O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia
Opinião » 2021-02-05 » Jorge Carreira Maia"Se se observar o tecido social, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas"
O estranho caso das vacinas não reside no facto de ter havido usos oportunistas e desenquadrados do planeamento das autoridades. Isso faz parte de uma cultura inscrita no tecido social e a que se dá o título de chico-espertismo. O chico-espertismo é a busca, através de um expediente imoral e/ou ilegal, de uma vantagem pessoal em detrimento do cumprimento de regras universais e imparciais. Na verdade, existe uma grande condescendência para com esse tipo de atitude. Essa condescendência chega a ser laudatória no ditado popular que sublinha que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. A indignação perante o acontecimento é que causa estranheza.
Se se observar o tecido social, as instituições públicas, políticas e administrativas, até as empresas privadas, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas. A cunha, o pedido, a busca de uma excepção, a existência de regras universais e imparciais só para inglês ver, tudo isso domina as relações comunitárias. Não se pense que o chico-espertismo é um problema da democracia. O salazarismo era totalmente dominado pelo chico-espertismo. A palavrinha que se dava ao senhor prior para um emprego, o favor que se pedia aos influentes no regime, etc. Toda a estrutura política, social e económica do país estava penetrada por esta cultura, que é uma cultura de corrupção. Manda a verdade dizer que não foi uma criação do ditador de Santa Comba. Ele apenas cavalgou a onda e fomentou-a para solidificar o seu poder. Já era assim na primeira República, que herdou o vício do liberalismo monárquico, o qual o herdara da monarquia absoluta.
Se a indignação com o caso das vacinas for um sintoma de que as pessoas estão cada vez menos predispostas a aceitar essa corrupção moral, em que o chico-esperto é um herói louvado, então talvez estejamos no caminho de nos tornarmos uma nação com uma cultura cívica decente. Será possível pensar que os portugueses estarão cada vez menos predispostos a aceitar os truques que enxameiam a vida pública. Será também a altura de os partidos políticos reformarem as suas práticas de chico-espertismo, onde abunda o nepotismo, o favorecimento pessoal, o interesse particular, etc., etc., etc. O pior, porém, é se estas reacções se devem apenas a que se ficou de fora da tramóia e que é um outro que, com mais arte, melhor parte e reparte. Estaremos num ponto de viragem da nossa cultura comunitária?
O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia
Opinião » 2021-02-05 » Jorge Carreira MaiaSe se observar o tecido social, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas
O estranho caso das vacinas não reside no facto de ter havido usos oportunistas e desenquadrados do planeamento das autoridades. Isso faz parte de uma cultura inscrita no tecido social e a que se dá o título de chico-espertismo. O chico-espertismo é a busca, através de um expediente imoral e/ou ilegal, de uma vantagem pessoal em detrimento do cumprimento de regras universais e imparciais. Na verdade, existe uma grande condescendência para com esse tipo de atitude. Essa condescendência chega a ser laudatória no ditado popular que sublinha que quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. A indignação perante o acontecimento é que causa estranheza.
Se se observar o tecido social, as instituições públicas, políticas e administrativas, até as empresas privadas, encontramos o chico-espertismo como o elemento ideológico que se sobrepõe até às clivagens políticas. A cunha, o pedido, a busca de uma excepção, a existência de regras universais e imparciais só para inglês ver, tudo isso domina as relações comunitárias. Não se pense que o chico-espertismo é um problema da democracia. O salazarismo era totalmente dominado pelo chico-espertismo. A palavrinha que se dava ao senhor prior para um emprego, o favor que se pedia aos influentes no regime, etc. Toda a estrutura política, social e económica do país estava penetrada por esta cultura, que é uma cultura de corrupção. Manda a verdade dizer que não foi uma criação do ditador de Santa Comba. Ele apenas cavalgou a onda e fomentou-a para solidificar o seu poder. Já era assim na primeira República, que herdou o vício do liberalismo monárquico, o qual o herdara da monarquia absoluta.
Se a indignação com o caso das vacinas for um sintoma de que as pessoas estão cada vez menos predispostas a aceitar essa corrupção moral, em que o chico-esperto é um herói louvado, então talvez estejamos no caminho de nos tornarmos uma nação com uma cultura cívica decente. Será possível pensar que os portugueses estarão cada vez menos predispostos a aceitar os truques que enxameiam a vida pública. Será também a altura de os partidos políticos reformarem as suas práticas de chico-espertismo, onde abunda o nepotismo, o favorecimento pessoal, o interesse particular, etc., etc., etc. O pior, porém, é se estas reacções se devem apenas a que se ficou de fora da tramóia e que é um outro que, com mais arte, melhor parte e reparte. Estaremos num ponto de viragem da nossa cultura comunitária?
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
Eleições, para que vos quero! - antónio mário santos » 2024-02-22 Quando me aborreço, mudo de canal. Vou seguindo os debates eleitorais televisivos, mas, saturado, opto por um filme no SYFY, onde a Humanidade tenta salvar com seus heróis americanizados da Marvel o planeta Terra, em vez de gramar as notas e as opiniões dos comentadores profissionais e partidocratas que se esfalfam na crítica ou no elogio do seu candidato de estimação. |
» 2024-02-28
» Hélder Dias
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» 2024-03-08
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» 2024-03-18
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