Carta aberta a bom entendedor - inês vidal
"Mas eu tenho mau feitio. Temos todos por aqui. Graças a Deus resta-nos uma alma boa"
Tenho mau feitio, quem me conhece sabe. Uma característica que nasceu comigo, mas que nitidamente vai piorando à medida que os anos passam, a vida corre, as experiências se sucedem...
Não deixa de ter graça que simultaneamente, mas num sentido inversamente proporcional, cresça a minha tolerância para com uma série de outras coisas que outrora me custava entender. Percebo os erros, as imperfeições, limites impostos ultrapassados, tudo o que fura os cânones da dita normalidade, que, vai-se a ver, nem sequer existe. Julgo cada vez menos, entendo o outro cada vez melhor, fruto de uma percepção de que a vida nos testa, põe-nos à prova e nos leva ao limite. Cada vida é uma e nós somos apenas humanos a tentar fazer o melhor que conseguimos com ela. Aprendi a ouvir os outros, a perceber que as minhas limitações são muitas vezes os pontos fortes do próximo, bem como as limitações de outrém são muitas vezes as minhas maiores fortalezas. Sinto-me, cada vez mais, uma pessoa melhor. Uma alma boa!
Mas se sou cada vez mais tolerante, sou, em simultâneo e ironicamente, cada vez mais intolerante àquilo que definitivamente não tolero. Respeito as pessoas que reconhecem os seus limites, admitem o erro ou a possibilidade de estar errados. Não tolero mentes flácidas, balofas, arrogantes, daquela arrogância própria de quem é de tal forma limitado que não concebe as suas próprias limitações. Haverá coisa mais triste?
Há pessoas que têm naturalmente essa tendência. Há situações que promovem isso ainda mais. As maiorias absolutas são um bom exemplo disso: tendem a intensificar este tipo de limitações. O complexo de ser Deus, que assola pessoas que não têm capacidade para perceber as suas fronteiras, de que não são ninguém para julgar os outros, de que é importante ser humilde a ponto de nos rodearmos de quem sabe, bem como de que é bom ouvir os outros, como forma de nos superarmos a uma só voz.
As maiorias absolutas são um bom exemplo disso, repito. O facto de legitimarem todas as suas merdas com os votos angariados nas urnas, sem ninguém que lhes consiga fazer frente, sobe à cabeça dos que não estão minimamente preparados para a coisa pública, para o bem comum, mas apenas interessados no que isso trará de vantajoso para o seu quintal.
Em Torres Novas, o edil, que atrai o agrado dos torrejanos pela sua educação, tem sofrido deste mal. Talvez não totalmente por culpa própria e ao mesmo tempo por sua inteira responsabilidade. Ou direi antes, irresponsabilidade. Aquela incapacidade de dar um murro na mesa ou de se rodear de gente que saiba, que lhe sussurre bons conselhos e lhe mostre o caminho que nem sempre consegue - nem tem de - ver sozinho. Escuteiro de alma, instalado num ninho de vespas envergonhadas, deu agora numa de se armar em Deus, gritando alto o que antes lhe sussurraram ao ouvido, decidindo sozinho, ou com os seus, quem tem alma boa ou má.
Entendeu, qual São Pedro às portas do céu, quais os jornais que por terem alma boa merecem o apoio da autarquia e quais os que, por se portarem mal - que é como quem diz os jornais que se atrevem a escrever textos destes - têm alma má e como que de castigo, ficam de fora dos horizontes do município.
Não é orgulho ferido este texto, entenda-se. Há muito que gritamos orgulhosos aos quatro ventos, que somos o único jornal do concelho que não mereceu a medalha de mérito municipal. Continuaremos a lutar por isso.
A nós que gostamos destas coisas da democracia e ainda mais da política local, do jornalismo e do verdadeiro jornalismo, dói-nos simplesmente a alma - boa ou má - quando o poder local não percebe que ninguém o elegeu para dar lições de moral de trazer por causa ou para tratar os munícipes torrejanos conforme os apetites. Há regras, regimentos e regulamentos a ser seguidos. Quem diz nos jornais, diz num conjunto de outros assuntos. Hoje toca-nos a nós, mas ontem tocou a outro e amanhã logo se vê...
Mas isso já não querem eles saber, porque não precisam. Por mais que esperneie a oposição, a decisão é da maioria. E a maioria decidiu que apoiar um jornal é vantajoso, pois garante a parcialidade, a propriedade, o comprometimento e deixa uma réstia de esperança de que seja possível calar quem fala.
Mas eu tenho mau feitio. Temos todos por aqui. Graças a Deus resta-nos uma alma boa. Do mesmo nem todos se podem orgulhar.
Carta aberta a bom entendedor - inês vidal
Mas eu tenho mau feitio. Temos todos por aqui. Graças a Deus resta-nos uma alma boa
Tenho mau feitio, quem me conhece sabe. Uma característica que nasceu comigo, mas que nitidamente vai piorando à medida que os anos passam, a vida corre, as experiências se sucedem...
Não deixa de ter graça que simultaneamente, mas num sentido inversamente proporcional, cresça a minha tolerância para com uma série de outras coisas que outrora me custava entender. Percebo os erros, as imperfeições, limites impostos ultrapassados, tudo o que fura os cânones da dita normalidade, que, vai-se a ver, nem sequer existe. Julgo cada vez menos, entendo o outro cada vez melhor, fruto de uma percepção de que a vida nos testa, põe-nos à prova e nos leva ao limite. Cada vida é uma e nós somos apenas humanos a tentar fazer o melhor que conseguimos com ela. Aprendi a ouvir os outros, a perceber que as minhas limitações são muitas vezes os pontos fortes do próximo, bem como as limitações de outrém são muitas vezes as minhas maiores fortalezas. Sinto-me, cada vez mais, uma pessoa melhor. Uma alma boa!
Mas se sou cada vez mais tolerante, sou, em simultâneo e ironicamente, cada vez mais intolerante àquilo que definitivamente não tolero. Respeito as pessoas que reconhecem os seus limites, admitem o erro ou a possibilidade de estar errados. Não tolero mentes flácidas, balofas, arrogantes, daquela arrogância própria de quem é de tal forma limitado que não concebe as suas próprias limitações. Haverá coisa mais triste?
Há pessoas que têm naturalmente essa tendência. Há situações que promovem isso ainda mais. As maiorias absolutas são um bom exemplo disso: tendem a intensificar este tipo de limitações. O complexo de ser Deus, que assola pessoas que não têm capacidade para perceber as suas fronteiras, de que não são ninguém para julgar os outros, de que é importante ser humilde a ponto de nos rodearmos de quem sabe, bem como de que é bom ouvir os outros, como forma de nos superarmos a uma só voz.
As maiorias absolutas são um bom exemplo disso, repito. O facto de legitimarem todas as suas merdas com os votos angariados nas urnas, sem ninguém que lhes consiga fazer frente, sobe à cabeça dos que não estão minimamente preparados para a coisa pública, para o bem comum, mas apenas interessados no que isso trará de vantajoso para o seu quintal.
Em Torres Novas, o edil, que atrai o agrado dos torrejanos pela sua educação, tem sofrido deste mal. Talvez não totalmente por culpa própria e ao mesmo tempo por sua inteira responsabilidade. Ou direi antes, irresponsabilidade. Aquela incapacidade de dar um murro na mesa ou de se rodear de gente que saiba, que lhe sussurre bons conselhos e lhe mostre o caminho que nem sempre consegue - nem tem de - ver sozinho. Escuteiro de alma, instalado num ninho de vespas envergonhadas, deu agora numa de se armar em Deus, gritando alto o que antes lhe sussurraram ao ouvido, decidindo sozinho, ou com os seus, quem tem alma boa ou má.
Entendeu, qual São Pedro às portas do céu, quais os jornais que por terem alma boa merecem o apoio da autarquia e quais os que, por se portarem mal - que é como quem diz os jornais que se atrevem a escrever textos destes - têm alma má e como que de castigo, ficam de fora dos horizontes do município.
Não é orgulho ferido este texto, entenda-se. Há muito que gritamos orgulhosos aos quatro ventos, que somos o único jornal do concelho que não mereceu a medalha de mérito municipal. Continuaremos a lutar por isso.
A nós que gostamos destas coisas da democracia e ainda mais da política local, do jornalismo e do verdadeiro jornalismo, dói-nos simplesmente a alma - boa ou má - quando o poder local não percebe que ninguém o elegeu para dar lições de moral de trazer por causa ou para tratar os munícipes torrejanos conforme os apetites. Há regras, regimentos e regulamentos a ser seguidos. Quem diz nos jornais, diz num conjunto de outros assuntos. Hoje toca-nos a nós, mas ontem tocou a outro e amanhã logo se vê...
Mas isso já não querem eles saber, porque não precisam. Por mais que esperneie a oposição, a decisão é da maioria. E a maioria decidiu que apoiar um jornal é vantajoso, pois garante a parcialidade, a propriedade, o comprometimento e deixa uma réstia de esperança de que seja possível calar quem fala.
Mas eu tenho mau feitio. Temos todos por aqui. Graças a Deus resta-nos uma alma boa. Do mesmo nem todos se podem orgulhar.
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![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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