Um piscar de olho à cultura
"Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância."
Numa louvável iniciativa conjunta, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Bragança têm patente desde o passado dia 13 de Novembro e até 15 de Fevereiro de 2016, a notável exposição «D. MANUEL II e os livros de CAMÕES».
D. Manuel de Bragança, último rei de Portugal, foi um apaixonado bibliófilo. A nostalgia pelo seu país que o longo exílio inglês tanto aprofundou fez com que tenha dedicado então o melhor do seu tempo ao estudo do Portugal de quinhentos.
Perdido o Brasil, ameaçadas as possessões africanas com nuvens negras apesar do mapa cor de rosa e instaurada a República, que mais restaria a um exilado “profundamente português”, de cultura superior, com acesso privilegiado a meios culturais e literários de prestígio, se não mergulhar na sua paixão de bibliófilo?
Quando morre, em 1932, D. Manuel possuía um invejável conjunto de 112 obras camonianas editadas entre 1528 e 1928, tornando-se o maior coleccionador particular alusivo a Camões.
O catálogo da exposição é, por si só, como que uma ementa para uma refeição gourmet, servida com talher de prata. Foi-me trazido por um amigo, camoniano convicto, dos primeiros a visitá-la. Obrigado Mário, pela cortesia.
Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância.
Curiosamente, quem estuda a iconografia camoniana, sabe bem que o poeta nem sempre cerra o mesmo olho. Tanto pisca o olho à esquerda como o faz à direita, consoante quem o retrata.
As dúvidas vão mesmo mais longe e fixam-se na primeira edição de “Os Lusíadas” de 1572, a primeira epopeia escrita em língua portuguesa e em que, em duas versões com a mesmíssima data, a figura do pelicano da portada do livro, nos aparece com o bico ora voltado para um lado, ora para o outro. Ironias quinhentistas.
Por lá está também a segunda edição portuguesa, conhecida como a «edição dos piscos» editada já em período filipino (1584) e censurada por nuestros hermanos, a de Pedro Crasbeeck, a de Emílio Biel, enfim, tantas outras e tudo aquilo que, dificilmente, se voltará a reunir no espaço e no tempo.
Por fim, para vos desafiar à visita, transcrevo apenas um pequeno excerto de uma Carta de D. Manuel II ao camonista José Maria Rodrigues (07.XI.1929):
“... não pertenço ao mundo dos bibliófilos que não querem (que) ninguém veja os tesouros que possuem...»
Camões sabia bem o que fazia, quando piscava o olho à cultura...
(Adelino Correia-Pires, Novembro 2015)
Um piscar de olho à cultura
Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância.
Numa louvável iniciativa conjunta, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação da Casa de Bragança têm patente desde o passado dia 13 de Novembro e até 15 de Fevereiro de 2016, a notável exposição «D. MANUEL II e os livros de CAMÕES».
D. Manuel de Bragança, último rei de Portugal, foi um apaixonado bibliófilo. A nostalgia pelo seu país que o longo exílio inglês tanto aprofundou fez com que tenha dedicado então o melhor do seu tempo ao estudo do Portugal de quinhentos.
Perdido o Brasil, ameaçadas as possessões africanas com nuvens negras apesar do mapa cor de rosa e instaurada a República, que mais restaria a um exilado “profundamente português”, de cultura superior, com acesso privilegiado a meios culturais e literários de prestígio, se não mergulhar na sua paixão de bibliófilo?
Quando morre, em 1932, D. Manuel possuía um invejável conjunto de 112 obras camonianas editadas entre 1528 e 1928, tornando-se o maior coleccionador particular alusivo a Camões.
O catálogo da exposição é, por si só, como que uma ementa para uma refeição gourmet, servida com talher de prata. Foi-me trazido por um amigo, camoniano convicto, dos primeiros a visitá-la. Obrigado Mário, pela cortesia.
Pura coincidência (ou não), a exposição decorre em pleno fervor republicano com os nervos à flor da pele. É nela que nos surge o piscar de olho do maior vulto da língua pátria, esse mesmo, o Luís Vaz de Camões, acreditando na tradição, nosso vizinho em Constância.
Curiosamente, quem estuda a iconografia camoniana, sabe bem que o poeta nem sempre cerra o mesmo olho. Tanto pisca o olho à esquerda como o faz à direita, consoante quem o retrata.
As dúvidas vão mesmo mais longe e fixam-se na primeira edição de “Os Lusíadas” de 1572, a primeira epopeia escrita em língua portuguesa e em que, em duas versões com a mesmíssima data, a figura do pelicano da portada do livro, nos aparece com o bico ora voltado para um lado, ora para o outro. Ironias quinhentistas.
Por lá está também a segunda edição portuguesa, conhecida como a «edição dos piscos» editada já em período filipino (1584) e censurada por nuestros hermanos, a de Pedro Crasbeeck, a de Emílio Biel, enfim, tantas outras e tudo aquilo que, dificilmente, se voltará a reunir no espaço e no tempo.
Por fim, para vos desafiar à visita, transcrevo apenas um pequeno excerto de uma Carta de D. Manuel II ao camonista José Maria Rodrigues (07.XI.1929):
“... não pertenço ao mundo dos bibliófilos que não querem (que) ninguém veja os tesouros que possuem...»
Camões sabia bem o que fazia, quando piscava o olho à cultura...
(Adelino Correia-Pires, Novembro 2015)
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