Como dantes não se falava, também não se dava por ela.
Qualquer pessoa normal é contra a violência doméstica. Acontece que não gosto da expressão “violência doméstica”, demasiado sociológica, urbana, abstracta, mera etiqueta que não faz jus ao tipo de aberração que pretende traduzir.
Um homem que bate na mulher não é um homem violento: é um ogre com um cérebro reptiliano, uma besta quadrada, troglodita, brutamontes, grunho, alarve, javardo, bronco, cão raivoso, labrego, jagunço, cavalgadura, matarruano, monte de esterco humano, o que tudo somado dá um irrecomendável psicopata do qual nada se aproveita.
O grande jornalista Karl Kraus, que viveu em Viena num dos períodos culturalmente mais férteis da Europa, dizia que a linguagem é a mãe do pensamento, não a sua criada. Por isso temos de passar a chamar os verdadeiros nomes às coisas, evitando chavões que repetidos à exaustão nos jornais televisões, redes sociais, vão perdendo o seu significado.
É verdade que foi um passo importante ter-se passado a falar de violência doméstica. Como dantes não se falava, também não se dava por ela. Claro que não era por não se falar que deixava de existir, tendo razão o historiador francês Lucien Febvre que considerava que as coisas existem antes das palavras para elas serem inventadas. Mas o que acontecia era os homens darem e as mulheres apanharem, que não é violência doméstica mas apenas um homem a dar e a mulher a apanhar. Hoje, uma mulher que apanha diz-se vítima de violência doméstica mas quando a avó ou mãe apanharam do avô ou do pai, não se diziam vítimas de violência doméstica, apenas apanhavam ou levavam de um homem com “mau feitio”, “maus fígados”, “mau vinho”, com o qual casaram. Passar a dizer “violência doméstica” foi assim um passo civilizacional importante para perceber que um homem “a dar na mulher” é muito mais do que um homem “a dar na mulher”.
Mas ainda está longe de traduzir a realidade. Eu gosto de expressões antigas como “enxerto de porrada” ou “carga de cachaporra”, para neste caso me referir um homem que, um dia, de sorriso nos lábios, jurou amor eterno a uma jovem com um raminho de flores na mão. São expressões vernáculas que, infelizmente, estão a cair em desuso, consideradas demasiado grosseiras para os depurados padrões linguísticos de agora. Mas aí é que está! Sendo, de facto, expressões grosseiras, traduzem muito melhor do que qualquer etiqueta sociológica, o mais primário e grosseiro dos comportamentos. A besta, o ogre, até pode ser bom benfiquista e sentar-se a meu lado no Estádio da Luz. Mas a partir do momento em que chega a casa para dar cachaporra ou porrada, sejam ou não fúteis os seus motivos, deixa de fazer parte da espécie à qual pertenço, devendo o seu destino não ser a prisão mas o jardim zoológico para fazer companhia a animais cuja agressividade, todavia, está em perfeita consonância com a sua natureza selvagem.
Bater, bate leve, levemente, a neve, como quem chama por nós. O que um homem faz à mulher não é bater mas dar porrada ou cachaporra, palavras que baixam ao nível de quem a dá, envergonhando a espécie humana. Por isso, deixemos de falar em violências domésticas, chamando de uma vez por todas os bois pelos nomes: matarruanos que se comprazem a dar cachaporra ou valentes cargas de porrada nas mulheres só porque não se limitam a ser umas bonequinhas insufláveis que não respondem à vontade, necessidades e desejos do ogre de olhos vidrados e baba de ódio a escorrer pela boca. Para além de primário e grosseiro, animal mais fraco, inseguro, sem personalidade e dignidade é difícil conceber.
Como dantes não se falava, também não se dava por ela.
Qualquer pessoa normal é contra a violência doméstica. Acontece que não gosto da expressão “violência doméstica”, demasiado sociológica, urbana, abstracta, mera etiqueta que não faz jus ao tipo de aberração que pretende traduzir.
Um homem que bate na mulher não é um homem violento: é um ogre com um cérebro reptiliano, uma besta quadrada, troglodita, brutamontes, grunho, alarve, javardo, bronco, cão raivoso, labrego, jagunço, cavalgadura, matarruano, monte de esterco humano, o que tudo somado dá um irrecomendável psicopata do qual nada se aproveita.
O grande jornalista Karl Kraus, que viveu em Viena num dos períodos culturalmente mais férteis da Europa, dizia que a linguagem é a mãe do pensamento, não a sua criada. Por isso temos de passar a chamar os verdadeiros nomes às coisas, evitando chavões que repetidos à exaustão nos jornais televisões, redes sociais, vão perdendo o seu significado.
É verdade que foi um passo importante ter-se passado a falar de violência doméstica. Como dantes não se falava, também não se dava por ela. Claro que não era por não se falar que deixava de existir, tendo razão o historiador francês Lucien Febvre que considerava que as coisas existem antes das palavras para elas serem inventadas. Mas o que acontecia era os homens darem e as mulheres apanharem, que não é violência doméstica mas apenas um homem a dar e a mulher a apanhar. Hoje, uma mulher que apanha diz-se vítima de violência doméstica mas quando a avó ou mãe apanharam do avô ou do pai, não se diziam vítimas de violência doméstica, apenas apanhavam ou levavam de um homem com “mau feitio”, “maus fígados”, “mau vinho”, com o qual casaram. Passar a dizer “violência doméstica” foi assim um passo civilizacional importante para perceber que um homem “a dar na mulher” é muito mais do que um homem “a dar na mulher”.
