Ir à Praça
"Cá temos a praça como lugar onde se projecta espacialmente esta nova identidade"
Qualquer jovem de Lisboa sabe que ir “ao bairro” é Bairro Alto. No Porto, ir “ao palácio” é Palácio de Cristal. Em Torres Novas “ir à praça” é Praça 5 de Outubro. Mas houve um tempo em que a expressão tinha outro sentido: ir à 2ª feira comprar fruta, legumes, hortaliças, queijos, enchidos, animais, loiças, móveis em pinho e até a famosa banha da cobra ali em frente onde foi o Rogério. Isto, porque o mercado ocorria, como noutras terras, na sua praça mais nobre e central. E a coisa ficou tão impregnada nas mentes que ainda hoje pessoas mais velhas, graças a uma feliz casmurrice semântica, continuam a ir “à praça” de cestinha no braço.
Para um jovem de hoje, devido a uma nova fisionomia -e fisiologia- social e económica deste espaço urbano, “ir à praça” não tem que ver com matinais hortaliças ou necessidades quotidianas mas sair à noite e divertimento. Houve tempos em que, para além de ser uma zona habitada, havia uma loja de impressos e selos, armazém de tecidos, policlínica, papelaria, oculista, ourivesaria, posto de polícia, barbearia com jornais e revistas, fotógrafo, dois bancos (sim, dois!), um edifício institucional para o que desse e viesse e…uau!, sim, um restaurante, o incontornável Rogério. A vidinha “nine to five”. Depois, a grande metamorfose, não kafkiana, graças a Deus, mas mais tipo tender is the night: dois hotéis, cinema, posto de turismo, três restaurantes, cafés e bares com esplanadas e, vá, duas lojas, um banco, e este com bem menos funcionários a chegar de manhã e a sair à tarde por causa de quem já lá não vai porque faz tudo no Multibanco e na conta on line. E perda de residentes.
Aconteceu o mesmo que nos centros de outras cidades: uma perda da sua tradicional identidade social e económica, dando lugar a uma cultura de lazer, mudando a percepção da cidade. Assim um bocadinho como restaurar a casa de aldeia, transformando a velha horta num jardim com piscina e barbecue. Uma nova mentalidade, mais afastada das necessidades primárias, sendo maior a pulsão para o lazer e divertimento, cujo apogeu está no sair à noite.
Mentalidade mais urbana e iluminada, vindo substituir o lânguido lazer das tabernas, casas de pasto ou pacatos cafés de bairro, das tacinhas enquanto se vê os Portugal-Espanha em hóquei em patins, a preto e branco, que isto do mundo a cores era só para lá dos Pirinéus e a Benetton ainda iria demorar. Mentalidade com uma geografia mais pombalina, sendo até as bebedeiras mais cosmopolitas com os seus gins tónicos, shots, vodkas ou cervejas artesanais, em contraste com as ainda medievais ou pré-iluministas bebedeiras dos anos 60 com bagaço e carrascão, numa espécie de casamento entre a underground e ácida fuligem de Dickens com uma salazarista melancolia. E, pronto, cá temos a praça como lugar onde se projecta espacialmente esta nova identidade, após os anos de chumbo de meados de 70, em que viveu sem eira nem beira e aromatizada com charros, entre a ressaca do regime anterior e a europeização da pátria com a sua adesão à CEE. Que assim continue.
Ir à Praça
Cá temos a praça como lugar onde se projecta espacialmente esta nova identidade
Qualquer jovem de Lisboa sabe que ir “ao bairro” é Bairro Alto. No Porto, ir “ao palácio” é Palácio de Cristal. Em Torres Novas “ir à praça” é Praça 5 de Outubro. Mas houve um tempo em que a expressão tinha outro sentido: ir à 2ª feira comprar fruta, legumes, hortaliças, queijos, enchidos, animais, loiças, móveis em pinho e até a famosa banha da cobra ali em frente onde foi o Rogério. Isto, porque o mercado ocorria, como noutras terras, na sua praça mais nobre e central. E a coisa ficou tão impregnada nas mentes que ainda hoje pessoas mais velhas, graças a uma feliz casmurrice semântica, continuam a ir “à praça” de cestinha no braço.
Para um jovem de hoje, devido a uma nova fisionomia -e fisiologia- social e económica deste espaço urbano, “ir à praça” não tem que ver com matinais hortaliças ou necessidades quotidianas mas sair à noite e divertimento. Houve tempos em que, para além de ser uma zona habitada, havia uma loja de impressos e selos, armazém de tecidos, policlínica, papelaria, oculista, ourivesaria, posto de polícia, barbearia com jornais e revistas, fotógrafo, dois bancos (sim, dois!), um edifício institucional para o que desse e viesse e…uau!, sim, um restaurante, o incontornável Rogério. A vidinha “nine to five”. Depois, a grande metamorfose, não kafkiana, graças a Deus, mas mais tipo tender is the night: dois hotéis, cinema, posto de turismo, três restaurantes, cafés e bares com esplanadas e, vá, duas lojas, um banco, e este com bem menos funcionários a chegar de manhã e a sair à tarde por causa de quem já lá não vai porque faz tudo no Multibanco e na conta on line. E perda de residentes.
Aconteceu o mesmo que nos centros de outras cidades: uma perda da sua tradicional identidade social e económica, dando lugar a uma cultura de lazer, mudando a percepção da cidade. Assim um bocadinho como restaurar a casa de aldeia, transformando a velha horta num jardim com piscina e barbecue. Uma nova mentalidade, mais afastada das necessidades primárias, sendo maior a pulsão para o lazer e divertimento, cujo apogeu está no sair à noite.
Mentalidade mais urbana e iluminada, vindo substituir o lânguido lazer das tabernas, casas de pasto ou pacatos cafés de bairro, das tacinhas enquanto se vê os Portugal-Espanha em hóquei em patins, a preto e branco, que isto do mundo a cores era só para lá dos Pirinéus e a Benetton ainda iria demorar. Mentalidade com uma geografia mais pombalina, sendo até as bebedeiras mais cosmopolitas com os seus gins tónicos, shots, vodkas ou cervejas artesanais, em contraste com as ainda medievais ou pré-iluministas bebedeiras dos anos 60 com bagaço e carrascão, numa espécie de casamento entre a underground e ácida fuligem de Dickens com uma salazarista melancolia. E, pronto, cá temos a praça como lugar onde se projecta espacialmente esta nova identidade, após os anos de chumbo de meados de 70, em que viveu sem eira nem beira e aromatizada com charros, entre a ressaca do regime anterior e a europeização da pátria com a sua adesão à CEE. Que assim continue.
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![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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