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Saída de Emergência (uma crónica em atraso), por Maria Augusta Torcato

Opinião  »  2020-01-09  »  Maria Augusta Torcato

"Quanto maior o medo, maior terá de ser a coragem para se enfrentar o que provoca o medo"

Madrugada. Janeiro, dia 4. De 2019.

O comboio deslizava nas linhas com o seu ritmo sereno, como se não tivesse pressa ou tivesse de respeitar passagem ou não quisesse, com brusquidão, ferir o ferro.
Há muito que não andava de comboio. Mas é bom andar de comboio. A opção tinha sido consciente, muito maturada. Muito negociada com a família. Queria ir sozinha. Precisava ir sozinha. Aquele tempo de viagem era-me tão necessário. Não sei bem para quê ou porquê. Simplesmente precisava dele. Talvez precisasse mesmo de me sentir anónima e sentir o desconhecimento e a indiferença por parte dos que me rodeavam do que estava a viver. Para onde ia e o que ia fazer.

Tinha pedido que me levassem até à estação. Sabia que, no início e no fim da viagem, tinha alguém. O tempo entre a partida e a chegada seria, então, todo meu. Lembro-me de ter reparado com mais pormenor nas coisas e apreciei-as. Parecia que os meus sentidos estavam mais apurados. Talvez quisesse gravar coisas diárias, simples, e que não sabia como iriam ser a seguir. Lembro-me de sentir o orvalho da manhã. Lembro-me que havia algum nevoeiro. O sol ainda não tinha nascido. Lembro-me de ouvir o apito e o som balanceado da máquina e depois o som estridente dos travões nos carris. Olhava para o bilhete, na minha mão, e caminhava, procurando não me enganar no percurso. Tinha de ter atenção à linha.

Esperei pouco tempo. O comboio arrastou-se, até parar por completo. Entrei. Queria muito ficar do lado da janela. Sentei-me. Precisava olhar o exterior a correr, umas vezes mais depressa, outras vezes mais devagar. Mas é uma das maravilhas da viagem de comboio a visão da paisagem, seja ela qual for. Há imagens únicas.

No banco em frente, estava acomodado um casal, já com idade. Era da zona de Abrantes. Também ia a Lisboa. Ia visitar a filha. A sra era extremamente simpática e com facilidade fizemos conversa acerca da vida, da realidade, do mundo... mas eu precisava também de silêncios. Aliás, precisava mesmo era de conversar comigo. E não me apetecia perturbar aquele momento, partilhando as vivências das anteriores seis semanas. Não queria também que, em algum momento, houvesse algum constrangimento. Alguma pena. Não. Isso não. Queria mesmo era que aquela viagem fosse, mesmo que no fundo fosse a fingir, o mais natural possível e fosse apenas uma viagem, sem quaisquer outras significações. Só que não era bem assim. Desde meados de novembro que aquela ecografia tinha mudado tudo. E mesmo que os dias das semanas seguintes tivessem sido tão preenchidos de afazeres, de dor, de ansiedade e de insegurança, nada me apagava o momento em que recebi a informação e me questionava acerca do modo de dizer aos meus.

Como se diz, a quem amamos e devemos proteger, que estamos doentes? Se pudesse, nunca diria. Mas não podia fingir que estava tudo bem. E também percebi que não podia fugir, nem podia esconder-me. Por isso, o melhor era mesmo enfrentar. E a melhor forma de enfrentar, se é que há uma melhor forma, é aceitar, é adaptarmo-nos, sem abdicarmos de sermos nós. Sem abdicarmos de viver. Custe o que custar. Porque a vida sempre custa. Mas quando se vive com uma guilhotina sobre a cabeça, como um carcinoma de alto grau, não há tempo a perder a pensar quando ela vai cair. Não se pode mesmo perder tempo nisso. E viver é cumprir as rotinas e desejar manter tudo como era antes de se saber. Tudo igual, se bem que os sonhos agora são diferentes. É onde eu noto grande diferença. Mas, manter-se a fidelidade ao que se é, manter-se a essência, isso é o que melhor posso fazer para sentir a vida em mim e a minha vida. É claro que é o que sinto. Com a defesa de todo o respeito pelos diferentes e múltiplos sentires de toda a gente, independentemente da sua situação e do quão é mais ou menos exigente.

Um ano. Um ano passou desde este dia e esta viagem. Viagens houve muitas outras. Mais nenhuma de comboio. Só a primeira desses ciclos.
Houve, também, alguma reflexão e assomo de dúvidas em relação à publicação desta crónica. Mas pretende-se que a mesma ultrapasse o eu e se alargue a quem, na mesma situação ou em situação mais grave, resiste, enfrentando todos os dias, para somar só que seja um bocadinho mais de tempo à sua vida. Se bem que ninguém saiba, verdadeiramente, o que a vida lhe reserva e se tenha consciência de que o tempo tem um poder tão inexorável, há pessoas que vivem em cada dia uma ansiedade atroz e a expressão que mais se lhes ouve é “Estamos sempre com medo.” E é assim que se tem de viver. Sempre com medo. Porém, é o medo que desperta a coragem. Só há coragem quando há medo. E quanto maior o medo, maior terá de ser a coragem para se enfrentar o que provoca o medo. Por isso, é, essencialmente, pela coragem e pela aprendizagem que fiz, que escrevo. Porque, ao escrever, sinto que resgato o que sou, ou o que era. E só quem vive algumas experiências percebe o quanto isso é tão necessário. Estamos sempre com medo.

Mas este é um medo que não nos pára. É um medo que nos abana, nos acorda e mantém em sobressaltos. E isso significa que estamos vivos.
O comboio continuava a deslizar, algumas vezes, muito lento. Na zona da Ribeira de Santarém, o sol já começava a nascer. Os seus raios rompiam as nuvens e entravam pelo canavial que ladeava aquela parte do rio e eis que, quando olhei para o céu, vi um nascer do sol sublime. E, de repente, escrito a vermelho sobre as nuvens brancas estava: “Saída de Emergência”. A frase inscrita no vidro da janela da carruagem espelhou-se, ampliando-se, naquele céu e naquela aurora. Falei para mim que não conseguiria outra saída melhor. E era importante saber onde era a saída no percurso que iniciava.

 

 

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