Para quem é, bacalhau basta - carlos paiva
Opinião » 2020-11-06 » Carlos Paiva"Em tempos, decidiu-se que num raio de X metros à volta de uma escola não poderiam existir salões de jogos"
Quando vou a um restaurante e peço um bife, a minha expectativa é que a próxima pergunta do empregado de mesa seja: “Quer da vazia, lombo ou alcatra?” Sei que estou no sítio errado quando as expectativas são defraudadas pela pergunta: “Quer bem ou mal passado?” Sem me poder considerar mundano, sou suficientemente rodado para perceber a diferença, tanto de qualidade como de preço, entre as duas perguntas.
Apesar de cair pontualmente na tentação da mixórdia de gordura e farinha, com um picle, a que chamam eufemisticamente fast food, não considero tais sucursais de consumo restaurantes. Porque, por todos os parâmetros, não o são. Muito me admira a existência de quem os considere como tal. Pior, quem os considere de nível. A ponto de levarem a família ou os amigos a comer lá por ocasião de celebrações festivas. Datas especiais que ficam marcadas por fezes quase líquidas, não é propriamente compatível com o apreço que tenho pelos meus e os que me são próximos. Prefiro assinalar esses momentos de forma mais sólida e consistente.
O facto de tais estabelecimentos serem percebidos por alguns, muitos, como restaurantes de alto gabarito e qualidade, diz muito, senão tudo, sobre o patamar social de determinada região. Referi “social” excluindo propositadamente o “económico” porque, de facto, não tem nada que ver com poder económico, dinheiro. E tudo que ver com informação, educação e cultura.
Perfeitamente capazes de ir passar férias com a família a um paraíso tropical e comer sistematicamente a tal mixórdia de gordura e farinha, com um picle, porque são férias. Já basta as limitações a que se sujeitaram o ano inteiro para conseguir uma semanita de liberdade, vamos lá gozar isto à grande. Lanchar um par de maçãs e visitar o museu Carlos Reis, passear pela avenida e ler um livro na biblioteca Gustavo Pinto Lopes, é para quem gere os recursos mediante outras prioridades. É uma realidade social e não económica.
Por esta perspetiva, entendo ser de grande responsabilidade governativa um ordenamento urbano que coloque macieiras à volta das escolas (impraticável porque a política camarária é adversa às árvores) e os hidrocarbonetos saturados fora do alcance fácil de quem, sujeito às pressões de integração social e afirmação de personalidade próprias da juventude, ainda não sabe escolher bem.
Em tempos, decidiu-se que num raio de X metros à volta de uma escola não poderiam existir salões de jogos. Serviram todas as justificações baseadas na saúde (nessa altura podia-se beber álcool e fumar em todo o lado), assim como a vulnerabilidade infantil e juvenil na exposição ao jogo e outros vícios. Apesar de nenhum jogo de snooker causar diabetes nem uma jogatana de flippers causar obesidade mórbida, concordei com o princípio. Como consequência, houve investimentos sem retorno, postos de trabalho perdidos, áreas de negócio inviabilizadas. Assumiu-se este custo por um bem comum, superior. Para muita pena minha, estes valores não são reflectidos na gestão autárquica actual. Perderam-se. Ou melhor, venderam-se. A troco de meia dúzia de postos de trabalho precário, a troco do que é popular, a troco do que é nefasto. Não duvido que haja retorno em votos. Retorno líquido, certamente.
Para quem é, bacalhau basta - carlos paiva
Opinião » 2020-11-06 » Carlos PaivaEm tempos, decidiu-se que num raio de X metros à volta de uma escola não poderiam existir salões de jogos
Quando vou a um restaurante e peço um bife, a minha expectativa é que a próxima pergunta do empregado de mesa seja: “Quer da vazia, lombo ou alcatra?” Sei que estou no sítio errado quando as expectativas são defraudadas pela pergunta: “Quer bem ou mal passado?” Sem me poder considerar mundano, sou suficientemente rodado para perceber a diferença, tanto de qualidade como de preço, entre as duas perguntas.
