A roleta russa - jorge carreira maia
"É preciso que o Estado não se demita das funções de segurança e protecção dos cidadãos"
A questão do novo coronavírus tornou-se uma espécie de roleta russa em dois momentos. No primeiro, o tambor da pistola roda para descobrirmos se somos ou não contaminados. Caso sejamos, ele torna a rodar, agora de forma decisiva. Estamos entre os que resistem ou os que sucumbem. Desde o princípio que as coisas são assim. No entanto, a intervenção política atempada impediu um desastre. Agora, porém, o governo vai interferir o menos possível e parece deixar quase completamente desregulado o mercado das contaminações. Basta ver as medidas mobilizadas para o sector da educação para se perceber que o país está metido num jogo de azar. Na prática, a orientação do governo coloca nas mãos dos cidadãos o combate à pandemia e a tarefa de se defenderem. No Público, Ana Sá Lopes escreveu que Portugal está agora a seguir a via sueca.
Isto lembra os tempos em que Sócrates achava que deveríamos seguir na educação a via finlandesa. Um desastre, claro, pois os portugueses não são finlandeses. A via sueca de combate à pandemia tem o mesmo problema. Nós não somos suecos. O nosso comportamento social, as nossas tradições comunitárias, a forma como nos relacionamos, nada disso se pode comparar ao que se passa na Suécia. Uma leitura benévola da nova orientação governamental poderia vir dos círculos liberais. O liberalismo advoga que cada um seja responsável por si, que sejam os cidadãos e não Estado a tomar decisões sobre como as pessoas se devem proteger. É isto que parece ser a nova política para a situação que se vive. Ora, tal como não somos suecos, também nunca fomos liberais, nem nunca vimos a autonomia pessoal como uma virtude particularmente estimável.
Para que a economia não pare e, ao mesmo tempo, não assistamos a uma catástrofe na saúde pública, para que o azar da roleta russa seja mitigado ao máximo, é necessário que os dirigentes políticos tratem os portugueses como portugueses e não efabulem sobre a nossa capacidade de nos respeitarmos uns aos outros. É preciso que o Estado não se demita das funções de segurança e protecção dos cidadãos. Isso não significa parar o país e fechar as pessoas em casa. Significa ter políticas muito claras de regulação dos comportamentos e de as fazer cumprir sem tergiversar. Não parece ser esta a melhor altura para uma súbita conversão dos socialistas ao liberalismo. Se for necessário, para a defesa da saúde e segurança públicas, o Estado ser paternalista, esta é uma ocasião em que esse paternalismo se justifica. O resto é colocar cada um de nós a jogar à roleta russa.
A roleta russa - jorge carreira maia
É preciso que o Estado não se demita das funções de segurança e protecção dos cidadãos
A questão do novo coronavírus tornou-se uma espécie de roleta russa em dois momentos. No primeiro, o tambor da pistola roda para descobrirmos se somos ou não contaminados. Caso sejamos, ele torna a rodar, agora de forma decisiva. Estamos entre os que resistem ou os que sucumbem. Desde o princípio que as coisas são assim. No entanto, a intervenção política atempada impediu um desastre. Agora, porém, o governo vai interferir o menos possível e parece deixar quase completamente desregulado o mercado das contaminações. Basta ver as medidas mobilizadas para o sector da educação para se perceber que o país está metido num jogo de azar. Na prática, a orientação do governo coloca nas mãos dos cidadãos o combate à pandemia e a tarefa de se defenderem. No Público, Ana Sá Lopes escreveu que Portugal está agora a seguir a via sueca.
Isto lembra os tempos em que Sócrates achava que deveríamos seguir na educação a via finlandesa. Um desastre, claro, pois os portugueses não são finlandeses. A via sueca de combate à pandemia tem o mesmo problema. Nós não somos suecos. O nosso comportamento social, as nossas tradições comunitárias, a forma como nos relacionamos, nada disso se pode comparar ao que se passa na Suécia. Uma leitura benévola da nova orientação governamental poderia vir dos círculos liberais. O liberalismo advoga que cada um seja responsável por si, que sejam os cidadãos e não Estado a tomar decisões sobre como as pessoas se devem proteger. É isto que parece ser a nova política para a situação que se vive. Ora, tal como não somos suecos, também nunca fomos liberais, nem nunca vimos a autonomia pessoal como uma virtude particularmente estimável.
Para que a economia não pare e, ao mesmo tempo, não assistamos a uma catástrofe na saúde pública, para que o azar da roleta russa seja mitigado ao máximo, é necessário que os dirigentes políticos tratem os portugueses como portugueses e não efabulem sobre a nossa capacidade de nos respeitarmos uns aos outros. É preciso que o Estado não se demita das funções de segurança e protecção dos cidadãos. Isso não significa parar o país e fechar as pessoas em casa. Significa ter políticas muito claras de regulação dos comportamentos e de as fazer cumprir sem tergiversar. Não parece ser esta a melhor altura para uma súbita conversão dos socialistas ao liberalismo. Se for necessário, para a defesa da saúde e segurança públicas, o Estado ser paternalista, esta é uma ocasião em que esse paternalismo se justifica. O resto é colocar cada um de nós a jogar à roleta russa.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |