O Estado e a Igreja, a propósito das JMJ - jorge carreira maia
Não estou certo de que as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), realizadas em Portugal, tenham sido uma afirmação da Igreja portuguesa. Estou convicto, porém, de que foram um poderoso revelador da existência, no país, de uma corrente radical jacobina fortemente aguerrida, apesar de claramente minoritária. Manifestou-se em coisas estapafúrdias, como a decapitação da estátua de Santo António em Torres Novas, ou nos desabafos anticlericais e anticatólicos nas redes sociais, numa espécie de revivescência dos tempos intolerantes da primeira República. Exprimiu-se, em nome da laicidade do Estado, em coisas mais sérias como a contestação da Concordata entre Portugal e o Vaticano e a crítica ao apoio público às JMJ. Vale a pena tentar perceber se esta contestação faz sentido.
Para pensar o problema é necessário compreender que o Estado português actual nasce de duas tradições histórico-políticas. Em primeiro lugar, a tradição nacional, o facto de Portugal ter sido, na prática, uma criação da Igreja Católica. Não apenas no reconhecimento da monarquia portuguesa, mas também na ajuda fundamental dada pela Igreja no processo de reconquista cristã e mesmo de ocupação territorial. Em segundo lugar, uma tradição nascida na Europa pós-guerras religiosas, nomeadamente, nos textos do filósofo britânico John Locke (1632-1704), defende a separação entre o poder político e as instituições religiosas. Os contestatários da Concordata e do apoio à Igreja Católica defendem que as duas tradições são incompatíveis e que deve ser privilegiada a completa independência do Estado em relação à Igreja romana.
O curioso é que na Constituição da República Portuguesa, de 1976, reconhecendo-se a liberdade religiosa, não se afirma, ao contrário do que se passa na Constituição francesa, em lado nenhum que o Estado português é laico. Esta estratégia constitucional não foi uma mera manobra retórica, mas uma forma de compatibilizar as duas tradições, aquela que vem do início da nacionalidade e a que nasce na Europa ilustrada. Esta compatibilização assegurou, ao contrário do tempo da primeira República, a não existência em Portugal de um problema religioso, de um conflito entre a Igreja e as novas instituições. A democracia portuguesa inscreve-se e desenvolve-se num equilíbrio criativo entre o reconhecimento da importância nacional da Igreja Católica e o reconhecimento das liberdades religiosas e de um Estado não confessional. Tanto a Concordata como, agora, o apoio público às JMJ fazem parte desse equilíbrio criativo que está na origem da democracia portuguesa e assegura a paz pública. Mexer nesse equilíbrio seria abrir a caixa de Pandora.
O Estado e a Igreja, a propósito das JMJ - jorge carreira maia
Não estou certo de que as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), realizadas em Portugal, tenham sido uma afirmação da Igreja portuguesa. Estou convicto, porém, de que foram um poderoso revelador da existência, no país, de uma corrente radical jacobina fortemente aguerrida, apesar de claramente minoritária. Manifestou-se em coisas estapafúrdias, como a decapitação da estátua de Santo António em Torres Novas, ou nos desabafos anticlericais e anticatólicos nas redes sociais, numa espécie de revivescência dos tempos intolerantes da primeira República. Exprimiu-se, em nome da laicidade do Estado, em coisas mais sérias como a contestação da Concordata entre Portugal e o Vaticano e a crítica ao apoio público às JMJ. Vale a pena tentar perceber se esta contestação faz sentido.
Para pensar o problema é necessário compreender que o Estado português actual nasce de duas tradições histórico-políticas. Em primeiro lugar, a tradição nacional, o facto de Portugal ter sido, na prática, uma criação da Igreja Católica. Não apenas no reconhecimento da monarquia portuguesa, mas também na ajuda fundamental dada pela Igreja no processo de reconquista cristã e mesmo de ocupação territorial. Em segundo lugar, uma tradição nascida na Europa pós-guerras religiosas, nomeadamente, nos textos do filósofo britânico John Locke (1632-1704), defende a separação entre o poder político e as instituições religiosas. Os contestatários da Concordata e do apoio à Igreja Católica defendem que as duas tradições são incompatíveis e que deve ser privilegiada a completa independência do Estado em relação à Igreja romana.
O curioso é que na Constituição da República Portuguesa, de 1976, reconhecendo-se a liberdade religiosa, não se afirma, ao contrário do que se passa na Constituição francesa, em lado nenhum que o Estado português é laico. Esta estratégia constitucional não foi uma mera manobra retórica, mas uma forma de compatibilizar as duas tradições, aquela que vem do início da nacionalidade e a que nasce na Europa ilustrada. Esta compatibilização assegurou, ao contrário do tempo da primeira República, a não existência em Portugal de um problema religioso, de um conflito entre a Igreja e as novas instituições. A democracia portuguesa inscreve-se e desenvolve-se num equilíbrio criativo entre o reconhecimento da importância nacional da Igreja Católica e o reconhecimento das liberdades religiosas e de um Estado não confessional. Tanto a Concordata como, agora, o apoio público às JMJ fazem parte desse equilíbrio criativo que está na origem da democracia portuguesa e assegura a paz pública. Mexer nesse equilíbrio seria abrir a caixa de Pandora.
![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
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![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
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![]() É um banco, talvez, feliz! Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz! E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar. |
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Gisèle Pelicot é uma mulher comum - joão ribeiro e raquel batista |
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