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É lidar

Opinião  »  2020-07-03  »  Margarida Trindade

"O excesso de informação tolda-nos o pensamento. É preciso tempo para ler, para analisar e para digerir e depurar"

Sou constantemente assaltada pela dúvida. Sofro deste desconforto constante. Bem sei que mais felizes são os que nunca têm dúvidas e os que raramente se enganam e que dizer isto pode parecer uma banalidade, mas é a mais pura das verdades.

Onde hei-de posicionar-me? Que hei-de pensar das notícias? Que conclusões se me afiguram? Terei de fazer fé nas deduções imediatas? Poderei acreditar logo nos meus juízos de valor? Estarei até em condições de fazer esses juízos de valor? O que é que estará certo e o que é que estará errado? Será o meu ponto de vista apenas uma miséria de pensamento mal assente, mal fundamentado, cheio de lacunas de conhecimento ou será que posso contribuir com algumas achegas para que o caminho se vá construindo em vez de se desmoronar?

Dou por mim a ler toda a espécie de notícias e hoje, com a facilidade com que respiramos, estamos rodeados de opiniões. Não é que isso seja bom, nem mau. Pior seria haver só uma, poucas ou nenhuma; o que seria a mesma coisa. Salve-se a pluralidade e a democracia. Sempre.

Porém, seja onde for que nos posicionemos perante a informação, factos, notícias ou a realidade que nos circunda, a consciência de que é preciso filtrar tem de estar bem desperta. Aceitar como válido tudo o que nos é infundido pelas redes sociais, comunicação social ou pela voz do povo, ou por um comentador avençado, é um exercício de ingenuidade. Ou de burrice, se quisermos dizer assim.

A construção de uma opinião é algo que exige de nós alguma maturação, Não é um arroto involuntário que damos depois de ingerir as couves, as batatas, as cenouras, os enchidos, a carne de vaca e a carne de porco de um farto cozido à portuguesa. Ou uma sopa que tem os legumes todos misturados e que se engole em dois ou três sorvos.

Comecemos pela distância. É que a perspetiva aqui importa, e muito. Construir opinião significa perceber que não vamos apenas reproduzir o que outros já reproduziram. Isso não é opinião, é repetição, é ressonância. Muitas vezes, é desonestidade.

Depois, o tempo. O excesso de informação tolda-nos o pensamento. É preciso tempo para ler, para analisar e para digerir e depurar. E, acima de tudo é preciso saber que é preciso saber depurar. Não se pode chegar a todo o lado. Costumo dizer que quem está em todo o lado não está em lado nenhum, assim como quem quer fazer tudo não consegue fazer quase nada. Portanto, fazer escolhas é essencial. Perceber ao que vale mesmo a pena dar atenção e o que merece análise. Essa é uma prática fundamental e aconselhável a quem queira construir uma opinião que traga novos contributos, que seja produto de algum pensamento próprio.
E ler, repito, é preciso ler. Ler diversos autores, várias correntes, ler os vivos e os mortos. As bibliotecas públicas, pilares da democracia, dão aqui uma ajuda inestimável. As leituras são gratuitas, os empréstimos também. Ainda bem que que as há e que as estimamos.

Depois, num exercício de humildade imprescindível, conhecer variadas propostas, ler o direito e o avesso, ler o texto e o seu contraditório. É essa aprendizagem na multiplicidade que desperta o espírito crítico. O leitor saberá separar o trigo do joio, bastar-lhe-á continuidade e práxis.
Voltemos ao início, e levemos em conta a dúvida. A dúvida é o início e o fim, a demonstração de inteligência e de sabedoria. A dúvida é o motor, a alavanca do conhecimento e do progresso. Estar fechado a uma só versão dos factos invalida a produção de o que quer que seja credível ao nível do pensamento. Os dogmas, por norma, são pensamento estagnado. E qualquer coisa que estagna acaba por perder a validade, logo não é saudável para consumo.

Mas tudo isto não é cómodo. Dá trabalho, exige que façamos pausas, silêncio, reflexão, exige que dediquemos umas horas por semana a leituras indispensáveis, toma-nos tempo, obriga-nos a um olhar crítico sobre a realidade, valorizado sobretudo se construtivo e comprometido com a boa-fé. E é de se lhe dar cada vez mais valor, mesmo que — inevitável e assumidamente, — esse olhar seja inevitavelmente contaminado pelas circunstâncias individuais de cada um ao exercitar o verbo e a análise.
Todavia, e tomemos isto em consideração, há sempre uma coisa a não esquecer: é que esse olhar, por vezes, traz-nos inimigos. Mas, contra isso, fazer o quê? Como diz o outro, é lidar.

 

 

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