Tamanho - inês vidal
"“A falta de apoios à imprensa regional é grande, mas não estamos dispostos a calar-nos por isso. O preço da vida vai crescendo e a ele é proporcional a nossa determinação."
Fez na segunda-feira, dia 2 de Maio, 19 anos que comecei a trabalhar no Jornal Torrejano. Lembro-me desse dia como se fosse hoje, embora os tempos estejam bem diferentes. Pelo caminho, desde então, fomos mudando de caras, de timings, de cor e de formato, mas nunca, em momento algum, mudámos a nossa essência.
Durante essas quase duas décadas passadas, assistimos a mudanças gigantes na realidade que nos rodeava e que, inevitavelmente, condicionaram a vida de quem nos lia, de quem nos ajudava nesta tão bonita tarefa de informar ou até mesmo a forma como nos fomos fazendo.
Nesse período – que na história do mundo não é nada – o país despediu-se das vacas gordas e abriu os braços a um governo que de presente envenenado nos ofereceu a troika. Percebemos, depois de tanto tempo iludidos, que nem mesmo nessa Europa de sonho, o dinheiro nascia nas árvores, conforme nos foi a dada altura tão conveniente acreditar. Regredimos anos à nossa humilde condição, quase não acreditando nos sacrifícios que nos eram de novo pedidos. Somos fáceis de nos habituar ao que é bom. Fáceis de esquecer o que não nos convém.
Aqui, à nossa escala, neste nosso pequeno jornal, fomos remando no balancear da maré, resistindo a todas as intempéries, muitas vezes rasgando as ondas, rumando a um destino que, independentemente da forma, foi sempre o mesmo para nós: a informação isenta, a crença de que o jornalismo regional é uma ferramenta essencial para a democracia que tantos apregoam mas nem sempre praticam, a noção de que contar por palavras escritas o que vai sendo dito por aí, é fundamental para que possamos crescer conscientes e exigentes.
Tempos e formas de ser que já o eram muito antes de mim. Formas de ser que continuarão nos muitos tempos que ainda virão.
Sempre com esta missão em mente, temos vindo, no entanto, a adaptar-nos como podemos. Continuamos a acreditar que o nosso papel é fundamental, mesmo que não o possamos desempenhar como gostaríamos. Faltam-nos o tempo e os meios para chegar a todo o lado onde gostaríamos de ir, para noticiar tudo o que mereceria ser noticiado, para denunciar tudo o que urge ser denunciado.
Faltam-nos os meios, mas o que nos falta em meios sobra-nos em vontade e convicção. Somos meia dúzia de carolas que, mesmo quando mais ninguém acredita, sabe que Torres Novas não pode viver sem nós. Que é preciso haver quem conte, quem denuncie, quem chame a atenção. Não somos perfeitos. Não vamos a todas. Deixamos escapar algumas. Faltam-nos os meios e toda a ajuda é pouca. A carolice dá trabalho e dores de cabeça e o compromisso requer tempo.
Mas assim somos nós. Não conseguimos não nos comprometer. E comprometemo-nos com os torrejanos. Comprometemo-nos em dar-lhes a melhor informação, a isenção, o pluralismo de ideias. Comprometemo-nos com a democracia. Só detentores de todos os factos, podemos ser cidadãos completos. Comprometemo-nos em continuar por aqui a dar a verdade, porque não sabemos fazer outra coisa. Mesmo que a conjuntura seja cada vez mais difícil.
Neste vinte anos, já reduzimos o pessoal. O tempo não poderia ser menor. Só nos resta, por agora e esperemos que por pouco tempo, reduzir o número de páginas da nossa edição de papel, porque do papel não tencionamos, nem sabemos abdicar. O aumento do custo de vida reproduz-se em tudo o que fazemos. Poderíamos aumentar o valor do jornal para fazer face às despesas, mas optamos por concentrar a nossa informação, que queremos acessível a todos, no espaço que podemos oferecer. A falta de apoios à imprensa regional é grande, mas não estamos dispostos a calar-nos por isso. O preço da vida vai crescendo e a ele é proporcional a nossa determinação.
Por isso caros leitores, o jornal que vos trazemos esta semana é um pouco mais fino. Mas desde quando é que o tamanho importa, desde que cumpramos essa nossa tão nobre missão?
