Amor, vamos dar um tempo
Opinião » 2019-04-20 » Ana Sentieiro"Partiste-me o coração, em vários e indistinguíveis pedacinhos, atiraste a minha autoestima para um local sombrio "
Puberdade, temo que interpretes as minhas palavras de modo leviano, mas penso que chegámos àquele momento da relação em que já não faz sentido continuar. Desculpa, não tenciono desvalorizar o teu impacto em mim ou na minha vida nestes últimos anos que tivemos juntos, aliás, qualquer pessoa perceberia, ao olhar para a minha cara, iluminada por um tímido sorriso, que a tua presença era constante, quase como se fossemos um só.
As características que mais me impressionam em ti são, sem dúvida alguma, o teu sentido de oportunidade e a tua persistência.
Sempre foste inacreditavelmente conveniente no que diz respeito ao momento e local para despertares um conflito.
“Querida, hoje vou jantar com os meus amigos…”
“AHHH sim?! Não me disseste nada?!”
“Sim, o Zé faz anos e vamos à marisqueira. Tu sabes aquela ao pé do consultório de cardiologia do Dr. Lemos, que vende bebidas com gás em garrafas de vidro e tem uns guardanapos rascas, que só dão para limpar o canto direito da boca…”
“Quem vai?”
“A malta do costume…”
“Isso inclui a Carla do decote”
“Querida, já tivemos esta conversa e não me parece a altura indicada para começar uma discussão… Sabes que só tenho olhos para ti e para o teu decote!”
“Tudo bem, querido”, e eis que decides cuspir-me na cara uma borbulha, bem branquinha, com as proporções do monte Evereste, e nem tens a compaixão de recorreres à simetria, limitaste a colocá-la num local bem visível sem respeitar o padrão dos contornos do meu rosto. ”Diverte-te!”
“Obrigado”, o meu objetivo é conseguir fugir a todas as selfies ou boomerangs que voam direitinhos para o instagram…
Contudo, não posso dizer que foste fiel. Apercebi-me de que vivias um romance com Gabriel dos olhos verdes. E com o Rafael que conduz a scotter do pai. E com o Daniel dos cabelos loiros encaracolados que tem uma cicatriz no sobrolho dirieto. E com o Ismael que calça o 45 e três quartos. Partiste-me o coração, em vários e indistinguíveis pedacinhos, atiraste a minha autoestima para um local sombrio onde apenas se ouve o ecoar de nomes cuja origem hebraica remete para a bíblia, impediste a construção de novos relacionamentos e obrigaste-me a redescobrir a minha essência através da escrita.
Acredito que é a melhor decisão a tomar. Sinto-me capaz de enfrentar o mundo de cabeça erguida, isenta da máscara que em mim pintaste. Pega na tua escova de dentes, nos teus iogurtes de pedaços sem glúten e no teu álbum do Justin Bieber (refiro-me ao Belive e não ao Belive Acoustic, esse até é agradável, podes deixar…), saí da minha vida e não voltes. Nem te atrevas a regressar com palmadinhas nas costas, não vale a pena, dou por terminada a nossa instável e desonesta relação que, à semelhança de um episódio de Game of Thrones, nos fez sorrir, chorar, corar, tapar os olhos, questionar a condição e fisionomia humana e comer pipocas.
Obrigado por tudo mas ficarei à espera do Simon Baker.
Amor, vamos dar um tempo
Opinião » 2019-04-20 » Ana SentieiroPartiste-me o coração, em vários e indistinguíveis pedacinhos, atiraste a minha autoestima para um local sombrio
Puberdade, temo que interpretes as minhas palavras de modo leviano, mas penso que chegámos àquele momento da relação em que já não faz sentido continuar. Desculpa, não tenciono desvalorizar o teu impacto em mim ou na minha vida nestes últimos anos que tivemos juntos, aliás, qualquer pessoa perceberia, ao olhar para a minha cara, iluminada por um tímido sorriso, que a tua presença era constante, quase como se fossemos um só.
As características que mais me impressionam em ti são, sem dúvida alguma, o teu sentido de oportunidade e a tua persistência.
Sempre foste inacreditavelmente conveniente no que diz respeito ao momento e local para despertares um conflito.
“Querida, hoje vou jantar com os meus amigos…”
“AHHH sim?! Não me disseste nada?!”
“Sim, o Zé faz anos e vamos à marisqueira. Tu sabes aquela ao pé do consultório de cardiologia do Dr. Lemos, que vende bebidas com gás em garrafas de vidro e tem uns guardanapos rascas, que só dão para limpar o canto direito da boca…”
“Quem vai?”
“A malta do costume…”
“Isso inclui a Carla do decote”
“Querida, já tivemos esta conversa e não me parece a altura indicada para começar uma discussão… Sabes que só tenho olhos para ti e para o teu decote!”
“Tudo bem, querido”, e eis que decides cuspir-me na cara uma borbulha, bem branquinha, com as proporções do monte Evereste, e nem tens a compaixão de recorreres à simetria, limitaste a colocá-la num local bem visível sem respeitar o padrão dos contornos do meu rosto. ”Diverte-te!”
“Obrigado”, o meu objetivo é conseguir fugir a todas as selfies ou boomerangs que voam direitinhos para o instagram…
Contudo, não posso dizer que foste fiel. Apercebi-me de que vivias um romance com Gabriel dos olhos verdes. E com o Rafael que conduz a scotter do pai. E com o Daniel dos cabelos loiros encaracolados que tem uma cicatriz no sobrolho dirieto. E com o Ismael que calça o 45 e três quartos. Partiste-me o coração, em vários e indistinguíveis pedacinhos, atiraste a minha autoestima para um local sombrio onde apenas se ouve o ecoar de nomes cuja origem hebraica remete para a bíblia, impediste a construção de novos relacionamentos e obrigaste-me a redescobrir a minha essência através da escrita.
Acredito que é a melhor decisão a tomar. Sinto-me capaz de enfrentar o mundo de cabeça erguida, isenta da máscara que em mim pintaste. Pega na tua escova de dentes, nos teus iogurtes de pedaços sem glúten e no teu álbum do Justin Bieber (refiro-me ao Belive e não ao Belive Acoustic, esse até é agradável, podes deixar…), saí da minha vida e não voltes. Nem te atrevas a regressar com palmadinhas nas costas, não vale a pena, dou por terminada a nossa instável e desonesta relação que, à semelhança de um episódio de Game of Thrones, nos fez sorrir, chorar, corar, tapar os olhos, questionar a condição e fisionomia humana e comer pipocas.
Obrigado por tudo mas ficarei à espera do Simon Baker.
Caminho de Abril - maria augusta torcato » 2024-04-22 » Maria Augusta Torcato Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável. |
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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» 2024-04-22
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