• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Quarta, 24 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Sáb.
 17° / 9°
Períodos nublados com chuva fraca
Sex.
 19° / 11°
Céu nublado com chuva fraca
Qui.
 19° / 11°
Céu nublado
Torres Novas
Hoje  24° / 10°
Períodos nublados
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

2021: uma vida que afaste a morte - inês vidal

Opinião  »  2021-01-10  »  Inês Vidal

"Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele"

Finalmente 2021. Depois de um ano em que mais do que vivermos, fomos meros espectadores, fantoches num autêntico teatro de sombras, com passos e passeatas manipulados por entre margens e manobras de cordelinhos, chegámos a 2021. E chegámos, como em qualquer ano novo, com vontade de mudar, de fazer planos, resoluções que acabaremos por abandonar antes do Carnaval. Chegámos com vontade de viver mais e mais, uma vontade desta vez acicatada pela prisão em que nos encontramos há meses.

2020 foi um ano de aprendizagens, constatações e assunções da nossa frágil essência, da nossa leveza, efemeridade, impotência, do quão ocos somos... Foi um ano de reconstrução, de reaprender o mundo, de reescrever o modo de o viver.

Admito que gosto um bocadinho das pessoas em que nos tornámos ao longo de 2020. Aprendemos, à força, a dar valor ao que já tínhamos, demos mais tempo aos nossos, sentimos falta de todos aqueles de quem fomos privados, lembrámos como o gesto e o momento mais simples são, no final de tudo, a única coisa que realmente importa. Reinventámos formas de estar e comunicar, encurtámos distâncias, aproximámo-nos quando todos nos pediram para ficar longe.

Gostei, assumo, da aprendizagem maior que este ano nos deu: não somos nada. Há muito que tinha aprendido que não controlo a minha vida e que, como tal, não posso fazer planos. Há horas na nossa vida que nos ensinam isso, mas todos sabemos que a teoria é sempre difícil de colocar na prática. Somos de instintos e é intuitivo pensar o dia de amanhã, sonhar, escrevinhar listas, traçar caminhos. É preciso a dose certa - uma dose bem alta - de sobriedade para não o fazer. Quando todos achávamos ter o mundo na mão e controlar a pena que nos escreve os dias, 2020 obrigou-nos a perceber que temos tão pouco a dizer sobre isso.

Enfim, eu gostei do ano de 2020. Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele. Dei mais valor a cada pormenor da vida, como se cada momento bom que eu vivesse fosse um fazer frente, um cara a cara, um braço de ferro com esse vilão que nos afronta. Comi o melhor peixe e os melhores bifes, bebi o melhor vinho, li o melhor livro, ouvi a melhor música, fiz as melhores férias, dei os melhores passeios, fiz os melhores piqueniques, ri o mais alto que pude... Vivi, mas vivi mesmo, convicta de que o último dia, a ser, teria de ser memorável, sentido à flor da pele, vivido. Sempre com precaução, com respeito pela presente ameaça - que levo muito a sério - mas sempre com aquela sensação de que apenas a vida faz frente a uma morte anunciada.

Entretanto, no JT

2020 foi um ano inesquecível, com isso todos concordarão. Um ano apenas possível de suportar graças a tudo o que nos ligou à vida. Da nossa casa, assistimos a mais concertos ou espectáculos do que quando tínhamos de sair dela para o fazer, acompanhámos palestras sobre aqueles temas que sempre nos interessaram, mas sobre os quais nunca tivemos tempo para nos debruçar, corremos exposições nos maiores museus que há muito sonhávamos visitar, fizemos da sala uma escola, percorremos o mundo através de um pequeno ecrã, vimos passar a vida através da comunicação social, que nunca confinou. Tudo isto, a partir do nosso sofá. Foi a vida de todos eles, daqueles que não se resignaram ou pararam, que nos manteve à tona da nossa.

É aí, se me permitem, que entramos nós, Jornal Torrejano. Nós, que é o mesmo que dizer, todos aqueles que nos escrevem. Quando nos fechámos em casa, levámos connosco tudo o que nos poderia dar um pequeno pulsar do mundo lá fora. E ninguém melhor do que os jornais para nos dar esse batimento dos dias que correm. E os jornais mais não são do que as pessoas que os compõem. Pessoas que gostam destas coisas da escrita, de brincar com as palavras, de partilhar com o outro, através da tinta, o que vêem ou sentem.

O Jornal Torrejano sempre teve a sorte, ou o saber, de se rodear de pessoas que gostam destas coisas dos jornais e que a isso aliaram um grande sentido de responsabilidade, de entendimento da importância do papel que lhes coube em mãos e do compromisso que criaram com quem os lê. Talvez por isso seja justo dizer que o JT tem uma equipa de cronistas de meter inveja a muitos “grandes” e que edição após edição, mantém elevada a fasquia de fazer latejar esse cordão que liga as pessoas à vida.

Por isso as minhas primeiras palavras de 2021, aquele ano que esperamos de viragem, são para eles. Quando o mundo parou, quando a notícia era uma só, quando faltou assunto para ler e contar, foram eles que através da sua voz, mantiveram a linha aberta entre nós e os nossos leitores. Pensaram o mundo connosco e muitas vezes por nós, partilharam ansiedades, pontos de vista, tiraram conclusões e deixaram sugestões. Acalmaram-nos e, acima de tudo, mostraram-nos, com o exemplo de não parar também, que ainda há uma esperança. Que apesar de a vida em suspenso, o mundo continua a girar lá fora e nós a girar com ele.

O Jornal Torrejano tem a melhor “opinião” de sempre. É a opinião deles, que diferente ou igual à dos outros, se torna também um bocadinho nossa. Não seriámos metade sem os nossos cronistas e é por isso que não poderia, neste ano em que precisamos ainda mais de mudanças, de fazer planos, de algo que nos mantenha o sangue a pulsar nas veias, deixar de lhes agradecer por nos continuarem a fazer grandes. Não poderia deixar de lhes agradecer e dizer que continuamos - e cada vez mais - a contar com eles em 2021, nesta bonita tarefa de levar aos nossos leitores um bocadinho da vida que lhes foi roubada e de todo aquele mundo lá fora. Obrigada.

 

 

 

 Outras notícias - Opinião


Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias

Este mundo e o outro - joão carlos lopes »  2024-02-22 

Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”.
(ler mais...)

 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia