2021: uma vida que afaste a morte - inês vidal
"Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele"
Finalmente 2021. Depois de um ano em que mais do que vivermos, fomos meros espectadores, fantoches num autêntico teatro de sombras, com passos e passeatas manipulados por entre margens e manobras de cordelinhos, chegámos a 2021. E chegámos, como em qualquer ano novo, com vontade de mudar, de fazer planos, resoluções que acabaremos por abandonar antes do Carnaval. Chegámos com vontade de viver mais e mais, uma vontade desta vez acicatada pela prisão em que nos encontramos há meses.
2020 foi um ano de aprendizagens, constatações e assunções da nossa frágil essência, da nossa leveza, efemeridade, impotência, do quão ocos somos... Foi um ano de reconstrução, de reaprender o mundo, de reescrever o modo de o viver.
Admito que gosto um bocadinho das pessoas em que nos tornámos ao longo de 2020. Aprendemos, à força, a dar valor ao que já tínhamos, demos mais tempo aos nossos, sentimos falta de todos aqueles de quem fomos privados, lembrámos como o gesto e o momento mais simples são, no final de tudo, a única coisa que realmente importa. Reinventámos formas de estar e comunicar, encurtámos distâncias, aproximámo-nos quando todos nos pediram para ficar longe.
Gostei, assumo, da aprendizagem maior que este ano nos deu: não somos nada. Há muito que tinha aprendido que não controlo a minha vida e que, como tal, não posso fazer planos. Há horas na nossa vida que nos ensinam isso, mas todos sabemos que a teoria é sempre difícil de colocar na prática. Somos de instintos e é intuitivo pensar o dia de amanhã, sonhar, escrevinhar listas, traçar caminhos. É preciso a dose certa - uma dose bem alta - de sobriedade para não o fazer. Quando todos achávamos ter o mundo na mão e controlar a pena que nos escreve os dias, 2020 obrigou-nos a perceber que temos tão pouco a dizer sobre isso.
Enfim, eu gostei do ano de 2020. Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele. Dei mais valor a cada pormenor da vida, como se cada momento bom que eu vivesse fosse um fazer frente, um cara a cara, um braço de ferro com esse vilão que nos afronta. Comi o melhor peixe e os melhores bifes, bebi o melhor vinho, li o melhor livro, ouvi a melhor música, fiz as melhores férias, dei os melhores passeios, fiz os melhores piqueniques, ri o mais alto que pude... Vivi, mas vivi mesmo, convicta de que o último dia, a ser, teria de ser memorável, sentido à flor da pele, vivido. Sempre com precaução, com respeito pela presente ameaça - que levo muito a sério - mas sempre com aquela sensação de que apenas a vida faz frente a uma morte anunciada.
Entretanto, no JT
2020 foi um ano inesquecível, com isso todos concordarão. Um ano apenas possível de suportar graças a tudo o que nos ligou à vida. Da nossa casa, assistimos a mais concertos ou espectáculos do que quando tínhamos de sair dela para o fazer, acompanhámos palestras sobre aqueles temas que sempre nos interessaram, mas sobre os quais nunca tivemos tempo para nos debruçar, corremos exposições nos maiores museus que há muito sonhávamos visitar, fizemos da sala uma escola, percorremos o mundo através de um pequeno ecrã, vimos passar a vida através da comunicação social, que nunca confinou. Tudo isto, a partir do nosso sofá. Foi a vida de todos eles, daqueles que não se resignaram ou pararam, que nos manteve à tona da nossa.
É aí, se me permitem, que entramos nós, Jornal Torrejano. Nós, que é o mesmo que dizer, todos aqueles que nos escrevem. Quando nos fechámos em casa, levámos connosco tudo o que nos poderia dar um pequeno pulsar do mundo lá fora. E ninguém melhor do que os jornais para nos dar esse batimento dos dias que correm. E os jornais mais não são do que as pessoas que os compõem. Pessoas que gostam destas coisas da escrita, de brincar com as palavras, de partilhar com o outro, através da tinta, o que vêem ou sentem.
O Jornal Torrejano sempre teve a sorte, ou o saber, de se rodear de pessoas que gostam destas coisas dos jornais e que a isso aliaram um grande sentido de responsabilidade, de entendimento da importância do papel que lhes coube em mãos e do compromisso que criaram com quem os lê. Talvez por isso seja justo dizer que o JT tem uma equipa de cronistas de meter inveja a muitos “grandes” e que edição após edição, mantém elevada a fasquia de fazer latejar esse cordão que liga as pessoas à vida.
Por isso as minhas primeiras palavras de 2021, aquele ano que esperamos de viragem, são para eles. Quando o mundo parou, quando a notícia era uma só, quando faltou assunto para ler e contar, foram eles que através da sua voz, mantiveram a linha aberta entre nós e os nossos leitores. Pensaram o mundo connosco e muitas vezes por nós, partilharam ansiedades, pontos de vista, tiraram conclusões e deixaram sugestões. Acalmaram-nos e, acima de tudo, mostraram-nos, com o exemplo de não parar também, que ainda há uma esperança. Que apesar de a vida em suspenso, o mundo continua a girar lá fora e nós a girar com ele.
O Jornal Torrejano tem a melhor “opinião” de sempre. É a opinião deles, que diferente ou igual à dos outros, se torna também um bocadinho nossa. Não seriámos metade sem os nossos cronistas e é por isso que não poderia, neste ano em que precisamos ainda mais de mudanças, de fazer planos, de algo que nos mantenha o sangue a pulsar nas veias, deixar de lhes agradecer por nos continuarem a fazer grandes. Não poderia deixar de lhes agradecer e dizer que continuamos - e cada vez mais - a contar com eles em 2021, nesta bonita tarefa de levar aos nossos leitores um bocadinho da vida que lhes foi roubada e de todo aquele mundo lá fora. Obrigada.
2021: uma vida que afaste a morte - inês vidal
Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele
Finalmente 2021. Depois de um ano em que mais do que vivermos, fomos meros espectadores, fantoches num autêntico teatro de sombras, com passos e passeatas manipulados por entre margens e manobras de cordelinhos, chegámos a 2021. E chegámos, como em qualquer ano novo, com vontade de mudar, de fazer planos, resoluções que acabaremos por abandonar antes do Carnaval. Chegámos com vontade de viver mais e mais, uma vontade desta vez acicatada pela prisão em que nos encontramos há meses.
2020 foi um ano de aprendizagens, constatações e assunções da nossa frágil essência, da nossa leveza, efemeridade, impotência, do quão ocos somos... Foi um ano de reconstrução, de reaprender o mundo, de reescrever o modo de o viver.
Admito que gosto um bocadinho das pessoas em que nos tornámos ao longo de 2020. Aprendemos, à força, a dar valor ao que já tínhamos, demos mais tempo aos nossos, sentimos falta de todos aqueles de quem fomos privados, lembrámos como o gesto e o momento mais simples são, no final de tudo, a única coisa que realmente importa. Reinventámos formas de estar e comunicar, encurtámos distâncias, aproximámo-nos quando todos nos pediram para ficar longe.
Gostei, assumo, da aprendizagem maior que este ano nos deu: não somos nada. Há muito que tinha aprendido que não controlo a minha vida e que, como tal, não posso fazer planos. Há horas na nossa vida que nos ensinam isso, mas todos sabemos que a teoria é sempre difícil de colocar na prática. Somos de instintos e é intuitivo pensar o dia de amanhã, sonhar, escrevinhar listas, traçar caminhos. É preciso a dose certa - uma dose bem alta - de sobriedade para não o fazer. Quando todos achávamos ter o mundo na mão e controlar a pena que nos escreve os dias, 2020 obrigou-nos a perceber que temos tão pouco a dizer sobre isso.
Enfim, eu gostei do ano de 2020. Não gostei de ver morrer ou de temer que me morressem, mas gostei de não me ter deixado morrer nele. Dei mais valor a cada pormenor da vida, como se cada momento bom que eu vivesse fosse um fazer frente, um cara a cara, um braço de ferro com esse vilão que nos afronta. Comi o melhor peixe e os melhores bifes, bebi o melhor vinho, li o melhor livro, ouvi a melhor música, fiz as melhores férias, dei os melhores passeios, fiz os melhores piqueniques, ri o mais alto que pude... Vivi, mas vivi mesmo, convicta de que o último dia, a ser, teria de ser memorável, sentido à flor da pele, vivido. Sempre com precaução, com respeito pela presente ameaça - que levo muito a sério - mas sempre com aquela sensação de que apenas a vida faz frente a uma morte anunciada.
Entretanto, no JT
2020 foi um ano inesquecível, com isso todos concordarão. Um ano apenas possível de suportar graças a tudo o que nos ligou à vida. Da nossa casa, assistimos a mais concertos ou espectáculos do que quando tínhamos de sair dela para o fazer, acompanhámos palestras sobre aqueles temas que sempre nos interessaram, mas sobre os quais nunca tivemos tempo para nos debruçar, corremos exposições nos maiores museus que há muito sonhávamos visitar, fizemos da sala uma escola, percorremos o mundo através de um pequeno ecrã, vimos passar a vida através da comunicação social, que nunca confinou. Tudo isto, a partir do nosso sofá. Foi a vida de todos eles, daqueles que não se resignaram ou pararam, que nos manteve à tona da nossa.
É aí, se me permitem, que entramos nós, Jornal Torrejano. Nós, que é o mesmo que dizer, todos aqueles que nos escrevem. Quando nos fechámos em casa, levámos connosco tudo o que nos poderia dar um pequeno pulsar do mundo lá fora. E ninguém melhor do que os jornais para nos dar esse batimento dos dias que correm. E os jornais mais não são do que as pessoas que os compõem. Pessoas que gostam destas coisas da escrita, de brincar com as palavras, de partilhar com o outro, através da tinta, o que vêem ou sentem.
O Jornal Torrejano sempre teve a sorte, ou o saber, de se rodear de pessoas que gostam destas coisas dos jornais e que a isso aliaram um grande sentido de responsabilidade, de entendimento da importância do papel que lhes coube em mãos e do compromisso que criaram com quem os lê. Talvez por isso seja justo dizer que o JT tem uma equipa de cronistas de meter inveja a muitos “grandes” e que edição após edição, mantém elevada a fasquia de fazer latejar esse cordão que liga as pessoas à vida.
Por isso as minhas primeiras palavras de 2021, aquele ano que esperamos de viragem, são para eles. Quando o mundo parou, quando a notícia era uma só, quando faltou assunto para ler e contar, foram eles que através da sua voz, mantiveram a linha aberta entre nós e os nossos leitores. Pensaram o mundo connosco e muitas vezes por nós, partilharam ansiedades, pontos de vista, tiraram conclusões e deixaram sugestões. Acalmaram-nos e, acima de tudo, mostraram-nos, com o exemplo de não parar também, que ainda há uma esperança. Que apesar de a vida em suspenso, o mundo continua a girar lá fora e nós a girar com ele.
O Jornal Torrejano tem a melhor “opinião” de sempre. É a opinião deles, que diferente ou igual à dos outros, se torna também um bocadinho nossa. Não seriámos metade sem os nossos cronistas e é por isso que não poderia, neste ano em que precisamos ainda mais de mudanças, de fazer planos, de algo que nos mantenha o sangue a pulsar nas veias, deixar de lhes agradecer por nos continuarem a fazer grandes. Não poderia deixar de lhes agradecer e dizer que continuamos - e cada vez mais - a contar com eles em 2021, nesta bonita tarefa de levar aos nossos leitores um bocadinho da vida que lhes foi roubada e de todo aquele mundo lá fora. Obrigada.
![]() Apresentados os candidatos à presidência da Câmara de Torres Novas, a realizar nos finais de Setembro, ou na primeira quinzena de Outubro, restam pouco mais de três meses (dois de férias), para se conhecer ao que vêm, quem é quem, o que defendem, para o concelho, na sua interligação cidade/freguesias. |
![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
![]()
Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
![]() |
![]() |
![]() |
» 2025-07-03
» Jorge Carreira Maia
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |
» 2025-07-08
» António Mário Santos
O meu projecto eleitoral para a autarquia |
» 2025-07-08
» José Alves Pereira
O MAJOR-GENERAL PATRONO DA GUERRA |
» 2025-07-08
» Acácio Gouveia
Inteligência artificial |