• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sexta, 19 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Seg.
 26° / 11°
Céu limpo
Dom.
 25° / 11°
Períodos nublados com chuva fraca
Sáb.
 23° / 14°
Céu nublado com aguaceiros e trovoadas
Torres Novas
Hoje  26° / 13°
Períodos nublados com chuva fraca
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

A SAGA / FUGA DE FRANCISCO DUARTE MENDES

Opinião  »  2020-03-07  »  José Alves Pereira

O título deste texto é uma adaptação, a partir de uma obra de ficção, do escritor galego Gonzalo Torrente Ballester, A Saga e Fuga de J.B. Como veremos, seria difícil encontrar um título que melhor correspondesse aos factos aqui reportados, sendo que são já poucos os viventes que de tal guardam memória.

Quem foi Francisco Duarte Mendes, chamado de “Chico” Mendes pelos da sua geração? Era um cidadão nascido em Torres Novas, em 18.10.1922, exercendo a profissão de torneiro mecânico, casado e morador na rua Miguel de Arnide, n.º 11, um pouco acima da Igreja de Santiago. Envolvido nas actividades oposicionistas ao regime salazarista foi preso, pela primeira vez, em 16.10.1947, saindo em liberdade condicional, sob caução, em 14.8.1948. Num documento da PIDE, datado de 1953, é indicado como “Elemento Disperso” do PCP com ligações ao MUDJ (Movimento de Unidade Democrática Juvenil), na organização de Torres Novas.

Volta à prisão em 1.7.1952, onde se mantém até 15.6.1954, data em que sai, para ficar em liberdade condicional até 8.5.1957. Durante os cerca de 3 anos e 2 meses encarcerado, vai passar pelo designado Depósito de Presos de Caxias, Cadeia do Aljube e a sua enfermaria e Cadeia do Forte de Peniche. É julgado duas vezes no Tribunal Plenário da Boa-Hora. Pelo meio, sofreu as habituais medidas de segurança, que lhe iam prolongando o cativeiro, a perda de direitos políticos e o pagamento de cauções.
Após a saída da prisão, retoma a actividade profissional, como operário de manutenção de equipamentos, na Fábrica de Curtumes de Joaquim da Viúva, Vila Moreira (Alcanena). Reata ligações políticas através de Manuel Coelho Dias, que também estivera preso 6 meses. Em 1960(?) é orador numa reunião comemorativa do 1.º de Maio, realizada na Pensão Matias (Alcanena?).

Em 21 de Setembro de 1961, a PIDE vai fazer nova razia de prisões em Torres Novas, depois das dezenas verificadas em 1952. Noite adentro e durante todo o dia, sem mandatos de detenção, nas residências, locais de trabalho e mesmo na via pública, 20 trabalhadores, a maioria da Organização local do PCP, são presos. Faltava uma prisão para completar a rusga. Passava um pouco da meia-noite quando batem à porta do “Chico” Mendes. São recebidos por Francelina, sua esposa. Esta chama o marido e avisa os agentes da PIDE que aquele se estaria a vestir, dado já estar deitado. Ouve-se, durante minutos, a água do lavatório a correr. Desconfiados com a demora, os algozes irrompem pela casa e... do Francisco Duarte Mendes, nem sinais. Ter-se-ia escapado por uma pequena janela traseira, palmilhado alguns telhados, descido para o Bairro de Valverde, pegado na sua Lambretta e arrancado para Alcanena. Ali, depois de uma porta se lhe ter fechado, foi abrigado pela democrata alcanenense D. Esmeralda Flora Bento, e encaminhado para uma casa amiga, numa localidade próxima, onde se manteve alguns dias. Levado para Alpiarça, esteve escondido no sótão da Praça do Peixe(?), onde era apoiado por Carlos Pinhão Correia, membro do PCP, também este já com várias passagens pela cadeia. Transcorridos alguns dias, foi levado para Lisboa, hospedando-se numa pensão onde se fazia passar por estudante nocturno, iniciando um período de actividade política clandestina. Emigra para Marrocos donde passa para França, arredores de Paris. Aí vai integrar uma organização do PCP denominada Originários de Portugal, visando os contactos e ajudas aos emigrantes portugueses.

Após o 25 de Abril de 1974, regressa a Portugal e a Torres Novas. No final da manifestação do 1.º de Maio é orador, na condição de exilado político, da varanda do Cine-Teatro Virgínia. Creio bem que se justifica o título do texto “A Saga/Fuga de Francisco Duarte Mendes”. Pelo caminho desta aventurosa odisseia, muitos passos e episódios se perderam, outros não se puderam confirmar. A história não documentada vai-se diluindo com o desaparecimento dos protagonistas e das memórias do seu tempo. Fica o registo possível de um episódio da resistência antifascista em Torres Novas.

NOTA - Além de algumas recordações pessoais, foram essenciais para a elaboração deste texto: o registo cadastral obtido do arquivo digital da Torre do Tombo e a transcrição de fragmentos de uma conversa gravada, em Março de 2019, por Rui Alves Pereira, com Helena Ramos Silva e Jorge Maurício Frazão, que conviveu de perto com o Francisco Duarte Mendes. Utilizámos este nome, por ser o que consta no registo criminal, embora, a julgar pelos apelidos dos pais e por esclarecimento de um dos depoentes, o verdadeiro seria Francisco Mendes Duarte.

 

 

 Outras notícias - Opinião


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)


2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões »  2024-02-22  »  Jorge Cordeiro Simões

 

 


O dia 5 de Fevereiro de 2032, em que o Francisco Falcão fez 82 anos - aos quais nunca julgara ir chegar -, nasceu ainda mais frio do que os anteriores e este Inverno parecia ser nisso ainda pior que os que o antecederam, o que contribuiu para que cada vez com mais frequência ele se fosse deixando ficar na cama até mais tarde e neste dia festivo só de lá iria sair depois do meio-dia.
(ler mais...)


Avivar a memória - antónio gomes »  2024-02-22  »  António Gomes

Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento.

Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia