Reflexões sobre um caminho de quase trinta anos - antónio mário santos
"“A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional."
Em Setembro de 1994, com capa de João Carlos Lopes, era publicado o meu estudo Torres Novas nos Finais do Séc. XIX – Subsídios Históricos, onde se inseria um estudo sobre a Imprensa Regional no Concelho de Torres Novas (1853-1926), incluindo as fotografias da primeira página da imprensa aí publicada, desde 1853 a 1978. Por essa altura, após a experiência lograda de “A Forja”, a informação jornalística concelhia centrava-se em dois jornais: “O Almonda”, semanário da igreja católica, desde o 25 de Abril de 1974 tentando adaptar-se às mudanças da política nacional, procurando a conciliação, sempre problemática e mal conseguida, da religião com o pluralismo democrático; e do quinzenário “O Riachense” (II série, Março de 1978), independente, mas cioso do seu bairrismo anti centralista, o que o isolava da sede urbana, a ainda vila, e do restante concelho.
Nesse mesmo mês, em 22, sai a público o primeiro número do “Jornal Torrejano” (numa II série do periódico que se publicara, com vários acidentes de percurso, entre 9/10/1884 e 16/5/1915) do qual fui um dos 10 fundadores. Sentia-se, no concelho, a necessidade duma voz democrática, pluralista, que assumisse a informação concelhia e os interesses da população como elementos essenciais do sua acção.
A entrar nos seus trinta anos de publicação, duas conclusões se me impõem;
A - O “Jornal Torrejano” foi o arauto permanente da liberdade e do espírito crítico, assumindo-se de forma corajosa como uma voz denunciadora dos meandros obscuros da política concelhia, numa defesa dos interesses das populações do concelho. A frontalidade da sua acção jornalística tornou-se, verdadeiramente, um caso de estudo, que mereceria uma tese universitária sobre a acção dum órgão da imprensa concelhia e a sua influência num determinado espaço geográfico. Aos novos jovens mestrandos das ciências sociais aconselho-o vivamente.
B – As dificuldades do presente, na sua constante luta pela manutenção da sua sobrevivência, numa sociedade mercantilista para quem o jornal de papel nunca foi uma real e sentida realidade – comum à imprensa portuguesa na sua generalidade -, colocam na balança do tempo a fragilidade da sua existência. No dia em que a imprensa deixar de exercer a sua razão de ser – informar, denunciar, aplaudir, defender, lutar por um mundo mais justo e mais humano – a democracia terá sido substituída, uma vez mais, pelo autoritarismo. E a mentira, a corrupção, o compadrio, a exploração desenfreada dos seres humanos por minorias donas disto tudo, regressarão, como fantasmas ressuscitados dos cemitérios concentracionários dum passado não muito longínquo, de que ainda já não muitos de nós se recordam e sofreram as suas arbitrárias imposições.
A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional. O apoio do Estado à imprensa, nacional ou regional, já noutros países, quer nos EUA, quer nalguns da Comunidade Europeia, é encarado como uma obrigação de defesa do pluralismo democrático, sem que as respectivas subvenções correspondam a uma perda de independência. O caso francês é paradigmático.
Claro que de boas intenções está o inferno cheio, e não se duvida, neste meio estreito, de mentalidade aliterata, que é o Portugal que somos, onde o partidarismo burocrático e acrítico substitui o respeito pelo outro e o legítimo direito à diferença, que não haja a tentativa de, com o apoio, seguir o compromisso do parcialismo.
Mas, para a vermina, há a vacina. A transparência da opinião, a partilha comunitária da intervenção, a defesa dos interesses colectivos, permitirão afastar essas tentações de compadrio. Criarão, antes, uma atmosfera muito mais respirável do que aquela que o poder, que se deseja absoluto, impõe: passar entre os pingos da chuva, tentando que não o incomodem, nem o questionem sobre as suas boas, razoáveis ou más acções.
Não vivemos hoje, no concelho, muito longe dum conceito de acção política de impunidade, em que o autismo do poder e o deixar correr do munícipe avalizam, com consequências visíveis, no ambiente, no património, na saúde, na habitação, no urbanismo, na transparência, na informação, uma resignação e um desinteresse absurdamente prejudiciais a uma vida colectiva responsável.
Para onde teria caminhado o concelho de Torres Novas, sem a presença crítica do “Jornal Torrejano”, a caminho dos trinta anos cumpridos, eis uma questão que merece reflexão.
Desejo-lhe, num abraço solidário, que, daqui a vinte anos, o seu cinquentenário mereça o que, hoje, lhe é, municipalmente, recusado: a medalha de mérito concelhio pela defesa da liberdade crítica e plural de informar.
