e oito horas dentro de um avião que me leva até Timor e que, mesmo fazendo escala no Dubai e na Malásia, não abriu as suas portas para, pelo menos, desentorpecer as pernas e arejar um pouco.
Depois de horas no aeroporto de Díli para literalmente sermos desinfectados na pista de aterragem e depois de todas as burocracias, sermos, finalmente, convidados a entrar numa carrinha que nos deixa em frente da porta de uma casa, que mesmo sem grades, encerra a nossa vida, durante quinze dias.
Pela primeira vez, durante esta pandemia sem fim, eu me senti totalmente presa. Nem na fase do confinamento, por várias razões e cumprindo sempre as regras de segurança, fiquei sem sair de casa. O sol, a luz, os carros, as pessoas, o mar, enfim, a vida está lá fora. O que faço sozinha dentro de uma casa vinte e quatro horas por dia, durante duas semanas?
Não há motivo para desespero. Inspira-se, expira-se, conta-se até dez e reinventamos o nosso dia. Já não há a ida à esplanada para beber café e ler o jornal, mas trouxe Carlos Ruiz Zafón e Urbano Tavares Rodrigues para me fazerem companhia. Li até à última página cada um deles, todavia fizeram-me falta mais livros.
Tenho a Internet que me liga ao resto do mundo, à família e aos amigos. Vamos actualizando a informação através dos meios de comunicação digitais: o vírus que não dá tréguas; a dívida pública, em Portugal, que atingiu o valor mais elevado de sempre; o executivo camarário de Torres Novas que “reduziu” a taxa de IMI e pagou 20 mil euros à empresa EIPWU para a realização de um programa de televisão na cidade; Donald Trump infectado com Covid-19 e o meu Sporting que sofre uma goleada na liga Europa. Mais do mesmo…
Tenho, ainda, as videochamadas com os filhos, a família e os amigos, a lida da casa e a janela que me deixa observar as flores bem tratadas e as galinhas que se passeiam a depenicar em cada canto do quintal. Afinal, lembrando o quintal, reparo que há algum romantismo e bucolismo na cena da quarentena. Com tanta tecnologia e à minha janela tudo parece tranquilo, mas, na verdade, há uma guerra lá fora. Uma luta contra um vírus que me impõe este isolamento obrigatório.
E o tempo não passa! O facto de não dividirmos o tecto com alguém e de não podermos fazer as nossas actividades diárias, como, por exemplo, trabalhar, dá-nos mais tempo para pensar. E o pensamento leva-me aos meus filhos, à minha família e a tudo o que deixei voluntariamente, mas, apesar de ser de forma voluntária e com alegria, o pensamento pode tornar-se doloroso pela saudade.
O pensamento leva-me também à preocupação pelo que está a acontecer pelo mundo. É assustador! Há que evitar estes momentos. Como não tenho como fazer um bolo, lavo roupa. Como diz Urbano Tavares Rodrigues no conto “Desviados”: “eu próprio se não resistir em pensar, me afundarei no espanto amargo de existir”.
E o tempo não passa! Sendo um isolamento imposto, é mais difícil pois é uma solidão imposta. E o tempo não passa! Havendo este isolamento há mais dúvidas, incertezas, saudades e a vontade de estar com gente. É verdade que durante este período da quarentena tive a agradável visita dos agentes de saúde e da direcção da escola, sempre atenciosos e preocupados, mas não houve o chá e a conversa de meia hora. Pelo contrário, o distanciamento obrigatório foi cumprido à regra, eles no quintal, eu na porta, com máscara, sentindo-me uma verdadeira “infectada perigosa”.
Assim, dentro de “quatro paredes”, na companhia de livros, Internet, televisão e da minha janela, se passou o isolamento obrigatório, onde os pensamentos nos levam à preocupação e à estranheza do momento. Mas também viver é estranho. Quinze dias passaram, o resultado do teste é negativo e a porta abre-se.
Crónicas de Timor I - Vida em isolamento - anabela santos
O pensamento leva-me também à preocupação pelo que está a acontecer pelo mundo. É assustador!
