A nora e o burro
"Houve tempos em que as noras habitavam qualquer pedaço de terra"
A nora e o burro
A nora roda, chiando, tch…tch…tch…
O burro move-se num movimento lento, circular, repetido e arrastado.
A roda da nora gira em sacrifício, chorando, solidária (ou talvez não) com o burro. E a água desliza de alcatruz para alcatruz, borrifando o ar, qual bênção em dia de júbilo.
O burro roda em roda da nora. Preso. Vendado. De manhã à noite. Dia sim dia sim e faz a roda rodar. Sempre a rodar. Sempre a rodar… E o movimento é tão repetitivo, tão lento, tão cansado, que desperta em nós sentimentos de tristeza e fraternidade para com o burro.
Houve tempos em que as noras habitavam qualquer pedaço de terra e junto com os burros agiam sobre os mecanismos, fazendo-os entoar melodias que se integravam na orquestra da natureza. Nesses tempos, parecia que a harmonia entre o homem, o burro, a nora e a terra existia. Cada um sabia-se e sabia o outro. De forma consciente ou insciente? Não se sabe. Sabiam-se. A água, que é vida, saía em jorro da calha onde escorria, caía no rego e vinha dar de beber à terra seca que, por sua vez, alimentava o homem e o burro. Desde o nascer ao pôr-do-sol, parecia que o esforço, a entrega e o sacrifício confluíam para um bem comum: a reconstrução do homem e do mundo, num percurso de democratização e universalização que implicava a libertação e emancipação de cada um e de todos.
As noras e os burros já quase não existem. Foram-se extinguindo. Mas, mistério dos mistérios, criam-se e recriam-se, por aí, noras e burros, que o não são.
Sempre a rodar… sempre a rodar… há um dia em que o burro tropeça, cai, joelhos no chão, deixa o corpo escorrer sobre si próprio. Mas aquilo que parece o fim é, afinal, o começo. Da libertação. É triste. Muito triste. Quando o burro se dá à morte como única forma de afirmar a vida.
Há um paralelismo socio-metafórico entre a imagem do burro à nora e o quotidiano de todos nós. No processo de transfiguração só falta percebermos qual dos elementos encarnamos. Ou a nora. Ou o burro. Ou ambos, à vez. Ou nenhum deles. Talvez a engrenagem. Hoje, qualquer que sejamos, venha o diabo e escolha.
A nora e o burro
Houve tempos em que as noras habitavam qualquer pedaço de terra
A nora e o burro
A nora roda, chiando, tch…tch…tch…
O burro move-se num movimento lento, circular, repetido e arrastado.
A roda da nora gira em sacrifício, chorando, solidária (ou talvez não) com o burro. E a água desliza de alcatruz para alcatruz, borrifando o ar, qual bênção em dia de júbilo.
O burro roda em roda da nora. Preso. Vendado. De manhã à noite. Dia sim dia sim e faz a roda rodar. Sempre a rodar. Sempre a rodar… E o movimento é tão repetitivo, tão lento, tão cansado, que desperta em nós sentimentos de tristeza e fraternidade para com o burro.
Houve tempos em que as noras habitavam qualquer pedaço de terra e junto com os burros agiam sobre os mecanismos, fazendo-os entoar melodias que se integravam na orquestra da natureza. Nesses tempos, parecia que a harmonia entre o homem, o burro, a nora e a terra existia. Cada um sabia-se e sabia o outro. De forma consciente ou insciente? Não se sabe. Sabiam-se. A água, que é vida, saía em jorro da calha onde escorria, caía no rego e vinha dar de beber à terra seca que, por sua vez, alimentava o homem e o burro. Desde o nascer ao pôr-do-sol, parecia que o esforço, a entrega e o sacrifício confluíam para um bem comum: a reconstrução do homem e do mundo, num percurso de democratização e universalização que implicava a libertação e emancipação de cada um e de todos.
As noras e os burros já quase não existem. Foram-se extinguindo. Mas, mistério dos mistérios, criam-se e recriam-se, por aí, noras e burros, que o não são.
Sempre a rodar… sempre a rodar… há um dia em que o burro tropeça, cai, joelhos no chão, deixa o corpo escorrer sobre si próprio. Mas aquilo que parece o fim é, afinal, o começo. Da libertação. É triste. Muito triste. Quando o burro se dá à morte como única forma de afirmar a vida.
Há um paralelismo socio-metafórico entre a imagem do burro à nora e o quotidiano de todos nós. No processo de transfiguração só falta percebermos qual dos elementos encarnamos. Ou a nora. Ou o burro. Ou ambos, à vez. Ou nenhum deles. Talvez a engrenagem. Hoje, qualquer que sejamos, venha o diabo e escolha.
![]() Dizia-se do último czar da Rússia, Nicolau II, que a sua opinião era a opinião da última pessoa com quem tinha falado. Cem anos depois, Nicolau II reencarnou em alguma daquela rapaziada que tomou conta dos principais partidos da nossa democracia. |
![]() Quando saí de Torres Novas para ir estudar em Lisboa já sabia que iria depois sair de Lisboa para vir trabalhar em Torres Novas. A primeira razão para voltar foi de natureza umbilical: eu ser de Torres Novas como outros são de Mangualde ou Famalicão. |
![]() Se se observar o comportamento dos portugueses perante a pandemia, talvez seja possível ter um vislumbre daquilo que somos e de como gostamos de ser governados. Obviamente que não nos comportamos todas da mesma forma e não gostamos todos de ser governados da mesma maneira. |
![]() O herói nacional, melhor jogador de futebol do mundo de sempre, segundo dizem, foi protagonista numa daquelas histórias que são matéria-prima para solidificar lendas. Nessa história, sublinhando as origens humildes, o estratosférico conquista mais um laço com o Zé comum. |
![]() Apesar da limitação de vacinas nesta fase, o país tem vindo a ser confrontado com variados episódios de vacinação fora do que está priorizado. Há sempre alguém que se julga acima das normas ou que faz as suas próprias normas e ultrapassa assim os que estão na fila, ou então por via de terceiros chegam primeiro à seringa. |
![]() Na falta de acções presenciais, multiplicaram-se, nos últimos meses, as iniciativas on-line sobre os mais diversos assuntos. Num destes eventos em que participei, sensibilizou-me, particularmente, o testemunho de um ex-ministro social-democrata que, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política mais activa, reconheceu que não pretende fazê-lo porque, e nas suas palavras, os quatro anos em que foi ministro mudaram-no, levando amigos e familiares mais próximos a dizerem-lhe que, nessa altura, ele não era “o mesmo Nuno”. |
![]() 1. O PSD de Torres Novas é uma anedota. Ao mesmo tempo que digo isto, ouço já ao fundo vozes a erguerem-se contra esta forma crua e dura de arrancar com este texto. Imagino até as conclusões de quem tem facilidade de falar sem saber: é do Bloco, dizem uns, comunista desde sempre, atiram outros, indo ainda mais longe, lembrando que dirige aquele pasquim comunista, conforme aprenderam com o ex-presidente socialista. |
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![]() Passo de ballet, movimento em que a bailarina estica graciosamente a perna, tem diferentes níveis de dificuldade consoante a direcção da perna e a altura a que chega o pé, requer um grande equilíbrio e um elevado nível de concentração. |
![]() Ouço os sinais ao longe. Um pranto gritado bem alto, do alto dos sinos da igreja, por alguém que partiu. É já raro ouvir-se. Por norma, pelo menos na nossa cidade, ecoam apenas pelos que muito deram de si à causa religiosa. |
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Hill Street Blues - carlos paiva |
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PSD: a morte há muito anunciada - inês vidal |
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Na mouche - josé ricardo costa |