Teixeira de Queiroz e o mundo português - jorge carreira maia
Hoje desconhecido do grande público, Francisco Teixeira de Queiroz foi um dos grandes escritores portugueses dos finais do século XIX e inícios do século XX. A Imprensa Nacional começou, em 2020, a republicar as obras do escritor nascido em Arcos-de-Valdevez, que chegou a ser deputado e Ministro dos Negócios Estrangeiros na Primeira República. Teixeira de Queiroz inscreve-se na mesma corrente literária, ou nas mesmas correntes, de Eça, o realismo e o naturalismo. Escreveu, com um título influenciado por Balzac, duas grandes séries de romances e narrativas, uma designada Comédia do Campo e outra Comédia Burguesa. São retratos da vida portuguesa no final do século XIX, embora a segunda se situe, essencialmente, no universo lisboeta, que vivia, na época, a transição, nas relações de poder, da aristocracia para a burguesia.
“A primeira vez que Salústio Nogueira entrou na Câmara dos Deputados, como eleito do povo, foi sob o patrocínio de uma senhora, D. Josefa Lencastre, que, num baile de caridade, no Clube, disse ao ministro da Guerra: Tenho um grande favor a pedir-lhe, general.” Assim começa o segundo romance da Comédia Burguesa, com o título O Salústio Nogueira – Estudo de política contemporânea. A conversa entre a jovem e bela D. Josefa e o ministro da Guerra prossegue, com ela a manipular o delíquio amoroso que habitava o coração do militar. Chegado o momento, ela diz: “Então aí vai o meu pedido: eu quero que o senhor me faça um deputado.” Ao que o General respondeu: “Ora adeus! ... Era isso?! Deputados! ... Faço-lhe dois ... Faço-lhe vinte de uma vez, se Vossa Excelência mo pedir.” E acrescentou: “Faço-lhe um ministro aqui de pronto.”
Será o Portugal político do século XXI tão diferente daquele que Teixeira de Queiroz descreve? Não temos Rei, as famílias aristocráticas – D. Josefa Lencastre era sobrinha da Viscondessa de Águas Santas – são uma relíquia e os generais de hoje estão, por enquanto, mais distantes da política. Será, porém, o método de produção de deputados e até de ministros tão diferente? Teixeira de Queiroz, em meia dúzia de linhas, mostra-nos a íntima relação entre eros e poder, o sistema de cunhas que domina a vida social portuguesa e a força que sustenta, no nosso país, aquilo que antigamente se dava o nome de videirinhos. Tudo isto continua vivo e de boa saúde, embora com outros protagonistas. Não somos nórdicos e a nossa cultura ancestral é esta. A literatura serve para muitas coisas. Uma delas é mostrar aquilo que um povo é. Teixeira de Queiroz é um dos que o fez com talento. Merece que se volte a ele.
Teixeira de Queiroz e o mundo português - jorge carreira maia
Hoje desconhecido do grande público, Francisco Teixeira de Queiroz foi um dos grandes escritores portugueses dos finais do século XIX e inícios do século XX. A Imprensa Nacional começou, em 2020, a republicar as obras do escritor nascido em Arcos-de-Valdevez, que chegou a ser deputado e Ministro dos Negócios Estrangeiros na Primeira República. Teixeira de Queiroz inscreve-se na mesma corrente literária, ou nas mesmas correntes, de Eça, o realismo e o naturalismo. Escreveu, com um título influenciado por Balzac, duas grandes séries de romances e narrativas, uma designada Comédia do Campo e outra Comédia Burguesa. São retratos da vida portuguesa no final do século XIX, embora a segunda se situe, essencialmente, no universo lisboeta, que vivia, na época, a transição, nas relações de poder, da aristocracia para a burguesia.
“A primeira vez que Salústio Nogueira entrou na Câmara dos Deputados, como eleito do povo, foi sob o patrocínio de uma senhora, D. Josefa Lencastre, que, num baile de caridade, no Clube, disse ao ministro da Guerra: Tenho um grande favor a pedir-lhe, general.” Assim começa o segundo romance da Comédia Burguesa, com o título O Salústio Nogueira – Estudo de política contemporânea. A conversa entre a jovem e bela D. Josefa e o ministro da Guerra prossegue, com ela a manipular o delíquio amoroso que habitava o coração do militar. Chegado o momento, ela diz: “Então aí vai o meu pedido: eu quero que o senhor me faça um deputado.” Ao que o General respondeu: “Ora adeus! ... Era isso?! Deputados! ... Faço-lhe dois ... Faço-lhe vinte de uma vez, se Vossa Excelência mo pedir.” E acrescentou: “Faço-lhe um ministro aqui de pronto.”
Será o Portugal político do século XXI tão diferente daquele que Teixeira de Queiroz descreve? Não temos Rei, as famílias aristocráticas – D. Josefa Lencastre era sobrinha da Viscondessa de Águas Santas – são uma relíquia e os generais de hoje estão, por enquanto, mais distantes da política. Será, porém, o método de produção de deputados e até de ministros tão diferente? Teixeira de Queiroz, em meia dúzia de linhas, mostra-nos a íntima relação entre eros e poder, o sistema de cunhas que domina a vida social portuguesa e a força que sustenta, no nosso país, aquilo que antigamente se dava o nome de videirinhos. Tudo isto continua vivo e de boa saúde, embora com outros protagonistas. Não somos nórdicos e a nossa cultura ancestral é esta. A literatura serve para muitas coisas. Uma delas é mostrar aquilo que um povo é. Teixeira de Queiroz é um dos que o fez com talento. Merece que se volte a ele.
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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