Peixes e pombos ou a civilização a andar para trás - joão carlos lopes
Dir-se-ia, de uma câmara socialista, esperar que se perseguissem os valores e ideais que aqui e ali, somados, vão concorrendo para um mundo melhor e para uma relação mais harmoniosa e avançada entre todos e tudo o que habita uma casa comum que é o território natural de um pequeno concelho. Em que o paradigma do “humano”, herança da secular cegueira antropocêntrica, seja ultrapassado para podermos olhar do lado de fora e nos vermos diante das circunstâncias que não são apenas nossas, mas comuns a tudo o que nos rodeia.
Se, à escala global, é difícil acabar com as guerras e a indústria militar, com os exércitos-brinquedos de generais e políticos, ditadores e democráticos, com as agressões entre povos, com a exploração de animais ou com a devastação dos recursos planetários, é precisamente numa pequena escala que podem e devem ser dados pequenos passos nesse sentido, porque esses passos dependem da nossa soberania.
Não podemos, mesmo na nossa “casa”, proibir touradas, para já, mas podemos impedir a construção de praças e até a licença de corridas. Não podemos proibir a pesca de recreio (de recreio para os humanos, é claro) ou actividades recreativas baseadas na utilização de animais, como a columbofilia ou outras, nos moldes em que elas ainda são legais. Mas, uma coisa é proibir, outra é não incentivar, não apoiar, não ajudar a mantê-las. E é isso que devemos fazer, sem tibiezas.
Passou despercebida, há uns meses, a informação de que a câmara tencionava instalar a “tão ansiada” pista internacional de pesca no troço urbano do rio Almonda. Não se sabe de onde e de quando vem tal anseio. Não se esperava era que fosse a câmara a querer assassinar as margens urbanas do rio com a ridícula parafernália de apoio a uma actividade que se reduz ao recreio e deleite de humanos com a captura de animais, num espectáculo degradante e inútil. Não se pode proibir tal “pesca”, em todo o lado, mas pode-se e deve-se impedir e proibir que seja feita dentro da cidade, afastando tal prática dos olhares de quem aqui está e passa.
O apoio camarário a uma actividade recreativa (para os humanos, claro) baseada na utilização de animais para comércio e deleite individual (não, não é desportiva, quem faz o “desporto” são os pombos e o desporto é uma actividade humana) vai contra tudo o que de mais elevado já é matriz do pensamento das novas gerações. E, verificando-se que o apoio é a maior fatia das verbas concedidas para a “cultura”, trata-se de uma afronta à cultura, à inteligência, à humanidade que caminha com os olhos num outro futuro.
Claro está, no caso em apreço, nada há a dizer sobre as instituições e colectividades em causa: limitaram-se a concorrer a subsídios, ao abrigo das regras e vão receber aquilo que lhes foi atribuído. Fizeram o seu papel. Os poderes públicos é que não fazem o seu: um sistema que não hierarquiza, com os seus filtros e parâmetros, o que é actividades culturais, criação artística, recreio, viagens ou festarolas, não cumpre a sua função. Não, não é tudo a mesma coisa: um filme ou uma peça de teatro, o recreio com pombos ou captura de peixes, uma corrida de cavalos ou o tiro aos patos. Não é a mesma coisa apoiar uma filarmónica e uma batida às lebres, uma orquestra e um grupo de forcados. Na lógica da câmara de Torres Novas, é.
Num caso (da pista de pesca no troço urbano da cidade, uma medonha alucinação), a oposição, à esquerda e à direita, calou-se. No outro, no apoio às verbas para a actividade columbófila, a oposição, à esquerda e à direita, foi conivente. Votou a favor. Por mero tacitismo e conveniência. Para a oposição, à esquerda e à direita, há “vacas sagradas”, poderes que nunca se afrontam, instituições que nunca se beliscam. Porque amanhã há eleições e teme-se a retaliação na hora do voto. Critica-se por trás, comentam-se as maiores “escandaleiras” que “toda a gente sabe”, mas não se pode falar nisso. Não se toca nas “nossas colectividades”, essa ficção que um dia vai cair-nos em cima da cabeça.