Este texto será o relato de uma quarentena ou de uma solidão imposta, sem floreamento ou qualquer romantismo pela razão óbvia: é um isolamento e é imposto.
Depois da clausura de vinte e oito horas dentro de um avião que me leva até Timor e que, mesmo fazendo escala no Dubai e na Malásia, não abriu as suas portas para, pelo menos, desentorpecer as pernas e arejar um pouco.
Depois de horas no aeroporto de Díli para literalmente sermos desinfectados na pista de aterragem e depois de todas as burocracias, sermos, finalmente, convidados a entrar numa carrinha que nos deixa em frente da porta de uma casa, que mesmo sem grades, encerra a nossa vida, durante quinze dias.
Pela primeira vez, durante esta pandemia sem fim, eu me senti totalmente presa. Nem na fase do confinamento, por várias razões e cumprindo sempre as regras de segurança, fiquei sem sair de casa. O sol, a luz, os carros, as pessoas, o mar, enfim, a vida está lá fora. O que faço sozinha dentro de uma casa vinte e quatro horas por dia, durante duas semanas?
Não há motivo para desespero. Inspira-se, expira-se, conta-se até dez e reinventamos o nosso dia. Já não há a ida à esplanada para beber café e ler o jornal, mas trouxe Carlos Ruiz Zafón e Urbano Tavares Rodrigues para me fazerem companhia. Li até à última página cada um deles, todavia fizeram-me falta mais livros.
Tenho a Internet que me liga ao resto do mundo, à família e aos amigos. Vamos actualizando a informação através dos meios de comunicação digitais: o vírus que não dá tréguas; a dívida pública, em Portugal, que atingiu o valor mais elevado de sempre; o executivo camarário de Torres Novas que “reduziu” a taxa de IMI e pagou 20 mil euros à empresa EIPWU para a realização de um programa de televisão na cidade; Donald Trump infectado com Covid-19 e o meu Sporting que sofre uma goleada na liga Europa. Mais do mesmo…
Tenho, ainda, as videochamadas com os filhos, a família e os amigos, a lida da casa e a janela que me deixa observar as flores bem tratadas e as galinhas que se passeiam a depenicar em cada canto do quintal. Afinal, lembrando o quintal, reparo que há algum romantismo e bucolismo na cena da quarentena. Com tanta tecnologia e à minha janela tudo parece tranquilo, mas, na verdade, há uma guerra lá fora. Uma luta contra um vírus que me impõe este isolamento obrigatório.
E o tempo não passa! O facto de não dividirmos o tecto com alguém e de não podermos fazer as nossas actividades diárias, como, por exemplo, trabalhar, dá-nos mais tempo para pensar. E o pensamento leva-me aos meus filhos, à minha família e a tudo o que deixei voluntariamente, mas, apesar de ser de forma voluntária e com alegria, o pensamento pode tornar-se doloroso pela saudade.
O pensamento leva-me também à preocupação pelo que está a acontecer pelo mundo. É assustador! Há que evitar estes momentos. Como não tenho como fazer um bolo, lavo roupa. Como diz Urbano Tavares Rodrigues no conto “Desviados”: “eu próprio se não resistir em pensar, me afundarei no espanto amargo de existir”.
E o tempo não passa! Sendo um isolamento imposto, é mais difícil pois é uma solidão imposta. E o tempo não passa! Havendo este isolamento há mais dúvidas, incertezas, saudades e a vontade de estar com gente. É verdade que durante este período da quarentena tive a agradável visita dos agentes de saúde e da direcção da escola, sempre atenciosos e preocupados, mas não houve o chá e a conversa de meia hora. Pelo contrário, o distanciamento obrigatório foi cumprido à regra, eles no quintal, eu na porta, com máscara, sentindo-me uma verdadeira “infectada perigosa”.
Assim, dentro de “quatro paredes”, na companhia de livros, Internet, televisão e da minha janela, se passou o isolamento obrigatório, onde os pensamentos nos levam à preocupação e à estranheza do momento. Mas também viver é estranho. Quinze dias passaram, o resultado do teste é negativo e a porta abre-se.
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![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
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![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
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