Reflexões sobre um caminho de quase trinta anos - antónio mário santos
“A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional.
Em Setembro de 1994, com capa de João Carlos Lopes, era publicado o meu estudo Torres Novas nos Finais do Séc. XIX – Subsídios Históricos, onde se inseria um estudo sobre a Imprensa Regional no Concelho de Torres Novas (1853-1926), incluindo as fotografias da primeira página da imprensa aí publicada, desde 1853 a 1978. Por essa altura, após a experiência lograda de “A Forja”, a informação jornalística concelhia centrava-se em dois jornais: “O Almonda”, semanário da igreja católica, desde o 25 de Abril de 1974 tentando adaptar-se às mudanças da política nacional, procurando a conciliação, sempre problemática e mal conseguida, da religião com o pluralismo democrático; e do quinzenário “O Riachense” (II série, Março de 1978), independente, mas cioso do seu bairrismo anti centralista, o que o isolava da sede urbana, a ainda vila, e do restante concelho.
Nesse mesmo mês, em 22, sai a público o primeiro número do “Jornal Torrejano” (numa II série do periódico que se publicara, com vários acidentes de percurso, entre 9/10/1884 e 16/5/1915) do qual fui um dos 10 fundadores. Sentia-se, no concelho, a necessidade duma voz democrática, pluralista, que assumisse a informação concelhia e os interesses da população como elementos essenciais do sua acção.
A entrar nos seus trinta anos de publicação, duas conclusões se me impõem;
A - O “Jornal Torrejano” foi o arauto permanente da liberdade e do espírito crítico, assumindo-se de forma corajosa como uma voz denunciadora dos meandros obscuros da política concelhia, numa defesa dos interesses das populações do concelho. A frontalidade da sua acção jornalística tornou-se, verdadeiramente, um caso de estudo, que mereceria uma tese universitária sobre a acção dum órgão da imprensa concelhia e a sua influência num determinado espaço geográfico. Aos novos jovens mestrandos das ciências sociais aconselho-o vivamente.
B – As dificuldades do presente, na sua constante luta pela manutenção da sua sobrevivência, numa sociedade mercantilista para quem o jornal de papel nunca foi uma real e sentida realidade – comum à imprensa portuguesa na sua generalidade -, colocam na balança do tempo a fragilidade da sua existência. No dia em que a imprensa deixar de exercer a sua razão de ser – informar, denunciar, aplaudir, defender, lutar por um mundo mais justo e mais humano – a democracia terá sido substituída, uma vez mais, pelo autoritarismo. E a mentira, a corrupção, o compadrio, a exploração desenfreada dos seres humanos por minorias donas disto tudo, regressarão, como fantasmas ressuscitados dos cemitérios concentracionários dum passado não muito longínquo, de que ainda já não muitos de nós se recordam e sofreram as suas arbitrárias imposições.
A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional. O apoio do Estado à imprensa, nacional ou regional, já noutros países, quer nos EUA, quer nalguns da Comunidade Europeia, é encarado como uma obrigação de defesa do pluralismo democrático, sem que as respectivas subvenções correspondam a uma perda de independência. O caso francês é paradigmático.
Claro que de boas intenções está o inferno cheio, e não se duvida, neste meio estreito, de mentalidade aliterata, que é o Portugal que somos, onde o partidarismo burocrático e acrítico substitui o respeito pelo outro e o legítimo direito à diferença, que não haja a tentativa de, com o apoio, seguir o compromisso do parcialismo.
Mas, para a vermina, há a vacina. A transparência da opinião, a partilha comunitária da intervenção, a defesa dos interesses colectivos, permitirão afastar essas tentações de compadrio. Criarão, antes, uma atmosfera muito mais respirável do que aquela que o poder, que se deseja absoluto, impõe: passar entre os pingos da chuva, tentando que não o incomodem, nem o questionem sobre as suas boas, razoáveis ou más acções.
Não vivemos hoje, no concelho, muito longe dum conceito de acção política de impunidade, em que o autismo do poder e o deixar correr do munícipe avalizam, com consequências visíveis, no ambiente, no património, na saúde, na habitação, no urbanismo, na transparência, na informação, uma resignação e um desinteresse absurdamente prejudiciais a uma vida colectiva responsável.
Para onde teria caminhado o concelho de Torres Novas, sem a presença crítica do “Jornal Torrejano”, a caminho dos trinta anos cumpridos, eis uma questão que merece reflexão.
Desejo-lhe, num abraço solidário, que, daqui a vinte anos, o seu cinquentenário mereça o que, hoje, lhe é, municipalmente, recusado: a medalha de mérito concelhio pela defesa da liberdade crítica e plural de informar.
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Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
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