O negócio dos extremos
Opinião » 2018-12-20 » Jorge Carreira Maia"O BE e o PCP não tiveram, neste processo e em momento algum, uma actuação de extrema-esquerda. Foram, na realidade, reformistas e pragmáticos."
Uma das questões que parece atormentar certos comentadores políticos é a da ausência de uma extrema-direita em Portugal. Apesar de isso não ser completamente verdade – não existe uma extrema-direita organizada politicamente, mas existe uma extrema-direita social, ainda inorgânica –, há uma outra questão que deveria merecer atenção. Haverá uma extrema-esquerda em Portugal? Muita gente – uns por ignorância e outros por oportunismo – utiliza o epíteto de extrema-esquerda quando se refere ao BE e ao PCP. No entanto, alguém acha plausível que dois partidos que, nas últimas eleições, valiam quase 20% do eleitorado, se comportassem como eles se comportaram nos últimos três anos, caso fossem de extrema-esquerda?
Bloquistas e comunistas têm podido, nesta legislatura, influenciar o poder. E têm-no feito. No entanto, em momento algum puseram em causa qualquer dos elementos políticos que constituem o núcleo central de pertença de Portugal aos países democráticos ocidentais. Nem a democracia representativa nem a economia de mercado foram, por um instante, postos em xeque pela sua acção. Por outro lado, apesar das suas discordâncias, também em momento algum foram questionados, por esses partidos, os nossos compromissos externos. Continuamos a pertencer à NATO. Não houve qualquer alteração relativa à União Europeia. Até o malfadado Euro e as suas regras draconianas de controlo do défice e de contenção da despesa pública foram aceites, sem que comunistas e bloquistas se sentissem particularmente incomodados.
O BE e o PCP não tiveram, neste processo e em momento algum, uma actuação de extrema-esquerda. Foram, na realidade, reformistas e pragmáticos. Não exigiram o impossível nem propuseram qualquer delírio utópico, daqueles que a extrema-esquerda é fértil em produzir. Se foram alguma coisa de esquerda, não foram mais do que sociais-democratas. Centraram-se naquilo que poderia beneficiar o seu eleitorado e deixaram de lado o conjunto de crenças ideológicas que os constituíram. Contudo, esta dose de responsabilidade e reformismo pode ter um preço. Vivemos numa época em que a irresponsabilidade, as soluções fáceis e mirabolantes, os devaneios da imaginação e o fervilhar do ressentimento andam à solta. A esquerda, mesmo que o quisesse, já não conseguirá colonizar esse território, que um dia foi o seu. E é aí que está a terra pantanosa que a extrema-direita poderá vir a ocupar. É ela que neste momento transporta o facho da exigência do impossível. É ela que abomina a prudência e execra a responsabilidade.
O negócio dos extremos
Opinião » 2018-12-20 » Jorge Carreira MaiaO BE e o PCP não tiveram, neste processo e em momento algum, uma actuação de extrema-esquerda. Foram, na realidade, reformistas e pragmáticos.
Uma das questões que parece atormentar certos comentadores políticos é a da ausência de uma extrema-direita em Portugal. Apesar de isso não ser completamente verdade – não existe uma extrema-direita organizada politicamente, mas existe uma extrema-direita social, ainda inorgânica –, há uma outra questão que deveria merecer atenção. Haverá uma extrema-esquerda em Portugal? Muita gente – uns por ignorância e outros por oportunismo – utiliza o epíteto de extrema-esquerda quando se refere ao BE e ao PCP. No entanto, alguém acha plausível que dois partidos que, nas últimas eleições, valiam quase 20% do eleitorado, se comportassem como eles se comportaram nos últimos três anos, caso fossem de extrema-esquerda?
Bloquistas e comunistas têm podido, nesta legislatura, influenciar o poder. E têm-no feito. No entanto, em momento algum puseram em causa qualquer dos elementos políticos que constituem o núcleo central de pertença de Portugal aos países democráticos ocidentais. Nem a democracia representativa nem a economia de mercado foram, por um instante, postos em xeque pela sua acção. Por outro lado, apesar das suas discordâncias, também em momento algum foram questionados, por esses partidos, os nossos compromissos externos. Continuamos a pertencer à NATO. Não houve qualquer alteração relativa à União Europeia. Até o malfadado Euro e as suas regras draconianas de controlo do défice e de contenção da despesa pública foram aceites, sem que comunistas e bloquistas se sentissem particularmente incomodados.
O BE e o PCP não tiveram, neste processo e em momento algum, uma actuação de extrema-esquerda. Foram, na realidade, reformistas e pragmáticos. Não exigiram o impossível nem propuseram qualquer delírio utópico, daqueles que a extrema-esquerda é fértil em produzir. Se foram alguma coisa de esquerda, não foram mais do que sociais-democratas. Centraram-se naquilo que poderia beneficiar o seu eleitorado e deixaram de lado o conjunto de crenças ideológicas que os constituíram. Contudo, esta dose de responsabilidade e reformismo pode ter um preço. Vivemos numa época em que a irresponsabilidade, as soluções fáceis e mirabolantes, os devaneios da imaginação e o fervilhar do ressentimento andam à solta. A esquerda, mesmo que o quisesse, já não conseguirá colonizar esse território, que um dia foi o seu. E é aí que está a terra pantanosa que a extrema-direita poderá vir a ocupar. É ela que neste momento transporta o facho da exigência do impossível. É ela que abomina a prudência e execra a responsabilidade.
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
O Flautista de Hamelin... |
» 2024-03-08
» Maria Augusta Torcato
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato |
» 2024-03-18
» Hélder Dias
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» Jorge Carreira Maia
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» Pedro Ferreira
A carne e os ossos - pedro borges ferreira |