Mérito e inveja - jorge carreira maia
O milagre – a eventual vitória de Kamala Harris nas eleições norte-americanas – esteve longe, muito longe, de acontecer. Os americanos escolheram em consciência e disseram claramente o que queriam. Não votaram enganados ou iludidos; escolheram o pior porque queriam o pior. Votaram em Trump pelos seus vícios e defeitos, que são os vícios e os defeitos dos eleitores. Rejeitaram Harris devido às suas virtudes. Esta podia ser uma má candidata, mas dificilmente alguém pode ser um presidente mais errático e perigoso do que Donald Trump – e disso há provas. E os eleitores sabem-no. Não o escolheram porque vai engrandecer a América, mas porque é misógino, racista, pouco ou nada respeitador das instituições. Pior: escolheram-no porque ele ameaça as instituições e a liberdade.
Kamala Harris sempre me pareceu uma má candidata. Porque era mulher e porque não era branca? Também por isso, mas essa não é a questão central. De facto, Kamala Harris é tudo aquilo que o eleitor de Trump odeia. Sabemos que ele não odeia a incompetência; odeia a virtude, a vida conseguida, a capacidade de afirmação. Kamala Harris é uma mulher que não veio das elites norte-americanas, mas é refinada e transpira superioridade, apesar da simpatia. Kamala Harris foi um espelho em que milhões de eleitores norte-americanos viram a sua própria derrota existencial. Ela conseguiu aquilo que muitos desejavam e não foram capazes. Não se trata de dinheiro, mas de classe. Os eleitores norte-americanos caíram uma vez com Obama; não caíram segunda com Harris. Uma parte da derrota da candidata democrata deve-se à pura inveja e ao ressentimento que a sua presença gera.
Harris, como Obama, são casos claros de uma cultura meritocrática, fundada em concepções liberais da sociedade. O filósofo norte-americano Michael J. Sandel escreveu, em 2020, um livro com o curioso título A Tirania do Mérito. Ele argumenta que esta tirania está a corroer as nossas sociedades e a empurrá-las para o populismo. As elites meritocráticas estão a afastar-se do homem comum, e esse afastamento, juntamente com a quebra do elevador social, gera um enorme ressentimento que se manifesta nas cabines de voto. Kamala Harris era uma má candidata – isso não significa que seria uma má presidente; são coisas diferentes – porque, quisesse ou não, ela era a face dessa elite que atormenta as entranhas do homem comum. Ela perde porque foi virtuosa na sua vida, perde porque é um caso de mérito. Ora, os democratas deviam ter lido com muita atenção o livro de Sandel. O resultado é o que se viu e o que se verá no futuro.
Mérito e inveja - jorge carreira maia
O milagre – a eventual vitória de Kamala Harris nas eleições norte-americanas – esteve longe, muito longe, de acontecer. Os americanos escolheram em consciência e disseram claramente o que queriam. Não votaram enganados ou iludidos; escolheram o pior porque queriam o pior. Votaram em Trump pelos seus vícios e defeitos, que são os vícios e os defeitos dos eleitores. Rejeitaram Harris devido às suas virtudes. Esta podia ser uma má candidata, mas dificilmente alguém pode ser um presidente mais errático e perigoso do que Donald Trump – e disso há provas. E os eleitores sabem-no. Não o escolheram porque vai engrandecer a América, mas porque é misógino, racista, pouco ou nada respeitador das instituições. Pior: escolheram-no porque ele ameaça as instituições e a liberdade.
Kamala Harris sempre me pareceu uma má candidata. Porque era mulher e porque não era branca? Também por isso, mas essa não é a questão central. De facto, Kamala Harris é tudo aquilo que o eleitor de Trump odeia. Sabemos que ele não odeia a incompetência; odeia a virtude, a vida conseguida, a capacidade de afirmação. Kamala Harris é uma mulher que não veio das elites norte-americanas, mas é refinada e transpira superioridade, apesar da simpatia. Kamala Harris foi um espelho em que milhões de eleitores norte-americanos viram a sua própria derrota existencial. Ela conseguiu aquilo que muitos desejavam e não foram capazes. Não se trata de dinheiro, mas de classe. Os eleitores norte-americanos caíram uma vez com Obama; não caíram segunda com Harris. Uma parte da derrota da candidata democrata deve-se à pura inveja e ao ressentimento que a sua presença gera.
Harris, como Obama, são casos claros de uma cultura meritocrática, fundada em concepções liberais da sociedade. O filósofo norte-americano Michael J. Sandel escreveu, em 2020, um livro com o curioso título A Tirania do Mérito. Ele argumenta que esta tirania está a corroer as nossas sociedades e a empurrá-las para o populismo. As elites meritocráticas estão a afastar-se do homem comum, e esse afastamento, juntamente com a quebra do elevador social, gera um enorme ressentimento que se manifesta nas cabines de voto. Kamala Harris era uma má candidata – isso não significa que seria uma má presidente; são coisas diferentes – porque, quisesse ou não, ela era a face dessa elite que atormenta as entranhas do homem comum. Ela perde porque foi virtuosa na sua vida, perde porque é um caso de mérito. Ora, os democratas deviam ter lido com muita atenção o livro de Sandel. O resultado é o que se viu e o que se verá no futuro.
![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
![]() É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
» 2025-03-12
» Hélder Dias
Ferreira... renovado |
» 2025-03-12
» Hélder Dias
Fantoche... |
» 2025-03-13
Gisèle Pelicot é uma mulher comum - joão ribeiro e raquel batista |
» 2025-03-22
» Jorge Carreira Maia
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |