É um banco, talvez, feliz! - maria augusta torcato
É um banco, talvez, feliz!
Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz!
E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar.
Ao longo dos tempos, durante um século ou mais, este banco cumpriu a função para que nasceu. Se um barco só é barco se navegar, então, um banco só será banco se cumprir a sua função e nele se sentarem pessoas, procurando nele o alívio do cansaço e o retemperar de forças. Ou apenas o estar, o olhar à volta, numa de contemplação quando o tempo se esquece que é tempo.
Eu tenho este banco na memória. Ali, mesmo ao atravessar a estrada principal da vila, coladinho, como parte integrante da casa da D. Maria da Luz, a quem eu ia pagar a renda, quando era jovem e, depois, quando trabalhava na cooperativa, também ali encostadinha. Junto deste banco havia sempre gente. Gente que vinha da Raposeira, do São Pedro ou dos Chões, a pé. Vinha e ia, a pé. Principalmente mulheres que pousavam no banco ou junto dele os seus carregos, aliviando a cabeça do peso e da rigidez, para, depois, retomarem o seu caminho e a sua vida.
Ao fim do dia havia também uma ou duas figuras masculinas, entre elas lembro o Alfredo, que faziam daquele assento e daquele lugar o seu lugar social.
Porém, ao longo dos anos, e como tudo, o banco foi, aparentemente, perdendo interesse, talvez, utilidade. Há menos pessoas. Há menos pessoas a andar a pé. Há menos pessoas a quem o banco diz coisas, como a mim. Imagino as histórias que este banco tem para contar. Nunca lhe perguntei se alguma vez as crianças, os rapazes, que faziam rali em carrinhos de rolamentos e desciam em velocidade estonteante e perigosa, a rua da Praça do Peixe, ali foram partir a cabeça ou ganhar umas boas e belas nódoas negras. Nunca lhe perguntei nada, mas acho que conversamos bastante, apenas eu passando ali.
Ora, quando as paredes da casa a que o banco se encostava estavam a ser demolidas, para dar lugar a espaços mais amplos e necessários aos dias de hoje, mostrando que nem sempre o que é preciso hoje era preciso ontem, ou o seu contrário, numa espécie de telepatia, dirigi-me a ele, ao banco, como ia ser. Teria a sua história chegado ao fim? Como se sentiria?
Mas eis que, renascido o espaço, o banco foi reposto tal como antes existia, resgatando, na rua - avenida, nos nossos corações e nas nossas memórias, o seu papel.
Por isso, é, talvez, um banco feliz!
Quantos de nós poderemos dizer isso mesmo de nós mesmos? Eu, sinceramente, fiquei feliz e não consigo deixar de sorrir sempre que, em cada dia, junto dele passo. Acho que nos compreendemos mutuamente, reciprocamente!
E já percebi que , agora, muita gente o olha de maneira diferente, talvez o tenha visto agora e antes apenas olhado. Agora, vão-se multiplicando fotografias ao pé banco, sentados no banco e até só do banco. É justo! E merecido! O banco é uma entidade. É uma parte do nosso passado, em que assentam, neste caso se sentam, as memórias. E, sem elas, não existimos. Não há presente, nem haverá futuro, sem memória e sem memórias.
Este banco é, certamente, um banco feliz!
É um banco, talvez, feliz! - maria augusta torcato
É um banco, talvez, feliz!
Era uma vez um banco. Não. É um banco e um banco, talvez, feliz!
E não. Não é um banco dos que nos desassossegam pelo que nos custam e cobram, mas dos que nos permitem sossegar, descansar.
Ao longo dos tempos, durante um século ou mais, este banco cumpriu a função para que nasceu. Se um barco só é barco se navegar, então, um banco só será banco se cumprir a sua função e nele se sentarem pessoas, procurando nele o alívio do cansaço e o retemperar de forças. Ou apenas o estar, o olhar à volta, numa de contemplação quando o tempo se esquece que é tempo.
Eu tenho este banco na memória. Ali, mesmo ao atravessar a estrada principal da vila, coladinho, como parte integrante da casa da D. Maria da Luz, a quem eu ia pagar a renda, quando era jovem e, depois, quando trabalhava na cooperativa, também ali encostadinha. Junto deste banco havia sempre gente. Gente que vinha da Raposeira, do São Pedro ou dos Chões, a pé. Vinha e ia, a pé. Principalmente mulheres que pousavam no banco ou junto dele os seus carregos, aliviando a cabeça do peso e da rigidez, para, depois, retomarem o seu caminho e a sua vida.
Ao fim do dia havia também uma ou duas figuras masculinas, entre elas lembro o Alfredo, que faziam daquele assento e daquele lugar o seu lugar social.
Porém, ao longo dos anos, e como tudo, o banco foi, aparentemente, perdendo interesse, talvez, utilidade. Há menos pessoas. Há menos pessoas a andar a pé. Há menos pessoas a quem o banco diz coisas, como a mim. Imagino as histórias que este banco tem para contar. Nunca lhe perguntei se alguma vez as crianças, os rapazes, que faziam rali em carrinhos de rolamentos e desciam em velocidade estonteante e perigosa, a rua da Praça do Peixe, ali foram partir a cabeça ou ganhar umas boas e belas nódoas negras. Nunca lhe perguntei nada, mas acho que conversamos bastante, apenas eu passando ali.
Ora, quando as paredes da casa a que o banco se encostava estavam a ser demolidas, para dar lugar a espaços mais amplos e necessários aos dias de hoje, mostrando que nem sempre o que é preciso hoje era preciso ontem, ou o seu contrário, numa espécie de telepatia, dirigi-me a ele, ao banco, como ia ser. Teria a sua história chegado ao fim? Como se sentiria?
Mas eis que, renascido o espaço, o banco foi reposto tal como antes existia, resgatando, na rua - avenida, nos nossos corações e nas nossas memórias, o seu papel.
Por isso, é, talvez, um banco feliz!
Quantos de nós poderemos dizer isso mesmo de nós mesmos? Eu, sinceramente, fiquei feliz e não consigo deixar de sorrir sempre que, em cada dia, junto dele passo. Acho que nos compreendemos mutuamente, reciprocamente!
E já percebi que , agora, muita gente o olha de maneira diferente, talvez o tenha visto agora e antes apenas olhado. Agora, vão-se multiplicando fotografias ao pé banco, sentados no banco e até só do banco. É justo! E merecido! O banco é uma entidade. É uma parte do nosso passado, em que assentam, neste caso se sentam, as memórias. E, sem elas, não existimos. Não há presente, nem haverá futuro, sem memória e sem memórias.
Este banco é, certamente, um banco feliz!
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto. |
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