Tamanho - inês vidal
“A falta de apoios à imprensa regional é grande, mas não estamos dispostos a calar-nos por isso. O preço da vida vai crescendo e a ele é proporcional a nossa determinação.
Fez na segunda-feira, dia 2 de Maio, 19 anos que comecei a trabalhar no Jornal Torrejano. Lembro-me desse dia como se fosse hoje, embora os tempos estejam bem diferentes. Pelo caminho, desde então, fomos mudando de caras, de timings, de cor e de formato, mas nunca, em momento algum, mudámos a nossa essência.
Durante essas quase duas décadas passadas, assistimos a mudanças gigantes na realidade que nos rodeava e que, inevitavelmente, condicionaram a vida de quem nos lia, de quem nos ajudava nesta tão bonita tarefa de informar ou até mesmo a forma como nos fomos fazendo.
Nesse período – que na história do mundo não é nada – o país despediu-se das vacas gordas e abriu os braços a um governo que de presente envenenado nos ofereceu a troika. Percebemos, depois de tanto tempo iludidos, que nem mesmo nessa Europa de sonho, o dinheiro nascia nas árvores, conforme nos foi a dada altura tão conveniente acreditar. Regredimos anos à nossa humilde condição, quase não acreditando nos sacrifícios que nos eram de novo pedidos. Somos fáceis de nos habituar ao que é bom. Fáceis de esquecer o que não nos convém.
Aqui, à nossa escala, neste nosso pequeno jornal, fomos remando no balancear da maré, resistindo a todas as intempéries, muitas vezes rasgando as ondas, rumando a um destino que, independentemente da forma, foi sempre o mesmo para nós: a informação isenta, a crença de que o jornalismo regional é uma ferramenta essencial para a democracia que tantos apregoam mas nem sempre praticam, a noção de que contar por palavras escritas o que vai sendo dito por aí, é fundamental para que possamos crescer conscientes e exigentes.
Tempos e formas de ser que já o eram muito antes de mim. Formas de ser que continuarão nos muitos tempos que ainda virão.
Sempre com esta missão em mente, temos vindo, no entanto, a adaptar-nos como podemos. Continuamos a acreditar que o nosso papel é fundamental, mesmo que não o possamos desempenhar como gostaríamos. Faltam-nos o tempo e os meios para chegar a todo o lado onde gostaríamos de ir, para noticiar tudo o que mereceria ser noticiado, para denunciar tudo o que urge ser denunciado.
Faltam-nos os meios, mas o que nos falta em meios sobra-nos em vontade e convicção. Somos meia dúzia de carolas que, mesmo quando mais ninguém acredita, sabe que Torres Novas não pode viver sem nós. Que é preciso haver quem conte, quem denuncie, quem chame a atenção. Não somos perfeitos. Não vamos a todas. Deixamos escapar algumas. Faltam-nos os meios e toda a ajuda é pouca. A carolice dá trabalho e dores de cabeça e o compromisso requer tempo.
Mas assim somos nós. Não conseguimos não nos comprometer. E comprometemo-nos com os torrejanos. Comprometemo-nos em dar-lhes a melhor informação, a isenção, o pluralismo de ideias. Comprometemo-nos com a democracia. Só detentores de todos os factos, podemos ser cidadãos completos. Comprometemo-nos em continuar por aqui a dar a verdade, porque não sabemos fazer outra coisa. Mesmo que a conjuntura seja cada vez mais difícil.
Neste vinte anos, já reduzimos o pessoal. O tempo não poderia ser menor. Só nos resta, por agora e esperemos que por pouco tempo, reduzir o número de páginas da nossa edição de papel, porque do papel não tencionamos, nem sabemos abdicar. O aumento do custo de vida reproduz-se em tudo o que fazemos. Poderíamos aumentar o valor do jornal para fazer face às despesas, mas optamos por concentrar a nossa informação, que queremos acessível a todos, no espaço que podemos oferecer. A falta de apoios à imprensa regional é grande, mas não estamos dispostos a calar-nos por isso. O preço da vida vai crescendo e a ele é proporcional a nossa determinação.
Por isso caros leitores, o jornal que vos trazemos esta semana é um pouco mais fino. Mas desde quando é que o tamanho importa, desde que cumpramos essa nossa tão nobre missão?
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
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![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
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