Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia
Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Agora: o meu reino não é daqui.» Quando Pilatos pergunta: «Então tu és rei?», a resposta continua a ser surpreendente: «Tu dizes que sou rei. Eu nasci para isto e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade.» Esta passagem do Evangelho de João não deve ser vista como o anúncio de uma utopia, mas como o ideal regulador de toda a política.
São dois os elementos centrais: a violência e a verdade. Jesus consente na afirmação de que é rei, mas é um soberano que não tem um corpo de guardas que lute por ele. Abdica da violência legítima para fazer vingar a sua soberania. Esta centra-se na verdade. A verdade deve ser entendida não apenas como um acordo entre aquilo que se diz e os factos, mas como uma vida verdadeira, onde se inclui o bem e a justiça. Não é a violência, mesmo que legítima, que deve suportar a governação, mas o exercício dessa verdade. As palavras de Cristo, na sua radicalidade, causam a mais profunda perplexidade nos homens políticos. Essa perplexidade está resumida na resposta de Pilatos às palavras de Jesus: «O que é a verdade?» Pôncio Pilatos – como qualquer autoridade política – conhece bem a violência como forma de exercer a soberania, mas desconhece a verdade.
Como o idealismo platónico, o texto evangélico fornece, ainda que de modo diferente, um padrão pelo qual podemos medir a bondade das governações humanas. Quanto menor for a violência a que recorrem e quanto mais preocupadas estiverem com a verdade, o bem e a justiça, melhor serão. Quanto mais violência usarem e menos preocupadas estiverem com a verdade, o bem e a justiça, mais detestáveis serão. Um reino cujo rei não usa a violência e se conduz apenas pela verdade não é daqui e de agora, não é deste mundo. Contudo, esse rei é o padrão pelo qual, no fundo dos corações, os homens medem os seus soberanos. E sempre que os homens se revoltam contra as governações é porque estas se afastaram da verdade, do bem e da justiça e no seu lugar colocaram a violência. Eis três versículos terríveis para aqueles que têm nas mãos o poder sobre os outros.
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia
Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que eu não fosse entregue aos judeus. Agora: o meu reino não é daqui.» Quando Pilatos pergunta: «Então tu és rei?», a resposta continua a ser surpreendente: «Tu dizes que sou rei. Eu nasci para isto e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade.» Esta passagem do Evangelho de João não deve ser vista como o anúncio de uma utopia, mas como o ideal regulador de toda a política.
São dois os elementos centrais: a violência e a verdade. Jesus consente na afirmação de que é rei, mas é um soberano que não tem um corpo de guardas que lute por ele. Abdica da violência legítima para fazer vingar a sua soberania. Esta centra-se na verdade. A verdade deve ser entendida não apenas como um acordo entre aquilo que se diz e os factos, mas como uma vida verdadeira, onde se inclui o bem e a justiça. Não é a violência, mesmo que legítima, que deve suportar a governação, mas o exercício dessa verdade. As palavras de Cristo, na sua radicalidade, causam a mais profunda perplexidade nos homens políticos. Essa perplexidade está resumida na resposta de Pilatos às palavras de Jesus: «O que é a verdade?» Pôncio Pilatos – como qualquer autoridade política – conhece bem a violência como forma de exercer a soberania, mas desconhece a verdade.
Como o idealismo platónico, o texto evangélico fornece, ainda que de modo diferente, um padrão pelo qual podemos medir a bondade das governações humanas. Quanto menor for a violência a que recorrem e quanto mais preocupadas estiverem com a verdade, o bem e a justiça, melhor serão. Quanto mais violência usarem e menos preocupadas estiverem com a verdade, o bem e a justiça, mais detestáveis serão. Um reino cujo rei não usa a violência e se conduz apenas pela verdade não é daqui e de agora, não é deste mundo. Contudo, esse rei é o padrão pelo qual, no fundo dos corações, os homens medem os seus soberanos. E sempre que os homens se revoltam contra as governações é porque estas se afastaram da verdade, do bem e da justiça e no seu lugar colocaram a violência. Eis três versículos terríveis para aqueles que têm nas mãos o poder sobre os outros.
![]() |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
![]() |
![]() |
![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
» 2025-03-31
» Hélder Dias
Entrevistador... |
» 2025-03-22
» Jorge Carreira Maia
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |