• SOCIEDADE-  • CULTURA  • DESPORTO  • OPINIÃO
  Sexta, 26 Abril 2024    •      Directora: Inês Vidal; Director-adjunto: João Carlos Lopes    •      Estatuto Editorial    •      História do JT
   Pesquisar...
Seg.
 19° / 9°
Períodos nublados
Dom.
 18° / 6°
Períodos nublados com chuva fraca
Sáb.
 17° / 8°
Períodos nublados com chuva fraca
Torres Novas
Hoje  18° / 11°
Céu nublado com chuva fraca
       #Alcanena    #Entroncamento    #Golega    #Barquinha    #Constancia 

Panificação em tempo de pandemia - miguel sentieiro

Opinião  »  2020-06-18  »  Miguel Sentieiro

"Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai"

Depois de 3 meses com o cérebro enclausurado, decidi desconfinar e escrever finalmente sobre esta fase isolamento forçado. Aproveitando a loucura geral da libertação da malta que, de súbito, decidiu invadir esplanadas, praias e praças, também eu comecei meter a cabeça de fora. Vê-se que o portuga não foi feito para grandes tempos de apneia; isso é tarefa para os mergulhadores de ostras do Golfo Pérsico. Cá nós, aguentamos um bocadinho a suster o ar, mas quando nos dizem que podemos subir devagar para garantir a descompressão equilibrada, saímos a toda a gáspia em busca do oxigénio perdido sem tempo para essas mariquices.
Mas olha, que parece que a malta continua a falecer… Eu quero é que se lixe, pá! Já estava a ficar roxo de tanto ensino à distância! Eu preciso é de vitamina D em barda; parece que reforça o sistema imunitário. E sempre posso levar o iphone para o Baleal e, antes de me banhar nas águas do oceano, ou de beber umas jolas, marco presença na aula de Matemática.
Mas comecemos pela fase inicial da pandemia, em que o vírus mortal nos perseguia de forma voraz por via aérea ou terrestre. Uma das constatações mais enigmáticas dessa fase para mim, foi a pá da padaria do Lidl! Eu sei que parece estúpido, mas terão de me dar um desconto, afinal estive sem oxigenar o encéfalo durante muito tempo. Saímos de casa, munidos de todo o material de protecção, até aquele gel desinfectante viscoso que comprámos por 15 euros. Assamos dentro do carro com os vidros fechados, porque nos iremos cruzar no caminho com o camionista contaminado que veio com produtos alimentares de Itália. Chegamos ao Lidl, cruzamo-nos com um tipo que tem olhos de chinês (vê-se logo que fugiu da província de Wuhan para nos tentar fazer a folha), sustemos a respiração não vá a bicheza entrar. Vamos para a secção do pão. Esperamos que a senhora, que parece querer levar pão para armazenar durante 3 meses no seu bunker, saia da frente dos sacos de papel e vá para a secção do papel higiénico, para podermos passar ao ataque.
A senhora saiu, calçamos a luva, pegamos no saco e seguramos radiantes na pá. Dizem-nos que o Covid gosta de esperar por mãos desprotegidas nas superfícies metálicas e de plástico e o que é que os alemães criadores do Lidl inventaram? Uma pá metálica com uma pega de plástico onde o vírus pulula de alegria. Então os tipos criam a Mercedes, a Volkswagen, a BMW, a Siemens e depois enterram-se com esta deprimente pá recolhedora de pão ? Pegamos na pá com a luva e tentamos “pescar” o pão certo com um refinado trabalho de pulso ao nível dos melhores praticantes de matraquilhos. Lembramo-nos das máquinas da feira com aquela garra para apontarmos e tentar apanhar o ursinho que nunca vem e nos engole o euro. Aqui o processo é inverso, a colherada agarra sempre mais 3 paposecos do que os desejados. Seguramos no saco com a mão e vamos buscar o pão desejado mais os três extra. Chiça! Peguei no pão com a mão com que tinha segurado na pega de plástico cheia de vírus! Não memorizei bem o procedimento complexo associado àquele momento. Volto atrás, ou opto pelo “que se lixe”? A minha veia anti-desperdício e a pressão do homem que está com o ombro encostado ao meu em busca dos croissants de manteiga, levam-me a optar pelo “que se lixe” e a fugir com os paposecos contaminados na sacola.

As compras restantes são feitas em passo de corrida, a arrastar o fardo na consciência por não ter tido a concentração necessária na secção do pão, nem o trabalho prévio para que os passos da anti-contaminação batessem certo. Chego extenuado à caixa de pagamento e tenho dificuldade em estabelecer comunicação com a funcionária (que ainda não usa máscara obedecendo ao conselho inicial da senhora da DGS) pelos 4 metros de distância e o olhar enviesado para evitar inalar espilros mais enérgicos da funcionária que já tinha dado troco ao chinês de Wuhan. Depois de decifrar a frase “já pode pôr o cartão na ranhura”, teria a tarefa de tentar realizar esse desígnio, cumprindo uma distância de segurança com a solícita senhora, que teimava em manter acesa uma inadequada conversa de circunstância em tempo viral. Chego ao carro, despejo uma quantidade generosa de gel por tudo o que é epiderme e volto para casa com a segurança proporcionada pelo hermético e ardente veículo.

Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai. Eu sei que temos de continuar a ter de levar com a senhora da DGS todos os dias, mas o panorama está claramente no desconfinamento à grande. Os comboios da Amadora voltam a abarrotar, as manifestações anti-racismo juntam milhares nas ruas, os espectáculos com 2000 espectadores na plateia são partilhados pelos chefes de estado, a água do mar já convida muita malta ao mergulho e até o ministro Centeno se decidiu desconfinar dos cargos das finanças que vão dar pouco trabalho nesta fase. Ainda bem que o número de infectados por covid desceu de uma maneira abrupta e já podemos fazer a “fiesta”…Ai não?....o número continua igual?.... Então, pá!? Parece que já passámos para a fase do “que se lixe”…a falta de ar e de sol. Acho bem, até porque já não aguento a sauna do habitáculo do meu carro com os vidros fechados. Já agora e aproveitando a embalagem, será possível nesta fase, desconfinarmos o ensino à distância e pararmos de fingir que este método educativo funciona melhor do que a pá que tenta tirar o pão na padaria do Lidl?

 

 

 Outras notícias - Opinião


O miúdo vai à frente »  2024-04-25  »  Hélder Dias

Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia »  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia

A publicação do livro Identidade e Família – Entre a Consistência da Tradição e os Desafios da Modernidade, apresentado por Passos Coelho, gerou uma inusitada efervescência, o que foi uma vitória para os organizadores desta obra colectiva.
(ler mais...)


Caminho de Abril - maria augusta torcato »  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato

Olho para o meu caminho e fico contente. Acho mesmo que fiz o caminho de Abril. O caminho que Abril representa. No entanto, a realidade atual e os desafios diários levam-me a desejar muito que este caminho não seja esquecido, não por querer que ele se repita, mas para não nos darmos conta, quase sem tempo de manteiga nos dentes, que estamos, outra vez, lá muito atrás e há que fazer de novo o caminho com tudo o que isso implica e que hoje seria incompreensível e inaceitável.
(ler mais...)


As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia »  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia

Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores.
(ler mais...)


Eleições "livres"... »  2024-03-18  »  Hélder Dias

Este é o meu único mundo! - antónio mário santos »  2024-03-08  »  António Mário Santos

Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza.
(ler mais...)


Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato »  2024-03-08  »  Maria Augusta Torcato

Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente.
(ler mais...)


A crise das democracias liberais - jorge carreira maia »  2024-03-08  »  Jorge Carreira Maia

A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David.
(ler mais...)


A carne e os ossos - pedro borges ferreira »  2024-03-08  »  Pedro Ferreira

Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA.
(ler mais...)


O Flautista de Hamelin... »  2024-02-28  »  Hélder Dias
 Mais lidas - Opinião (últimos 30 dias)
»  2024-04-22  »  Maria Augusta Torcato Caminho de Abril - maria augusta torcato
»  2024-04-24  »  Jorge Carreira Maia Família tradicional e luta do bem contra o mal - jorge carreira maia
»  2024-04-25  »  Hélder Dias O miúdo vai à frente
»  2024-04-10  »  Jorge Carreira Maia As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia