O medo e a racionalidade política
Opinião » 2015-06-18 » Jorge Carreira Maia"Quando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos."
O medo é um elemento estrutural na vida política. Por estranho e irrazoável que isso possa parecer, o medo tem, muitas vezes, um papel moderador e racionalizante dos agentes políticos. Peguemos, mais uma vez, no exemplo grego e nas opções maximalistas da União Europeia. Se nada atemorizar a União Europeia e o FMI, os gregos pura e simplesmente serão abandonados à sua sorte (a qual não foi apenas criação sua, antes pelo contrário).
Veja-se, por exemplo, a posição dos países de cultura católica perante os gregos. São tão furiosas como as dos outros. O que é interessante é que muitos economistas que apoiam as posições da UE e do FMI são católicos e foram formados em universidades católicas. Ora não há, neste momento, política que esteja mais contra a doutrina social da Igreja e a prédica do Papa do que a que eles defendem. Na verdade, não têm medo do Papa nem sequer do inferno. Ao perderem o medo tornaram-se os agentes de políticas que, segundo o Papa, infringem o mandamento «Não matarás!».
Imaginemos, agora, um outro cenário político. Por um momento, fantasiemos que a União Soviética ainda existia e o Muro de Berlim não tinha caído. Nessas circunstâncias, o leitor acharia que a posição da União Europeia seria a mesma? Os gregos seriam, na mesma, continuamente humilhados e ofendidos e não se teria em conta as opções da democracia grega? Nessas circunstâncias nem teria havido problema.
O Syriza não seria sequer eleito, pois a União Europeia seria benévola com os gregos e qualquer dos partidos do arco da governação resolveria a situação. A UE dilataria os prazos de pagamento, anexá-los-ia ao crescimento económico, defenderia as pensões que agora quer cortar e aprovaria os salários praticados sem falar em cortes. Nem exigiria reformas. O medo levaria a União Europeia a ter uma posição construtiva e solidária com os gregos (e com os portugueses, pois deixem passar as eleições e preparem-se para o que vem aí). Quando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos. A vida é o que é.
O medo e a racionalidade política
Opinião » 2015-06-18 » Jorge Carreira MaiaQuando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos.
O medo é um elemento estrutural na vida política. Por estranho e irrazoável que isso possa parecer, o medo tem, muitas vezes, um papel moderador e racionalizante dos agentes políticos. Peguemos, mais uma vez, no exemplo grego e nas opções maximalistas da União Europeia. Se nada atemorizar a União Europeia e o FMI, os gregos pura e simplesmente serão abandonados à sua sorte (a qual não foi apenas criação sua, antes pelo contrário).
Veja-se, por exemplo, a posição dos países de cultura católica perante os gregos. São tão furiosas como as dos outros. O que é interessante é que muitos economistas que apoiam as posições da UE e do FMI são católicos e foram formados em universidades católicas. Ora não há, neste momento, política que esteja mais contra a doutrina social da Igreja e a prédica do Papa do que a que eles defendem. Na verdade, não têm medo do Papa nem sequer do inferno. Ao perderem o medo tornaram-se os agentes de políticas que, segundo o Papa, infringem o mandamento «Não matarás!».
Imaginemos, agora, um outro cenário político. Por um momento, fantasiemos que a União Soviética ainda existia e o Muro de Berlim não tinha caído. Nessas circunstâncias, o leitor acharia que a posição da União Europeia seria a mesma? Os gregos seriam, na mesma, continuamente humilhados e ofendidos e não se teria em conta as opções da democracia grega? Nessas circunstâncias nem teria havido problema.
O Syriza não seria sequer eleito, pois a União Europeia seria benévola com os gregos e qualquer dos partidos do arco da governação resolveria a situação. A UE dilataria os prazos de pagamento, anexá-los-ia ao crescimento económico, defenderia as pensões que agora quer cortar e aprovaria os salários praticados sem falar em cortes. Nem exigiria reformas. O medo levaria a União Europeia a ter uma posição construtiva e solidária com os gregos (e com os portugueses, pois deixem passar as eleições e preparem-se para o que vem aí). Quando o medo de uma das partes desaparece, a racionalidade da vida política é destruída e os fortes, sejam eles quem forem, não hesitarão em esmagar os fracos. A vida é o que é.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
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