Panificação em tempo de pandemia - miguel sentieiro
"Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai"
Depois de 3 meses com o cérebro enclausurado, decidi desconfinar e escrever finalmente sobre esta fase isolamento forçado. Aproveitando a loucura geral da libertação da malta que, de súbito, decidiu invadir esplanadas, praias e praças, também eu comecei meter a cabeça de fora. Vê-se que o portuga não foi feito para grandes tempos de apneia; isso é tarefa para os mergulhadores de ostras do Golfo Pérsico. Cá nós, aguentamos um bocadinho a suster o ar, mas quando nos dizem que podemos subir devagar para garantir a descompressão equilibrada, saímos a toda a gáspia em busca do oxigénio perdido sem tempo para essas mariquices.
Mas olha, que parece que a malta continua a falecer… Eu quero é que se lixe, pá! Já estava a ficar roxo de tanto ensino à distância! Eu preciso é de vitamina D em barda; parece que reforça o sistema imunitário. E sempre posso levar o iphone para o Baleal e, antes de me banhar nas águas do oceano, ou de beber umas jolas, marco presença na aula de Matemática.
Mas comecemos pela fase inicial da pandemia, em que o vírus mortal nos perseguia de forma voraz por via aérea ou terrestre. Uma das constatações mais enigmáticas dessa fase para mim, foi a pá da padaria do Lidl! Eu sei que parece estúpido, mas terão de me dar um desconto, afinal estive sem oxigenar o encéfalo durante muito tempo. Saímos de casa, munidos de todo o material de protecção, até aquele gel desinfectante viscoso que comprámos por 15 euros. Assamos dentro do carro com os vidros fechados, porque nos iremos cruzar no caminho com o camionista contaminado que veio com produtos alimentares de Itália. Chegamos ao Lidl, cruzamo-nos com um tipo que tem olhos de chinês (vê-se logo que fugiu da província de Wuhan para nos tentar fazer a folha), sustemos a respiração não vá a bicheza entrar. Vamos para a secção do pão. Esperamos que a senhora, que parece querer levar pão para armazenar durante 3 meses no seu bunker, saia da frente dos sacos de papel e vá para a secção do papel higiénico, para podermos passar ao ataque.
A senhora saiu, calçamos a luva, pegamos no saco e seguramos radiantes na pá. Dizem-nos que o Covid gosta de esperar por mãos desprotegidas nas superfícies metálicas e de plástico e o que é que os alemães criadores do Lidl inventaram? Uma pá metálica com uma pega de plástico onde o vírus pulula de alegria. Então os tipos criam a Mercedes, a Volkswagen, a BMW, a Siemens e depois enterram-se com esta deprimente pá recolhedora de pão ? Pegamos na pá com a luva e tentamos “pescar” o pão certo com um refinado trabalho de pulso ao nível dos melhores praticantes de matraquilhos. Lembramo-nos das máquinas da feira com aquela garra para apontarmos e tentar apanhar o ursinho que nunca vem e nos engole o euro. Aqui o processo é inverso, a colherada agarra sempre mais 3 paposecos do que os desejados. Seguramos no saco com a mão e vamos buscar o pão desejado mais os três extra. Chiça! Peguei no pão com a mão com que tinha segurado na pega de plástico cheia de vírus! Não memorizei bem o procedimento complexo associado àquele momento. Volto atrás, ou opto pelo “que se lixe”? A minha veia anti-desperdício e a pressão do homem que está com o ombro encostado ao meu em busca dos croissants de manteiga, levam-me a optar pelo “que se lixe” e a fugir com os paposecos contaminados na sacola.
As compras restantes são feitas em passo de corrida, a arrastar o fardo na consciência por não ter tido a concentração necessária na secção do pão, nem o trabalho prévio para que os passos da anti-contaminação batessem certo. Chego extenuado à caixa de pagamento e tenho dificuldade em estabelecer comunicação com a funcionária (que ainda não usa máscara obedecendo ao conselho inicial da senhora da DGS) pelos 4 metros de distância e o olhar enviesado para evitar inalar espilros mais enérgicos da funcionária que já tinha dado troco ao chinês de Wuhan. Depois de decifrar a frase “já pode pôr o cartão na ranhura”, teria a tarefa de tentar realizar esse desígnio, cumprindo uma distância de segurança com a solícita senhora, que teimava em manter acesa uma inadequada conversa de circunstância em tempo viral. Chego ao carro, despejo uma quantidade generosa de gel por tudo o que é epiderme e volto para casa com a segurança proporcionada pelo hermético e ardente veículo.
Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai. Eu sei que temos de continuar a ter de levar com a senhora da DGS todos os dias, mas o panorama está claramente no desconfinamento à grande. Os comboios da Amadora voltam a abarrotar, as manifestações anti-racismo juntam milhares nas ruas, os espectáculos com 2000 espectadores na plateia são partilhados pelos chefes de estado, a água do mar já convida muita malta ao mergulho e até o ministro Centeno se decidiu desconfinar dos cargos das finanças que vão dar pouco trabalho nesta fase. Ainda bem que o número de infectados por covid desceu de uma maneira abrupta e já podemos fazer a “fiesta”…Ai não?....o número continua igual?.... Então, pá!? Parece que já passámos para a fase do “que se lixe”…a falta de ar e de sol. Acho bem, até porque já não aguento a sauna do habitáculo do meu carro com os vidros fechados. Já agora e aproveitando a embalagem, será possível nesta fase, desconfinarmos o ensino à distância e pararmos de fingir que este método educativo funciona melhor do que a pá que tenta tirar o pão na padaria do Lidl?
Panificação em tempo de pandemia - miguel sentieiro
Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai
Depois de 3 meses com o cérebro enclausurado, decidi desconfinar e escrever finalmente sobre esta fase isolamento forçado. Aproveitando a loucura geral da libertação da malta que, de súbito, decidiu invadir esplanadas, praias e praças, também eu comecei meter a cabeça de fora. Vê-se que o portuga não foi feito para grandes tempos de apneia; isso é tarefa para os mergulhadores de ostras do Golfo Pérsico. Cá nós, aguentamos um bocadinho a suster o ar, mas quando nos dizem que podemos subir devagar para garantir a descompressão equilibrada, saímos a toda a gáspia em busca do oxigénio perdido sem tempo para essas mariquices.
Mas olha, que parece que a malta continua a falecer… Eu quero é que se lixe, pá! Já estava a ficar roxo de tanto ensino à distância! Eu preciso é de vitamina D em barda; parece que reforça o sistema imunitário. E sempre posso levar o iphone para o Baleal e, antes de me banhar nas águas do oceano, ou de beber umas jolas, marco presença na aula de Matemática.
Mas comecemos pela fase inicial da pandemia, em que o vírus mortal nos perseguia de forma voraz por via aérea ou terrestre. Uma das constatações mais enigmáticas dessa fase para mim, foi a pá da padaria do Lidl! Eu sei que parece estúpido, mas terão de me dar um desconto, afinal estive sem oxigenar o encéfalo durante muito tempo. Saímos de casa, munidos de todo o material de protecção, até aquele gel desinfectante viscoso que comprámos por 15 euros. Assamos dentro do carro com os vidros fechados, porque nos iremos cruzar no caminho com o camionista contaminado que veio com produtos alimentares de Itália. Chegamos ao Lidl, cruzamo-nos com um tipo que tem olhos de chinês (vê-se logo que fugiu da província de Wuhan para nos tentar fazer a folha), sustemos a respiração não vá a bicheza entrar. Vamos para a secção do pão. Esperamos que a senhora, que parece querer levar pão para armazenar durante 3 meses no seu bunker, saia da frente dos sacos de papel e vá para a secção do papel higiénico, para podermos passar ao ataque.
A senhora saiu, calçamos a luva, pegamos no saco e seguramos radiantes na pá. Dizem-nos que o Covid gosta de esperar por mãos desprotegidas nas superfícies metálicas e de plástico e o que é que os alemães criadores do Lidl inventaram? Uma pá metálica com uma pega de plástico onde o vírus pulula de alegria. Então os tipos criam a Mercedes, a Volkswagen, a BMW, a Siemens e depois enterram-se com esta deprimente pá recolhedora de pão ? Pegamos na pá com a luva e tentamos “pescar” o pão certo com um refinado trabalho de pulso ao nível dos melhores praticantes de matraquilhos. Lembramo-nos das máquinas da feira com aquela garra para apontarmos e tentar apanhar o ursinho que nunca vem e nos engole o euro. Aqui o processo é inverso, a colherada agarra sempre mais 3 paposecos do que os desejados. Seguramos no saco com a mão e vamos buscar o pão desejado mais os três extra. Chiça! Peguei no pão com a mão com que tinha segurado na pega de plástico cheia de vírus! Não memorizei bem o procedimento complexo associado àquele momento. Volto atrás, ou opto pelo “que se lixe”? A minha veia anti-desperdício e a pressão do homem que está com o ombro encostado ao meu em busca dos croissants de manteiga, levam-me a optar pelo “que se lixe” e a fugir com os paposecos contaminados na sacola.
As compras restantes são feitas em passo de corrida, a arrastar o fardo na consciência por não ter tido a concentração necessária na secção do pão, nem o trabalho prévio para que os passos da anti-contaminação batessem certo. Chego extenuado à caixa de pagamento e tenho dificuldade em estabelecer comunicação com a funcionária (que ainda não usa máscara obedecendo ao conselho inicial da senhora da DGS) pelos 4 metros de distância e o olhar enviesado para evitar inalar espilros mais enérgicos da funcionária que já tinha dado troco ao chinês de Wuhan. Depois de decifrar a frase “já pode pôr o cartão na ranhura”, teria a tarefa de tentar realizar esse desígnio, cumprindo uma distância de segurança com a solícita senhora, que teimava em manter acesa uma inadequada conversa de circunstância em tempo viral. Chego ao carro, despejo uma quantidade generosa de gel por tudo o que é epiderme e volto para casa com a segurança proporcionada pelo hermético e ardente veículo.
Felizmente que ao fim de 3 meses esta loucura profiláctica já lá vai. Eu sei que temos de continuar a ter de levar com a senhora da DGS todos os dias, mas o panorama está claramente no desconfinamento à grande. Os comboios da Amadora voltam a abarrotar, as manifestações anti-racismo juntam milhares nas ruas, os espectáculos com 2000 espectadores na plateia são partilhados pelos chefes de estado, a água do mar já convida muita malta ao mergulho e até o ministro Centeno se decidiu desconfinar dos cargos das finanças que vão dar pouco trabalho nesta fase. Ainda bem que o número de infectados por covid desceu de uma maneira abrupta e já podemos fazer a “fiesta”…Ai não?....o número continua igual?.... Então, pá!? Parece que já passámos para a fase do “que se lixe”…a falta de ar e de sol. Acho bem, até porque já não aguento a sauna do habitáculo do meu carro com os vidros fechados. Já agora e aproveitando a embalagem, será possível nesta fase, desconfinarmos o ensino à distância e pararmos de fingir que este método educativo funciona melhor do que a pá que tenta tirar o pão na padaria do Lidl?
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |