Torres Novas: um centro sem luz - inês vidal
Opinião » 2020-08-19 » Inês Vidal"Quando se avança pela cidade, para além dos limites da calçada portuguesa que tão bem nos recebe, a visão pode ser bem mais dura"
Torres Novas tinha tudo para ser um bonito postal ilustrado. Do castelo altaneiro, que olha de cima a praça pintada de roxo dos jacarandás, ao rio que o circunda, ao jardim que envolve o centro histórico... Quem vem pela primeira vez, se tiver a sorte de dormitar toda a viagem e abrir os olhos apenas quando curva o topo da rua de Nun’Álvares, cruzando-se em primeiro lugar com a Praça 5 de Outubro, fica, sem dúvida, bem impressionado. Imagina-se, assim, num daqueles bem cuidados centros espanhóis, numa terra com orgulho pelas suas curvas, pelas suas calçadas, pela sua história.
Quando a sua incursão avança pela cidade, para além dos limites da calçada portuguesa que tão bem o recebe, a visão pode ser bem mais dura. E aquela Torres Novas romântica que o castelo, lá no alto, nos oferece, perde o lirismo dos filmes italianos e leva-nos ao coração do cenário de um filme sérvio.
Como qualquer centro que se sente ao abandono, sem gente, sem oferta que atraia, este vai deixando entrar quem não é bem-vindo noutros mundos, quem se move nas sombras, quem não se sente intimidado pelos escombros, antes se funde neles, tornando-se difícil descodificar onde começa um e termina os outros, distinguir quem se contaminou a quem.
Quando miúda, lembro-me de um centro assim, com vielas e ruelas propícias a acolher quem não queria ser visto. A palavra espalhava-se rápido e atrás de uns vinham outros, caras novas, já velhas do trato. Todos sabiam, todos viam, ninguém combatia. Uma geração marcada e magoada. Uma cidade à medida para todos eles, com as respostas que achavam procurar.
Pelo caminho, a cidade ganhou mais céu, mais luz e as ruas e becos do centro ficaram mais amplos, mais visíveis, com menos recantos escondidos. Fruto de uma atenção maior à cidade ou de uma geração que se seguiu, mais desperta para os perigos e sem ilusões de vidas melhores oferecidas numa viagem, a verdade é que vieram dias mais luminosos em Torres Novas.
Mas desengane-se quem pensa que esses dias dormem no passado. O centro da nossa cidade voltou a ser palco atractivo para quem não quer atrair atenções. É um novo ciclo, a repetição de um outro. Uma outra geração, novas caras, vindas não se sabe de onde. As mesmas marcas, os mesmos desejos, os mesmos fantasmas, à procura do que todos sabemos bem.
De novo, todo um centro que se adapta. Ou desiste. Novos medos, novos cuidados. Não bastava já um centro em ruínas, feio em seu redor, que só por si repelia quem até gostaria de entrar. Junta-se agora uma população que assusta quem não conhece, que faz temer, afugenta.
Não sei de onde parte a solução. Se de uma nova mudança de mentalidades, que achávamos já capaz de resistir a uma intempérie destas, se de políticas autárquicas que tragam de novo luz ao centro da cidade. Uma luz sem sombras, daquela que nos pinta a esperança nos mesmos tons de roxo dos jacarandás.
Torres Novas: um centro sem luz - inês vidal
Opinião » 2020-08-19 » Inês VidalQuando se avança pela cidade, para além dos limites da calçada portuguesa que tão bem nos recebe, a visão pode ser bem mais dura
Torres Novas tinha tudo para ser um bonito postal ilustrado. Do castelo altaneiro, que olha de cima a praça pintada de roxo dos jacarandás, ao rio que o circunda, ao jardim que envolve o centro histórico... Quem vem pela primeira vez, se tiver a sorte de dormitar toda a viagem e abrir os olhos apenas quando curva o topo da rua de Nun’Álvares, cruzando-se em primeiro lugar com a Praça 5 de Outubro, fica, sem dúvida, bem impressionado. Imagina-se, assim, num daqueles bem cuidados centros espanhóis, numa terra com orgulho pelas suas curvas, pelas suas calçadas, pela sua história.
Quando a sua incursão avança pela cidade, para além dos limites da calçada portuguesa que tão bem o recebe, a visão pode ser bem mais dura. E aquela Torres Novas romântica que o castelo, lá no alto, nos oferece, perde o lirismo dos filmes italianos e leva-nos ao coração do cenário de um filme sérvio.
Como qualquer centro que se sente ao abandono, sem gente, sem oferta que atraia, este vai deixando entrar quem não é bem-vindo noutros mundos, quem se move nas sombras, quem não se sente intimidado pelos escombros, antes se funde neles, tornando-se difícil descodificar onde começa um e termina os outros, distinguir quem se contaminou a quem.
Quando miúda, lembro-me de um centro assim, com vielas e ruelas propícias a acolher quem não queria ser visto. A palavra espalhava-se rápido e atrás de uns vinham outros, caras novas, já velhas do trato. Todos sabiam, todos viam, ninguém combatia. Uma geração marcada e magoada. Uma cidade à medida para todos eles, com as respostas que achavam procurar.
Pelo caminho, a cidade ganhou mais céu, mais luz e as ruas e becos do centro ficaram mais amplos, mais visíveis, com menos recantos escondidos. Fruto de uma atenção maior à cidade ou de uma geração que se seguiu, mais desperta para os perigos e sem ilusões de vidas melhores oferecidas numa viagem, a verdade é que vieram dias mais luminosos em Torres Novas.
Mas desengane-se quem pensa que esses dias dormem no passado. O centro da nossa cidade voltou a ser palco atractivo para quem não quer atrair atenções. É um novo ciclo, a repetição de um outro. Uma outra geração, novas caras, vindas não se sabe de onde. As mesmas marcas, os mesmos desejos, os mesmos fantasmas, à procura do que todos sabemos bem.
De novo, todo um centro que se adapta. Ou desiste. Novos medos, novos cuidados. Não bastava já um centro em ruínas, feio em seu redor, que só por si repelia quem até gostaria de entrar. Junta-se agora uma população que assusta quem não conhece, que faz temer, afugenta.
Não sei de onde parte a solução. Se de uma nova mudança de mentalidades, que achávamos já capaz de resistir a uma intempérie destas, se de políticas autárquicas que tragam de novo luz ao centro da cidade. Uma luz sem sombras, daquela que nos pinta a esperança nos mesmos tons de roxo dos jacarandás.
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