Reflexões sobre um caminho de quase trinta anos - antónio mário santos
Opinião » 2023-09-24 » António Mário Santos"“A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional."
Em Setembro de 1994, com capa de João Carlos Lopes, era publicado o meu estudo Torres Novas nos Finais do Séc. XIX – Subsídios Históricos, onde se inseria um estudo sobre a Imprensa Regional no Concelho de Torres Novas (1853-1926), incluindo as fotografias da primeira página da imprensa aí publicada, desde 1853 a 1978. Por essa altura, após a experiência lograda de “A Forja”, a informação jornalística concelhia centrava-se em dois jornais: “O Almonda”, semanário da igreja católica, desde o 25 de Abril de 1974 tentando adaptar-se às mudanças da política nacional, procurando a conciliação, sempre problemática e mal conseguida, da religião com o pluralismo democrático; e do quinzenário “O Riachense” (II série, Março de 1978), independente, mas cioso do seu bairrismo anti centralista, o que o isolava da sede urbana, a ainda vila, e do restante concelho.
Nesse mesmo mês, em 22, sai a público o primeiro número do “Jornal Torrejano” (numa II série do periódico que se publicara, com vários acidentes de percurso, entre 9/10/1884 e 16/5/1915) do qual fui um dos 10 fundadores. Sentia-se, no concelho, a necessidade duma voz democrática, pluralista, que assumisse a informação concelhia e os interesses da população como elementos essenciais do sua acção.
A entrar nos seus trinta anos de publicação, duas conclusões se me impõem;
A - O “Jornal Torrejano” foi o arauto permanente da liberdade e do espírito crítico, assumindo-se de forma corajosa como uma voz denunciadora dos meandros obscuros da política concelhia, numa defesa dos interesses das populações do concelho. A frontalidade da sua acção jornalística tornou-se, verdadeiramente, um caso de estudo, que mereceria uma tese universitária sobre a acção dum órgão da imprensa concelhia e a sua influência num determinado espaço geográfico. Aos novos jovens mestrandos das ciências sociais aconselho-o vivamente.
B – As dificuldades do presente, na sua constante luta pela manutenção da sua sobrevivência, numa sociedade mercantilista para quem o jornal de papel nunca foi uma real e sentida realidade – comum à imprensa portuguesa na sua generalidade -, colocam na balança do tempo a fragilidade da sua existência. No dia em que a imprensa deixar de exercer a sua razão de ser – informar, denunciar, aplaudir, defender, lutar por um mundo mais justo e mais humano – a democracia terá sido substituída, uma vez mais, pelo autoritarismo. E a mentira, a corrupção, o compadrio, a exploração desenfreada dos seres humanos por minorias donas disto tudo, regressarão, como fantasmas ressuscitados dos cemitérios concentracionários dum passado não muito longínquo, de que ainda já não muitos de nós se recordam e sofreram as suas arbitrárias imposições.
A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional. O apoio do Estado à imprensa, nacional ou regional, já noutros países, quer nos EUA, quer nalguns da Comunidade Europeia, é encarado como uma obrigação de defesa do pluralismo democrático, sem que as respectivas subvenções correspondam a uma perda de independência. O caso francês é paradigmático.
Claro que de boas intenções está o inferno cheio, e não se duvida, neste meio estreito, de mentalidade aliterata, que é o Portugal que somos, onde o partidarismo burocrático e acrítico substitui o respeito pelo outro e o legítimo direito à diferença, que não haja a tentativa de, com o apoio, seguir o compromisso do parcialismo.
Mas, para a vermina, há a vacina. A transparência da opinião, a partilha comunitária da intervenção, a defesa dos interesses colectivos, permitirão afastar essas tentações de compadrio. Criarão, antes, uma atmosfera muito mais respirável do que aquela que o poder, que se deseja absoluto, impõe: passar entre os pingos da chuva, tentando que não o incomodem, nem o questionem sobre as suas boas, razoáveis ou más acções.
Não vivemos hoje, no concelho, muito longe dum conceito de acção política de impunidade, em que o autismo do poder e o deixar correr do munícipe avalizam, com consequências visíveis, no ambiente, no património, na saúde, na habitação, no urbanismo, na transparência, na informação, uma resignação e um desinteresse absurdamente prejudiciais a uma vida colectiva responsável.
Para onde teria caminhado o concelho de Torres Novas, sem a presença crítica do “Jornal Torrejano”, a caminho dos trinta anos cumpridos, eis uma questão que merece reflexão.
Desejo-lhe, num abraço solidário, que, daqui a vinte anos, o seu cinquentenário mereça o que, hoje, lhe é, municipalmente, recusado: a medalha de mérito concelhio pela defesa da liberdade crítica e plural de informar.
Reflexões sobre um caminho de quase trinta anos - antónio mário santos
Opinião » 2023-09-24 » António Mário Santos“A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional.
Em Setembro de 1994, com capa de João Carlos Lopes, era publicado o meu estudo Torres Novas nos Finais do Séc. XIX – Subsídios Históricos, onde se inseria um estudo sobre a Imprensa Regional no Concelho de Torres Novas (1853-1926), incluindo as fotografias da primeira página da imprensa aí publicada, desde 1853 a 1978. Por essa altura, após a experiência lograda de “A Forja”, a informação jornalística concelhia centrava-se em dois jornais: “O Almonda”, semanário da igreja católica, desde o 25 de Abril de 1974 tentando adaptar-se às mudanças da política nacional, procurando a conciliação, sempre problemática e mal conseguida, da religião com o pluralismo democrático; e do quinzenário “O Riachense” (II série, Março de 1978), independente, mas cioso do seu bairrismo anti centralista, o que o isolava da sede urbana, a ainda vila, e do restante concelho.
Nesse mesmo mês, em 22, sai a público o primeiro número do “Jornal Torrejano” (numa II série do periódico que se publicara, com vários acidentes de percurso, entre 9/10/1884 e 16/5/1915) do qual fui um dos 10 fundadores. Sentia-se, no concelho, a necessidade duma voz democrática, pluralista, que assumisse a informação concelhia e os interesses da população como elementos essenciais do sua acção.
A entrar nos seus trinta anos de publicação, duas conclusões se me impõem;
A - O “Jornal Torrejano” foi o arauto permanente da liberdade e do espírito crítico, assumindo-se de forma corajosa como uma voz denunciadora dos meandros obscuros da política concelhia, numa defesa dos interesses das populações do concelho. A frontalidade da sua acção jornalística tornou-se, verdadeiramente, um caso de estudo, que mereceria uma tese universitária sobre a acção dum órgão da imprensa concelhia e a sua influência num determinado espaço geográfico. Aos novos jovens mestrandos das ciências sociais aconselho-o vivamente.
B – As dificuldades do presente, na sua constante luta pela manutenção da sua sobrevivência, numa sociedade mercantilista para quem o jornal de papel nunca foi uma real e sentida realidade – comum à imprensa portuguesa na sua generalidade -, colocam na balança do tempo a fragilidade da sua existência. No dia em que a imprensa deixar de exercer a sua razão de ser – informar, denunciar, aplaudir, defender, lutar por um mundo mais justo e mais humano – a democracia terá sido substituída, uma vez mais, pelo autoritarismo. E a mentira, a corrupção, o compadrio, a exploração desenfreada dos seres humanos por minorias donas disto tudo, regressarão, como fantasmas ressuscitados dos cemitérios concentracionários dum passado não muito longínquo, de que ainda já não muitos de nós se recordam e sofreram as suas arbitrárias imposições.
A defesa do direito à informação tem de ser compreendida como uma obrigação constitucional. O apoio do Estado à imprensa, nacional ou regional, já noutros países, quer nos EUA, quer nalguns da Comunidade Europeia, é encarado como uma obrigação de defesa do pluralismo democrático, sem que as respectivas subvenções correspondam a uma perda de independência. O caso francês é paradigmático.
Claro que de boas intenções está o inferno cheio, e não se duvida, neste meio estreito, de mentalidade aliterata, que é o Portugal que somos, onde o partidarismo burocrático e acrítico substitui o respeito pelo outro e o legítimo direito à diferença, que não haja a tentativa de, com o apoio, seguir o compromisso do parcialismo.
Mas, para a vermina, há a vacina. A transparência da opinião, a partilha comunitária da intervenção, a defesa dos interesses colectivos, permitirão afastar essas tentações de compadrio. Criarão, antes, uma atmosfera muito mais respirável do que aquela que o poder, que se deseja absoluto, impõe: passar entre os pingos da chuva, tentando que não o incomodem, nem o questionem sobre as suas boas, razoáveis ou más acções.
Não vivemos hoje, no concelho, muito longe dum conceito de acção política de impunidade, em que o autismo do poder e o deixar correr do munícipe avalizam, com consequências visíveis, no ambiente, no património, na saúde, na habitação, no urbanismo, na transparência, na informação, uma resignação e um desinteresse absurdamente prejudiciais a uma vida colectiva responsável.
Para onde teria caminhado o concelho de Torres Novas, sem a presença crítica do “Jornal Torrejano”, a caminho dos trinta anos cumpridos, eis uma questão que merece reflexão.
Desejo-lhe, num abraço solidário, que, daqui a vinte anos, o seu cinquentenário mereça o que, hoje, lhe é, municipalmente, recusado: a medalha de mérito concelhio pela defesa da liberdade crítica e plural de informar.
30 anos: o JT e a política - joão carlos lopes » 2024-09-30 » João Carlos Lopes Dir-se-ia que três décadas passaram num ápice. No entanto, foram cerca de 11 mil dias iguais a outros 11 mil dias dos que passaram e dos que hão-de vir. Temos, felizmente, uma concepção e uma percepção emocional da história, como se o corpo vivo da sociedade tivesse os mesmos humores da biologia humana. |
Não tenho nada para dizer - carlos tomé » 2024-09-23 » Carlos Tomé Quando se pergunta a alguém, que nunca teve os holofotes apontados para si, se quer ser entrevistado para um jornal local ou regional, ele diz logo “Entrevistado? Mas não tenho nada para dizer!”. Essa é a resposta que surge mais vezes de gente que nunca teve possibilidade de dar a sua opinião ou de contar um episódio da sua vida, só porque acha que isso não é importante, Toda a gente está inundada pelos canhenhos oficiais do que é importante para a nossa vida e depois dessa verdadeira lavagem ao cérebro é mais que óbvio que o que dizem que é importante está lá por cima a cagar sentenças por tudo e por nada. |
Três décadas a dar notícias - antónio gomes » 2024-09-23 » António Gomes Para lembrar o 30.º aniversário do renascimento do “Jornal Torrejano”, terei de começar, obrigatoriamente, lembrando aqui e homenageando com a devida humildade, o Joaquim da Silva Lopes, infelizmente já falecido. |
Numa floresta de lobos o Jornal Torrejano tem sido o seu Capuchinho Vermelho - antónio mário santos » 2024-09-23 » António Mário Santos Uma existência de trinta anos é um certificado de responsabilidade. Um jornal adulto. Com tarimba, memória, provas dadas. Nasceu como uma urgência local duma informação séria, transparente, num concelho em que a informação era controlada pelo conservadorismo católico e o centrismo municipal subsidiado da Rádio Local. |
Trente Glorieuses - carlos paiva » 2024-09-23 » Carlos Paiva Os gloriosos trinta, a expressão original onde me fui inspirar, tem pouco que ver com longevidade e muito com mudança, desenvolvimento, crescimento, progresso. Refere-se às três décadas pós segunda guerra mundial, em que a Europa galopou para se reconstruir, em mais dimensões que meramente a literal. |
30 anos contra o silêncio - josé mota pereira » 2024-09-23 » José Mota Pereira Nos cerca de 900 anos de história, se dermos como assente que se esta se terá iniciado com as aventuras de D. Afonso Henriques nesta aba da Serra de Aire, os 30 anos de vida do “Jornal Torrejano”, são um tempo muito breve. |
A dimensão intelectual da extrema-direita - jorge carreira maia » 2024-09-23 » Jorge Carreira Maia Quando se avalia o crescimento da extrema-direita, raramente se dá atenção à dimensão cultural. Esta é rasurada de imediato pois considera-se que quem apoia o populismo radical é, por natureza, inculto, crente em teorias da conspiração e se, por um acaso improvável, consegue distinguir o verdadeiro do falso, é para escolher o falso e escarnecer o verdadeiro. |
Falta poesia nos corações (ditos) humanos » 2024-09-19 » Maria Augusta Torcato No passado mês de agosto revisitei a peça de teatro de Bertolt Brecht “Mãe coragem”. O espaço em que a mesma foi representada é extraordinário, as ruínas do Convento do Carmo. A peça anterior a que tinha assistido naquele espaço, “As troianas”, também me havia suscitado a reflexão sobre o modo como as situações humanas se vão repetindo ao longo dos tempos. |
Ministro ou líder do CDS? » 2024-09-17 » Hélder Dias |
Olivença... » 2024-09-17 » Hélder Dias |
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» Hélder Dias
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» 2024-09-19
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» 2024-09-17
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