O “associativismo”, “a riqueza do nosso associativismo”, mitos de adornam os discursos à esquerda e à direita, do poder e da oposição, são esse tabu que teima em ser quebrado pela lógica do politicamente correcto, como se tudo fosse o melhor dos mundos, a excelência e a competência. Notícias levemente exageradas: basta ir a outras terras, sair daqui, para levarmos um banho de realidade.
Aliás, de um lado e de outro, nunca ninguém teve a coragem de dizer uma palavra sobre a trajectória suicida de um sector específico do afamado associativismo torrejano, que se tem auto-destruído em sucessivas e imparáveis dissidências e dissenções, conflitos e desavenças, birras e embirrações, que ameaçam fazer de Torres Novas uma terra em que há-de haver um clube para cada rua. No mínimo.
Peixes e pombos ou a civilização a andar para trás - joão carlos lopes
Dir-se-ia, de uma câmara socialista, esperar que se perseguissem os valores e ideais que aqui e ali, somados, vão concorrendo para um mundo melhor e para uma relação mais harmoniosa e avançada entre todos e tudo o que habita uma casa comum que é o território natural de um pequeno concelho. Em que o paradigma do “humano”, herança da secular cegueira antropocêntrica, seja ultrapassado para podermos olhar do lado de fora e nos vermos diante das circunstâncias que não são apenas nossas, mas comuns a tudo o que nos rodeia.
Se, à escala global, é difícil acabar com as guerras e a indústria militar, com os exércitos-brinquedos de generais e políticos, ditadores e democráticos, com as agressões entre povos, com a exploração de animais ou com a devastação dos recursos planetários, é precisamente numa pequena escala que podem e devem ser dados pequenos passos nesse sentido, porque esses passos dependem da nossa soberania.
Não podemos, mesmo na nossa “casa”, proibir touradas, para já, mas podemos impedir a construção de praças e até a licença de corridas. Não podemos proibir a pesca de recreio (de recreio para os humanos, é claro) ou actividades recreativas baseadas na utilização de animais, como a columbofilia ou outras, nos moldes em que elas ainda são legais. Mas, uma coisa é proibir, outra é não incentivar, não apoiar, não ajudar a mantê-las. E é isso que devemos fazer, sem tibiezas.
Passou despercebida, há uns meses, a informação de que a câmara tencionava instalar a “tão ansiada” pista internacional de pesca no troço urbano do rio Almonda. Não se sabe de onde e de quando vem tal anseio. Não se esperava era que fosse a câmara a querer assassinar as margens urbanas do rio com a ridícula parafernália de apoio a uma actividade que se reduz ao recreio e deleite de humanos com a captura de animais, num espectáculo degradante e inútil. Não se pode proibir tal “pesca”, em todo o lado, mas pode-se e deve-se impedir e proibir que seja feita dentro da cidade, afastando tal prática dos olhares de quem aqui está e passa.
O apoio camarário a uma actividade recreativa (para os humanos, claro) baseada na utilização de animais para comércio e deleite individual (não, não é desportiva, quem faz o “desporto” são os pombos e o desporto é uma actividade humana) vai contra tudo o que de mais elevado já é matriz do pensamento das novas gerações. E, verificando-se que o apoio é a maior fatia das verbas concedidas para a “cultura”, trata-se de uma afronta à cultura, à inteligência, à humanidade que caminha com os olhos num outro futuro.
Claro está, no caso em apreço, nada há a dizer sobre as instituições e colectividades em causa: limitaram-se a concorrer a subsídios, ao abrigo das regras e vão receber aquilo que lhes foi atribuído. Fizeram o seu papel. Os poderes públicos é que não fazem o seu: um sistema que não hierarquiza, com os seus filtros e parâmetros, o que é actividades culturais, criação artística, recreio, viagens ou festarolas, não cumpre a sua função. Não, não é tudo a mesma coisa: um filme ou uma peça de teatro, o recreio com pombos ou captura de peixes, uma corrida de cavalos ou o tiro aos patos. Não é a mesma coisa apoiar uma filarmónica e uma batida às lebres, uma orquestra e um grupo de forcados. Na lógica da câmara de Torres Novas, é.
Num caso (da pista de pesca no troço urbano da cidade, uma medonha alucinação), a oposição, à esquerda e à direita, calou-se. No outro, no apoio às verbas para a actividade columbófila, a oposição, à esquerda e à direita, foi conivente. Votou a favor. Por mero tacitismo e conveniência. Para a oposição, à esquerda e à direita, há “vacas sagradas”, poderes que nunca se afrontam, instituições que nunca se beliscam. Porque amanhã há eleições e teme-se a retaliação na hora do voto. Critica-se por trás, comentam-se as maiores “escandaleiras” que “toda a gente sabe”, mas não se pode falar nisso. Não se toca nas “nossas colectividades”, essa ficção que um dia vai cair-nos em cima da cabeça.
O “associativismo”, “a riqueza do nosso associativismo”, mitos de adornam os discursos à esquerda e à direita, do poder e da oposição, são esse tabu que teima em ser quebrado pela lógica do politicamente correcto, como se tudo fosse o melhor dos mundos, a excelência e a competência. Notícias levemente exageradas: basta ir a outras terras, sair daqui, para levarmos um banho de realidade.
Aliás, de um lado e de outro, nunca ninguém teve a coragem de dizer uma palavra sobre a trajectória suicida de um sector específico do afamado associativismo torrejano, que se tem auto-destruído em sucessivas e imparáveis dissidências e dissenções, conflitos e desavenças, birras e embirrações, que ameaçam fazer de Torres Novas uma terra em que há-de haver um clube para cada rua. No mínimo.
![]() Num momento em que o sentimento generalizado sobre os chineses é de alguma desconfiança, preparo-me aqui para contrapor e dar uma oportunidade aos tipos. Eu sei que nos foram mandando com a peste bubónica, a gripe asiática, a gripe das aves, o corona vírus. |
![]() É muito bom viver em Torres Novas mas também se sente o peso de estar longe do que de verdadeiramente moderno se passa no mundo, enfim, nada de #Me Too, Je suis Charlie Hebdo, vetustas estátuas transformadas em anúncios da Benetton. |
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Recuemos no tempo. Entremos numa máquina do tempo e cliquemos no botão que nos leve até ao ano de 2001. Recordemos vagamente que em 2001: - Caíram as Torres Gémeas em Nova Yorque em 11 setembro. |
![]() Quando a internet surgiu e, posteriormente, com a emergência dos blogues e redes sociais pensou-se que a esfera pública tinha encontrado uma fonte de renovação. Mais pessoas poderiam trocar opiniões sobre os problemas que afectam a vida comum, sem estarem controladas pelos diversos poderes, contribuindo para uma crescente participação, racionalmente educada, nos assuntos públicos. |
![]() É e sempre foi uma questão de equilíbrio. Tudo. E todos o sabemos. O difícil é chegar lá, encontrá-lo, ter a racionalidade e o bom senso suficientes para o ter e para o ser. E para saber que o equilíbrio de hoje não é obrigatoriamente o de amanhã, muito menos o que era ontem. |
![]() Comemorou-se a 21 de Março o dia da floresta. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) resolveu assinalar a data disponibilizando 50.000 árvores gratuitamente à população. Quem as quisesse plantar, teria de se identificar, inscrever, levantar a árvore (até um máximo de dez árvores por pessoa) e, num prazo de 48 horas, declarar o local onde plantou documentando com fotos. |
![]() Hoje, como acontece diariamente, no caminho de casa até à escola, lá se deu o habitual encontro matinal entre mim e o Ananias, o meu amigo ardina. Trocámos algumas palavras, comprei o jornal e seguimos por caminhos opostos que nos levam à nossa missão do dia, o trabalho. |
![]() Durante décadas, todos os torrejanos ajudaram no que puderam o CRIT, uma obra social que granjeou a estima de todos os cidadãos e empresários, e foram muitos, que sempre disseram sim a todas e quaisquer formas de ajuda em prol da aventura iniciada em 1975. |
![]() Na política, ou se tem ideias, rasgo e capacidade de antecipação para marcar a diferença, ou andamos sempre no rengo-rengo. As vítimas da pandemia estão aí, agora com maior visibilidade, mais desemprego, mais encerramentos de pequenas empresas, comércio, restauração, serviços, trabalhadores independentes sem rendimentos. |
» 2021-04-08
» João Carlos Lopes
O CRIT já não é de todos os torrejanos - joão carlos lopes |
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» João Carlos Lopes
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» José Ricardo Costa
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A arte do possível - jorge carreira maia |
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São rosas, senhor - carlos paiva |