Mas ainda está longe de traduzir a realidade. Eu gosto de expressões antigas como “enxerto de porrada” ou “carga de cachaporra”, para neste caso me referir um homem que, um dia, de sorriso nos lábios, jurou amor eterno a uma jovem com um raminho de flores na mão. São expressões vernáculas que, infelizmente, estão a cair em desuso, consideradas demasiado grosseiras para os depurados padrões linguísticos de agora. Mas aí é que está! Sendo, de facto, expressões grosseiras, traduzem muito melhor do que qualquer etiqueta sociológica, o mais primário e grosseiro dos comportamentos. A besta, o ogre, até pode ser bom benfiquista e sentar-se a meu lado no Estádio da Luz. Mas a partir do momento em que chega a casa para dar cachaporra ou porrada, sejam ou não fúteis os seus motivos, deixa de fazer parte da espécie à qual pertenço, devendo o seu destino não ser a prisão mas o jardim zoológico para fazer companhia a animais cuja agressividade, todavia, está em perfeita consonância com a sua natureza selvagem.
Bater, bate leve, levemente, a neve, como quem chama por nós. O que um homem faz à mulher não é bater mas dar porrada ou cachaporra, palavras que baixam ao nível de quem a dá, envergonhando a espécie humana. Por isso, deixemos de falar em violências domésticas, chamando de uma vez por todas os bois pelos nomes: matarruanos que se comprazem a dar cachaporra ou valentes cargas de porrada nas mulheres só porque não se limitam a ser umas bonequinhas insufláveis que não respondem à vontade, necessidades e desejos do ogre de olhos vidrados e baba de ódio a escorrer pela boca. Para além de primário e grosseiro, animal mais fraco, inseguro, sem personalidade e dignidade é difícil conceber.
![]() Dizia-se do último czar da Rússia, Nicolau II, que a sua opinião era a opinião da última pessoa com quem tinha falado. Cem anos depois, Nicolau II reencarnou em alguma daquela rapaziada que tomou conta dos principais partidos da nossa democracia. |
![]() Quando saí de Torres Novas para ir estudar em Lisboa já sabia que iria depois sair de Lisboa para vir trabalhar em Torres Novas. A primeira razão para voltar foi de natureza umbilical: eu ser de Torres Novas como outros são de Mangualde ou Famalicão. |
![]() Se se observar o comportamento dos portugueses perante a pandemia, talvez seja possível ter um vislumbre daquilo que somos e de como gostamos de ser governados. Obviamente que não nos comportamos todas da mesma forma e não gostamos todos de ser governados da mesma maneira. |
![]() O herói nacional, melhor jogador de futebol do mundo de sempre, segundo dizem, foi protagonista numa daquelas histórias que são matéria-prima para solidificar lendas. Nessa história, sublinhando as origens humildes, o estratosférico conquista mais um laço com o Zé comum. |
![]() Apesar da limitação de vacinas nesta fase, o país tem vindo a ser confrontado com variados episódios de vacinação fora do que está priorizado. Há sempre alguém que se julga acima das normas ou que faz as suas próprias normas e ultrapassa assim os que estão na fila, ou então por via de terceiros chegam primeiro à seringa. |
![]() Na falta de acções presenciais, multiplicaram-se, nos últimos meses, as iniciativas on-line sobre os mais diversos assuntos. Num destes eventos em que participei, sensibilizou-me, particularmente, o testemunho de um ex-ministro social-democrata que, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política mais activa, reconheceu que não pretende fazê-lo porque, e nas suas palavras, os quatro anos em que foi ministro mudaram-no, levando amigos e familiares mais próximos a dizerem-lhe que, nessa altura, ele não era “o mesmo Nuno”. |
![]() 1. O PSD de Torres Novas é uma anedota. Ao mesmo tempo que digo isto, ouço já ao fundo vozes a erguerem-se contra esta forma crua e dura de arrancar com este texto. Imagino até as conclusões de quem tem facilidade de falar sem saber: é do Bloco, dizem uns, comunista desde sempre, atiram outros, indo ainda mais longe, lembrando que dirige aquele pasquim comunista, conforme aprenderam com o ex-presidente socialista. |
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![]() Passo de ballet, movimento em que a bailarina estica graciosamente a perna, tem diferentes níveis de dificuldade consoante a direcção da perna e a altura a que chega o pé, requer um grande equilíbrio e um elevado nível de concentração. |
![]() Ouço os sinais ao longe. Um pranto gritado bem alto, do alto dos sinos da igreja, por alguém que partiu. É já raro ouvir-se. Por norma, pelo menos na nossa cidade, ecoam apenas pelos que muito deram de si à causa religiosa. |
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Hill Street Blues - carlos paiva |
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O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia |
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» Hélder Dias
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