Relembrando Joaquim Rodrigues Bicho - antónio mário santos
"A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica"
Quando este fim de semana, soube que o Partido Socialista votara, na última Assembleia Municipal, contra a denominação toponímica “Fábrica Grande”, proposta pelo Bloco de Esquerda - mantendo Torres Novas Factory – para o espaço onde se situava a Fábrica de Fiação e Tecidos de Torres Novas, alegando ainda não ser tempo de definição do espaço, confesso que, como munícipe deste concelho, me senti ofendido. Que querem? Faço parte duma história concelhia em que Torres Novas estruturara a sua vida industrial, no século XX, no qual, do século XIX, se identificavam, como elementos centrais, a Fábrica Grande (1845) e a fábrica de Fundição e Serralharia Mecânica de José da Costa Nery (1855), entre uma multidão de lojas de artífices, indústria familiar, promovendo um comércio que ia paulatinamente em crescendo, a partir do prolongamento da circulação ferroviária para o distrito de Santarém, num concelho predominantemente agrário.
Daí que – siga-se a diversa imprensa dos século XIX e 1ª República, até à fascização do regime e à monopolização informativa de O Almonda –, a industrialização se renove, a partir da década de vinte, com a pequena e média indústria metalúrgica, a tecelagem, mas também o papel (já com tentativas do século XIX), a tinturaria, a moagem, as de origem agrícola, como a do tomate, a aguardente de figo, o álcool, os transportes rodoviários, as telecomunicações.
Mas, simbólicas, a Nery e a Fábrica Grande.
Quem, como eu, privilegiado estudante do Colégio Andrade Corvo, passou a sua adolescência a encontrar, diário, no seu caminho, o fato macaco operário, a conviver com muitos desses trabalhadores, nas ruas, tabernas e cafés da vila, frequentar, na fase adolescente, os bailes na sede da Banda Operária Torrejana, e mais tarde, como professor da Escola Industrial e Comercial, a conviver com os futuros técnicos, dificilmente aceita essa opção da política contemporânea de cedência à língua inglesa para definição da realidade nacional. Por três ordens de razões. Uma, histórica: a colonização inglesa, a que Portugal se sujeitou durante séculos, minimizou e secundarizou o nativo luso, transformado em colonizado servil. A segunda, política. Por orgulho ideólogico de tradição familiar, assente no 31 de Janeiro de 1891, data da primeira revolta republicana lusa contra o imperialismo inglês. Terceiro, por defesa da língua e cultura portuguesa. Nunca vi ou soube de vocabulário português adoptado pela Inglaterra, na sua toponímia ou no seu quotidiano, com excepção da nostalgia lusa do emigrante a relembrar a origem do seu fado.
O inglês médio considera-se orgulhosamente acima da balbúrdia etno-linguística europeia. É um colonizador, não se mistura. É um director, um chefe, nunca um subordinado. O exemplo recente da corte com a União Europeia bem o demonstra. Os menus dos restaurantes e hotéis no Algarve colonizado o assinalam.
A universalidade da língua inglesa no mundo contemporâneo não monopoliza o diverso da mentalidade das sociedades humanas. O mal estar que me invadiu, pela negação socialista do topónimo “Fábrica Grande”, só por ser apresentado pelo Bloco de Esquerda, breve se dissipou. Raciocinando, com frieza, não poderia a reacção do actual PS ser outra. Pouco ou nada herdou do PS dum Pena do Reis, dum Agostinho, dum Pedro Natal da Luz. Não sei mesmo se os vereadores socialistas com quem convivi e partilhei a oposição municipal, durante quase oito anos, aprovariam tal opção. A culpa, a meu ver, foi (é-o ainda) do Dr. Mário Soares. Em vida, encerrou o socialismo numa gaveta. Quando morreu, ninguém conseguiu descobrir qual o armário, e a gaveta guardadora. E mesmo que o descobrissem, a chave parece ter desaparecido. Daí que os socialistas coevos errem entre os caminhos tortuosos. Mas gratificantes, do capitalismo monopolista e o liberalismo beato do conservadorismo humanista, que a maçonaria e a Opus Dei disputam em tudo quanto é órgão de tutela ou de informação.
Aos senhores deputados municipais e respectivos presidentes de junta, actualmente eleitos, aconselho, para compreenderem o acerto da proposta do Bloco de Esquerda, a leitura do livro do insuspeito Joaquim Rodrigues Bicho, A Fábrica Grande, Subsídios para a História da Companhia de Torres Novas, publicado pela insuspeita Câmara Municipal Socialista concelhia, em Maio de 1997.
Joaquim Bicho encerra o seu livro (pg.191): «A Cidade tem uma fábrica que lhe deu topónimos e diariamente a desperta com um apito a vapor. O seu silvo que, no passado, distinguia a Fábrica Grande das outras, é hoje um símbolo que não nos resignaríamos a perder.»
Perdemos. A Fábrica. Mas não o símbolo. A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica duma comunidade operária concelhia.
Como estudioso da história local, como munícipe, em defesa do património municipal, estou com a afirmação de Joaquim Rodrigues Bicho e a proposta do Bloco de Esquerda.
Relembrando Joaquim Rodrigues Bicho - antónio mário santos
A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica
Quando este fim de semana, soube que o Partido Socialista votara, na última Assembleia Municipal, contra a denominação toponímica “Fábrica Grande”, proposta pelo Bloco de Esquerda - mantendo Torres Novas Factory – para o espaço onde se situava a Fábrica de Fiação e Tecidos de Torres Novas, alegando ainda não ser tempo de definição do espaço, confesso que, como munícipe deste concelho, me senti ofendido. Que querem? Faço parte duma história concelhia em que Torres Novas estruturara a sua vida industrial, no século XX, no qual, do século XIX, se identificavam, como elementos centrais, a Fábrica Grande (1845) e a fábrica de Fundição e Serralharia Mecânica de José da Costa Nery (1855), entre uma multidão de lojas de artífices, indústria familiar, promovendo um comércio que ia paulatinamente em crescendo, a partir do prolongamento da circulação ferroviária para o distrito de Santarém, num concelho predominantemente agrário.
Daí que – siga-se a diversa imprensa dos século XIX e 1ª República, até à fascização do regime e à monopolização informativa de O Almonda –, a industrialização se renove, a partir da década de vinte, com a pequena e média indústria metalúrgica, a tecelagem, mas também o papel (já com tentativas do século XIX), a tinturaria, a moagem, as de origem agrícola, como a do tomate, a aguardente de figo, o álcool, os transportes rodoviários, as telecomunicações.
Mas, simbólicas, a Nery e a Fábrica Grande.
Quem, como eu, privilegiado estudante do Colégio Andrade Corvo, passou a sua adolescência a encontrar, diário, no seu caminho, o fato macaco operário, a conviver com muitos desses trabalhadores, nas ruas, tabernas e cafés da vila, frequentar, na fase adolescente, os bailes na sede da Banda Operária Torrejana, e mais tarde, como professor da Escola Industrial e Comercial, a conviver com os futuros técnicos, dificilmente aceita essa opção da política contemporânea de cedência à língua inglesa para definição da realidade nacional. Por três ordens de razões. Uma, histórica: a colonização inglesa, a que Portugal se sujeitou durante séculos, minimizou e secundarizou o nativo luso, transformado em colonizado servil. A segunda, política. Por orgulho ideólogico de tradição familiar, assente no 31 de Janeiro de 1891, data da primeira revolta republicana lusa contra o imperialismo inglês. Terceiro, por defesa da língua e cultura portuguesa. Nunca vi ou soube de vocabulário português adoptado pela Inglaterra, na sua toponímia ou no seu quotidiano, com excepção da nostalgia lusa do emigrante a relembrar a origem do seu fado.
O inglês médio considera-se orgulhosamente acima da balbúrdia etno-linguística europeia. É um colonizador, não se mistura. É um director, um chefe, nunca um subordinado. O exemplo recente da corte com a União Europeia bem o demonstra. Os menus dos restaurantes e hotéis no Algarve colonizado o assinalam.
A universalidade da língua inglesa no mundo contemporâneo não monopoliza o diverso da mentalidade das sociedades humanas. O mal estar que me invadiu, pela negação socialista do topónimo “Fábrica Grande”, só por ser apresentado pelo Bloco de Esquerda, breve se dissipou. Raciocinando, com frieza, não poderia a reacção do actual PS ser outra. Pouco ou nada herdou do PS dum Pena do Reis, dum Agostinho, dum Pedro Natal da Luz. Não sei mesmo se os vereadores socialistas com quem convivi e partilhei a oposição municipal, durante quase oito anos, aprovariam tal opção. A culpa, a meu ver, foi (é-o ainda) do Dr. Mário Soares. Em vida, encerrou o socialismo numa gaveta. Quando morreu, ninguém conseguiu descobrir qual o armário, e a gaveta guardadora. E mesmo que o descobrissem, a chave parece ter desaparecido. Daí que os socialistas coevos errem entre os caminhos tortuosos. Mas gratificantes, do capitalismo monopolista e o liberalismo beato do conservadorismo humanista, que a maçonaria e a Opus Dei disputam em tudo quanto é órgão de tutela ou de informação.
Aos senhores deputados municipais e respectivos presidentes de junta, actualmente eleitos, aconselho, para compreenderem o acerto da proposta do Bloco de Esquerda, a leitura do livro do insuspeito Joaquim Rodrigues Bicho, A Fábrica Grande, Subsídios para a História da Companhia de Torres Novas, publicado pela insuspeita Câmara Municipal Socialista concelhia, em Maio de 1997.
Joaquim Bicho encerra o seu livro (pg.191): «A Cidade tem uma fábrica que lhe deu topónimos e diariamente a desperta com um apito a vapor. O seu silvo que, no passado, distinguia a Fábrica Grande das outras, é hoje um símbolo que não nos resignaríamos a perder.»
Perdemos. A Fábrica. Mas não o símbolo. A Torres Novas Factory socialista é um emplastro histriónico à seriedade histórica duma comunidade operária concelhia.
Como estudioso da história local, como munícipe, em defesa do património municipal, estou com a afirmação de Joaquim Rodrigues Bicho e a proposta do Bloco de Esquerda.
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |