Para quê tanto vermelho?
"O aspeto que torna o Dia dos Namorados uma celebração amadora é o capitalismo"
O Dia de São Valentim é, à semelhança do Carnaval, do Dia da Mulher, do Dia da Aproximação do Pi ou do próprio Dia do Pi, uma celebração à qual não foi atribuída o estatuto de feriado e, como tal, não é respeitada no agregado de festividades.
O Natal ocupa, claramente, um assento privilegiado, com estofos de veludo e uma almofada de encosto lombar. Os feriados históricos e com voz política, como o 25 de Abril ou o Dia da Restauração da Independência, partilham um sofá minimalista preto para camuflar nódoas de ganância do estofo de pele. Os feriados religiosos, como a Páscoa ou o Dia de Todos os Santos, sentam-se naqueles bancos de plástico portáteis para tornar mais fácil a mudança no calendário. O Dia do Trabalhador fica de pé. E as restantes celebrações que procuram animar o pobre dia, sentam-se humildemente no chão, de pernas à chinês.
Neste artigo, tentarei explicar o porquê de o Dia de São Valentim não ter tido a honra de ser condecorado como feriado internacional. Para começar, o nome comum atribuído, Dia dos Namorados, exclui imediata e cruelmente todas as pessoas que não estão comprometidas, mesmo que na base do seu relacionamento esteja o amor. Aqueles que gostam assim assim ou os que gostam, mas dizem que não e talvez estejam apenas num conflito interior. Aqueles que gostam, mas preferiam não gostar ou aqueles que gostam deles próprios. Todos se deveriam sentir incluídos nesta data que, por não ser feriado, não tem autoridade de definir barreiras tão especificas e objetivas para um tema tão amplo e subjetivo.
Após uma profunda pesquisa acerca da origem histórica por detrás do dia 14 de fevereiro, conclui que se trata do dia da decapitação em praça pública do bispo romano Valentim. Existe evento mais romântico e harmonioso do que perder a cabeça por amor às suas convicções?!
Valentim continuou a celebrar casamentos, após a sua proibição pelo imperador Claúdio II que, ao descobrir, o condenou à morte. No entanto, na época, os serviços prestados pelos carrascos não respondiam às necessidades dos condenados e, como tal, Valentim foi posto em lista de espera na cela número 132, sem latrina, mas com vista para as traseiras da Capela Sistina. Da sua grade, caiam bilhetes e flores, símbolos de amor, mas pouco eficazes no momento da tentativa de fuga. Valentim foi santificado ao apaixonar-se por uma mulher cega, que recuperou milagrosamente a visão e assistiu com clareza à morte do amor da sua vida...
A outra questão que introduz constrangimento a esta festividade é a figura do Cupido. O menino alado que carrega sempre um arco, pronto a disparar sobre o coração de homens e deuses. Uma imagem pouco agradável e um tanto dolorosa. Se um homem, vestido com uma camisola de capuz, entrar num supermercado e disparar uma seta num dos empregados, é preso e capa do Correio da Manhã (possivelmente pela escolha ousada/arcaica do instrumento de massacre...). Mas caso seja um adulto numa tanga e com flores no cabelo não há qualquer tipo de impedimento jurídico ou ético. O ferimento salpica paixão, jorra amor e deixa nódoa. Não entendo a leveza como a sociedade julga ambos os acontecimentos... É só a mim que desestabiliza a ideia de um deus, filho de planetas, andar para aí a dizer quem é que eu deva amar?!
No entanto, o aspeto que torna o Dia dos Namorados uma celebração amadora é o capitalismo. O chocolate em forma de coração, embrulhado em papel vermelho com um lacinho, é consideravelmente mais caro do que a tradicional tablete de chocolate, tendo em conta as proporções do seu conteúdo. Os bombons então, nem se fala! A caixa é deveras apelativa, mas os 4 pedacinhos de chocolate com recheio sugerem “Talvez devesses fazer uma dieta, querida...”. A lingerie vermelha, os ramos de rosas com as muito pensadas mensagens I L U ou 4EVER e os postais com uma música do Justin Bieber, tornam o amor um conceito banal, retrógrado e demasiado vermelho! Parece um encontro de benfiquistas sem personalidade ou sentido crítico, que acaba esquecido num canto, só, a lidar com a desilusão de não ser mais do que um objeto e ser incapaz de amar.
O Dia de São Valentim não é feriado porque o Amor não pode tirar um dia livre para passear com a família, jantar com a namorada com direito a uma mousse caseira ou assistir a um concerto ao vivo no qual terá, eventualmente, de pôr a filha às suas cavalitas. A presença do Amor no seu local de trabalho é imperativo! Quem é que irá ensinar às crianças o verbo to be, fazer a bainha de 37 pares de calças, calcetar o passeio, plantar couves ou escrever o próximo romance best-seller?
Para quê tanto vermelho?
O aspeto que torna o Dia dos Namorados uma celebração amadora é o capitalismo
O Dia de São Valentim é, à semelhança do Carnaval, do Dia da Mulher, do Dia da Aproximação do Pi ou do próprio Dia do Pi, uma celebração à qual não foi atribuída o estatuto de feriado e, como tal, não é respeitada no agregado de festividades.
O Natal ocupa, claramente, um assento privilegiado, com estofos de veludo e uma almofada de encosto lombar. Os feriados históricos e com voz política, como o 25 de Abril ou o Dia da Restauração da Independência, partilham um sofá minimalista preto para camuflar nódoas de ganância do estofo de pele. Os feriados religiosos, como a Páscoa ou o Dia de Todos os Santos, sentam-se naqueles bancos de plástico portáteis para tornar mais fácil a mudança no calendário. O Dia do Trabalhador fica de pé. E as restantes celebrações que procuram animar o pobre dia, sentam-se humildemente no chão, de pernas à chinês.
Neste artigo, tentarei explicar o porquê de o Dia de São Valentim não ter tido a honra de ser condecorado como feriado internacional. Para começar, o nome comum atribuído, Dia dos Namorados, exclui imediata e cruelmente todas as pessoas que não estão comprometidas, mesmo que na base do seu relacionamento esteja o amor. Aqueles que gostam assim assim ou os que gostam, mas dizem que não e talvez estejam apenas num conflito interior. Aqueles que gostam, mas preferiam não gostar ou aqueles que gostam deles próprios. Todos se deveriam sentir incluídos nesta data que, por não ser feriado, não tem autoridade de definir barreiras tão especificas e objetivas para um tema tão amplo e subjetivo.
Após uma profunda pesquisa acerca da origem histórica por detrás do dia 14 de fevereiro, conclui que se trata do dia da decapitação em praça pública do bispo romano Valentim. Existe evento mais romântico e harmonioso do que perder a cabeça por amor às suas convicções?!
Valentim continuou a celebrar casamentos, após a sua proibição pelo imperador Claúdio II que, ao descobrir, o condenou à morte. No entanto, na época, os serviços prestados pelos carrascos não respondiam às necessidades dos condenados e, como tal, Valentim foi posto em lista de espera na cela número 132, sem latrina, mas com vista para as traseiras da Capela Sistina. Da sua grade, caiam bilhetes e flores, símbolos de amor, mas pouco eficazes no momento da tentativa de fuga. Valentim foi santificado ao apaixonar-se por uma mulher cega, que recuperou milagrosamente a visão e assistiu com clareza à morte do amor da sua vida...
A outra questão que introduz constrangimento a esta festividade é a figura do Cupido. O menino alado que carrega sempre um arco, pronto a disparar sobre o coração de homens e deuses. Uma imagem pouco agradável e um tanto dolorosa. Se um homem, vestido com uma camisola de capuz, entrar num supermercado e disparar uma seta num dos empregados, é preso e capa do Correio da Manhã (possivelmente pela escolha ousada/arcaica do instrumento de massacre...). Mas caso seja um adulto numa tanga e com flores no cabelo não há qualquer tipo de impedimento jurídico ou ético. O ferimento salpica paixão, jorra amor e deixa nódoa. Não entendo a leveza como a sociedade julga ambos os acontecimentos... É só a mim que desestabiliza a ideia de um deus, filho de planetas, andar para aí a dizer quem é que eu deva amar?!
No entanto, o aspeto que torna o Dia dos Namorados uma celebração amadora é o capitalismo. O chocolate em forma de coração, embrulhado em papel vermelho com um lacinho, é consideravelmente mais caro do que a tradicional tablete de chocolate, tendo em conta as proporções do seu conteúdo. Os bombons então, nem se fala! A caixa é deveras apelativa, mas os 4 pedacinhos de chocolate com recheio sugerem “Talvez devesses fazer uma dieta, querida...”. A lingerie vermelha, os ramos de rosas com as muito pensadas mensagens I L U ou 4EVER e os postais com uma música do Justin Bieber, tornam o amor um conceito banal, retrógrado e demasiado vermelho! Parece um encontro de benfiquistas sem personalidade ou sentido crítico, que acaba esquecido num canto, só, a lidar com a desilusão de não ser mais do que um objeto e ser incapaz de amar.
O Dia de São Valentim não é feriado porque o Amor não pode tirar um dia livre para passear com a família, jantar com a namorada com direito a uma mousse caseira ou assistir a um concerto ao vivo no qual terá, eventualmente, de pôr a filha às suas cavalitas. A presença do Amor no seu local de trabalho é imperativo! Quem é que irá ensinar às crianças o verbo to be, fazer a bainha de 37 pares de calças, calcetar o passeio, plantar couves ou escrever o próximo romance best-seller?
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |