25 de Abril Sempre! - antónio mário santos
Opinião » 2023-04-24 » António Mário Santos" “O João faz falta, como um símbolo. Porque é importante continuar a ouvir a mensagem da sua voz cristalina."
Observo uma fotografia do João Espanhol e da Celina, que a filha Dulce colocou no Facebook, sobre a participação no 25 de Abril. O João, nestas datas, nunca deixava de colocar o cravo na lapela. Ficou publicamente conhecida a alegria que a sonoridade da sua voz lançava em qualquer sessão onde se comemorasse a revolução dos cravos. 25 de Abril Sempre!
Estava ali, em 2018, pela última vez, inteiro, autêntico, como em 8 de Abtil de 1973, em Aveiro, quando a polícia de choque correu sobre os manifestantes democratas que enchiam a avenida e ele teve o azar de ser um dos que foram bastonados. Vi-o tombar, como vi a Celina enfrentar a bestialidade policial, colocando-se à sua frente. Memórias que me acompanharam décadas a fio, nessa consciência de que a liberdade caminhava nas ruas de Aveiro e discutia o futuro dum país. Havia diversos torrejanos presentes. Comigo, a Manuela, o Orlando Freitas. O Rui Pereira, que fora connosco, encontrava-se noutro lugar, talvez com o irmão.
Enfiámo-nos num café, em busca da abrigo em relação à carga policial. O refúgio seria a casa de banho, mas estava ocupada por umas mulheres que, depois se identificaram, como de Alpiarça. O Orlando, ante o nosso pasmo, chegou-se ao balcão, pediu uma bica. Felizmente, a polícia não tinha ordens para a limpeza geral, o governador civil comprometera-se com a realização da reunião oposicionista. Momentos depois, abandonámos o café e dirigimo-nos ao teatro onde se realizava a sessão de encerramento. Nada mais aconteceu e o regresso a Torres Novas foi tranquilo.
No dia seguinte, segunda-feira, na Escola Industrial e Comercial de Torres Novas, encontrava-me na sala onde trabalhava na catalogação dos livros para a criação da biblioteca escolar, quando a porta se abriu, o director João Rebelo Junior aproximou-se e, dum jacto, inquiriu: António Mário, você esteve no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro? Confirmei-o. Ele conhecia o que eu pensava e defendia. Sabia como eu ensinava e os meios que utilizava nas minhas aulas de história. Não fez qualquer comentário, saindo da sala.
Já numa outra altura, quando no Cineclube o Dr. Amora fizera uma sessão sobre a “Guernica” de Picasso, a minha participação foi dizer dois poemas anticolonialistas de Manuel Alegre, o que criou celeuma – a PIDE/DGS estava entre os assistentes – e obrigou mais tarde a uma reunião no consultório do médico, entre ele, o Arlindo Tavares e au próprio, para se ultrapassar algum pânico que o tema da poesia suscitara.
Na Escola, dias depois, o então vice-presidente da Câmara e colega de profissão, João Tolda Martins, viera informar-me que a Pide tinha ido à Câmara tirar informações a meu respeito, mas tinham-me (referia-se a Fernando Cunha, o presidente, que sempre se opusera no seu mandato a ouras prisões políticas) defendido.
Como andávamos, nessa altura, em reuniões clandestinas para a formação do Sindicato dos Professores, como a realizada nacionalmente num barracão no termo de Aveiro, havia um grupo docente nas duas escolas públicas de então, a Industrial e a do Ciclo Preparatório, que trabalhavam para a democratização do ensino. Pouco conhecido, com muitas vozes femininas, onde fora influente, na década de sessenta, o então padre Manuel Tiago.
49 anos depois, ante o cada vez mais distorcido sonho dum país desenvolvido e responsável, começam a rarear as vozes que sonharam, no fascismo, o seu fim. De entre os muitos que já partiram, importa relembrar algumas figuras sobre quem recaiu nas décadas de sessenta e setenta, o esforço da continuidade da luta clandestina, quando as prisões tinham levado muitos dos comunistas torrejanos para a cadeia. A família Tavares, o Arlindo e a Fernanda, a loja do João, o Carlos Trincão Marques, e um sem número de jovens que, no Cineclube, e, mais tarde, também no Centro de Juventude, defendiam uma cultura que se opunha clara e publicamente à mentalidade situacionista.
O João faz falta, como um símbolo. Porque é importante, apesar da torpe e podre situação política a que chegou a democracia portuguesa, continuar a ouvir a mensagem da sua voz cristalina: 25 de Abril Sempre!
Um beijo, Dulce.
25 de Abril Sempre! - antónio mário santos
Opinião » 2023-04-24 » António Mário Santos“O João faz falta, como um símbolo. Porque é importante continuar a ouvir a mensagem da sua voz cristalina.
Observo uma fotografia do João Espanhol e da Celina, que a filha Dulce colocou no Facebook, sobre a participação no 25 de Abril. O João, nestas datas, nunca deixava de colocar o cravo na lapela. Ficou publicamente conhecida a alegria que a sonoridade da sua voz lançava em qualquer sessão onde se comemorasse a revolução dos cravos. 25 de Abril Sempre!
Estava ali, em 2018, pela última vez, inteiro, autêntico, como em 8 de Abtil de 1973, em Aveiro, quando a polícia de choque correu sobre os manifestantes democratas que enchiam a avenida e ele teve o azar de ser um dos que foram bastonados. Vi-o tombar, como vi a Celina enfrentar a bestialidade policial, colocando-se à sua frente. Memórias que me acompanharam décadas a fio, nessa consciência de que a liberdade caminhava nas ruas de Aveiro e discutia o futuro dum país. Havia diversos torrejanos presentes. Comigo, a Manuela, o Orlando Freitas. O Rui Pereira, que fora connosco, encontrava-se noutro lugar, talvez com o irmão.
Enfiámo-nos num café, em busca da abrigo em relação à carga policial. O refúgio seria a casa de banho, mas estava ocupada por umas mulheres que, depois se identificaram, como de Alpiarça. O Orlando, ante o nosso pasmo, chegou-se ao balcão, pediu uma bica. Felizmente, a polícia não tinha ordens para a limpeza geral, o governador civil comprometera-se com a realização da reunião oposicionista. Momentos depois, abandonámos o café e dirigimo-nos ao teatro onde se realizava a sessão de encerramento. Nada mais aconteceu e o regresso a Torres Novas foi tranquilo.
No dia seguinte, segunda-feira, na Escola Industrial e Comercial de Torres Novas, encontrava-me na sala onde trabalhava na catalogação dos livros para a criação da biblioteca escolar, quando a porta se abriu, o director João Rebelo Junior aproximou-se e, dum jacto, inquiriu: António Mário, você esteve no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro? Confirmei-o. Ele conhecia o que eu pensava e defendia. Sabia como eu ensinava e os meios que utilizava nas minhas aulas de história. Não fez qualquer comentário, saindo da sala.
Já numa outra altura, quando no Cineclube o Dr. Amora fizera uma sessão sobre a “Guernica” de Picasso, a minha participação foi dizer dois poemas anticolonialistas de Manuel Alegre, o que criou celeuma – a PIDE/DGS estava entre os assistentes – e obrigou mais tarde a uma reunião no consultório do médico, entre ele, o Arlindo Tavares e au próprio, para se ultrapassar algum pânico que o tema da poesia suscitara.
Na Escola, dias depois, o então vice-presidente da Câmara e colega de profissão, João Tolda Martins, viera informar-me que a Pide tinha ido à Câmara tirar informações a meu respeito, mas tinham-me (referia-se a Fernando Cunha, o presidente, que sempre se opusera no seu mandato a ouras prisões políticas) defendido.
Como andávamos, nessa altura, em reuniões clandestinas para a formação do Sindicato dos Professores, como a realizada nacionalmente num barracão no termo de Aveiro, havia um grupo docente nas duas escolas públicas de então, a Industrial e a do Ciclo Preparatório, que trabalhavam para a democratização do ensino. Pouco conhecido, com muitas vozes femininas, onde fora influente, na década de sessenta, o então padre Manuel Tiago.
49 anos depois, ante o cada vez mais distorcido sonho dum país desenvolvido e responsável, começam a rarear as vozes que sonharam, no fascismo, o seu fim. De entre os muitos que já partiram, importa relembrar algumas figuras sobre quem recaiu nas décadas de sessenta e setenta, o esforço da continuidade da luta clandestina, quando as prisões tinham levado muitos dos comunistas torrejanos para a cadeia. A família Tavares, o Arlindo e a Fernanda, a loja do João, o Carlos Trincão Marques, e um sem número de jovens que, no Cineclube, e, mais tarde, também no Centro de Juventude, defendiam uma cultura que se opunha clara e publicamente à mentalidade situacionista.
O João faz falta, como um símbolo. Porque é importante, apesar da torpe e podre situação política a que chegou a democracia portuguesa, continuar a ouvir a mensagem da sua voz cristalina: 25 de Abril Sempre!
Um beijo, Dulce.
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