Apesar de cair pontualmente na tentação da mixórdia de gordura e farinha, com um picle, a que chamam eufemisticamente fast food, não considero tais sucursais de consumo restaurantes. Porque, por todos os parâmetros, não o são. Muito me admira a existência de quem os considere como tal. Pior, quem os considere de nível. A ponto de levarem a família ou os amigos a comer lá por ocasião de celebrações festivas. Datas especiais que ficam marcadas por fezes quase líquidas, não é propriamente compatível com o apreço que tenho pelos meus e os que me são próximos. Prefiro assinalar esses momentos de forma mais sólida e consistente.
O facto de tais estabelecimentos serem percebidos por alguns, muitos, como restaurantes de alto gabarito e qualidade, diz muito, senão tudo, sobre o patamar social de determinada região. Referi “social” excluindo propositadamente o “económico” porque, de facto, não tem nada que ver com poder económico, dinheiro. E tudo que ver com informação, educação e cultura.
Perfeitamente capazes de ir passar férias com a família a um paraíso tropical e comer sistematicamente a tal mixórdia de gordura e farinha, com um picle, porque são férias. Já basta as limitações a que se sujeitaram o ano inteiro para conseguir uma semanita de liberdade, vamos lá gozar isto à grande. Lanchar um par de maçãs e visitar o museu Carlos Reis, passear pela avenida e ler um livro na biblioteca Gustavo Pinto Lopes, é para quem gere os recursos mediante outras prioridades. É uma realidade social e não económica.
Por esta perspetiva, entendo ser de grande responsabilidade governativa um ordenamento urbano que coloque macieiras à volta das escolas (impraticável porque a política camarária é adversa às árvores) e os hidrocarbonetos saturados fora do alcance fácil de quem, sujeito às pressões de integração social e afirmação de personalidade próprias da juventude, ainda não sabe escolher bem.
Em tempos, decidiu-se que num raio de X metros à volta de uma escola não poderiam existir salões de jogos. Serviram todas as justificações baseadas na saúde (nessa altura podia-se beber álcool e fumar em todo o lado), assim como a vulnerabilidade infantil e juvenil na exposição ao jogo e outros vícios. Apesar de nenhum jogo de snooker causar diabetes nem uma jogatana de flippers causar obesidade mórbida, concordei com o princípio. Como consequência, houve investimentos sem retorno, postos de trabalho perdidos, áreas de negócio inviabilizadas. Assumiu-se este custo por um bem comum, superior. Para muita pena minha, estes valores não são reflectidos na gestão autárquica actual. Perderam-se. Ou melhor, venderam-se. A troco de meia dúzia de postos de trabalho precário, a troco do que é popular, a troco do que é nefasto. Não duvido que haja retorno em votos. Retorno líquido, certamente.
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia » 2024-04-10 » Jorge Carreira Maia Existe, em Portugal, uma franja pequena do eleitorado que quer, deliberadamente, destruir a democracia, não suporta os regimes liberais, sonha com o retorno ao autoritarismo. Ao votar Chega, fá-lo racionalmente. Contudo, a explosão do eleitorado do partido de André Ventura não se explica por esse tipo de eleitores. |
Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
Este é o meu único mundo! - antónio mário santos » 2024-03-08 » António Mário Santos Comentava João Carlos Lopes , no último Jornal Torrejano, de 16 de Fevereiro, sob o título Este Mundo e o Outro, partindo, quer do pessimismo nostálgico do Jorge Carreira Maia (Este não é o meu mundo), quer da importância da memória, em Maria Augusta Torcato, para resistir «à névoa que provoca o esquecimento e cegueira», quer «na militância política e cívica sempre empenhada», da minha autoria, num país do salve-se quem puder e do deixa andar, sempre à espera dum messias que resolva, por qualquer gesto milagreiro, a sua raiva abafada de nunca ser outra coisa que a imagem crónica de pobreza. |
Plantação intensiva: do corte à escovinha e tudo em fila aos horizontes metalificados - maria augusta torcato » 2024-03-08 » Maria Augusta Torcato Não sei se por causa das minhas origens ou simplesmente da minha natureza, há em mim algo, muito forte, que me liga a árvores, a plantas, a flores, a animais, a espaços verdes ou amarelos e amplos ou exíguos, a serras mais ou menos elevadas, de onde as neblinas se descolam e evolam pelos céus, a pedras, pequenas ou pedregulhos, espalhadas ou juntinhas e a regatos e fontes que jorram espontaneamente. |
A crise das democracias liberais - jorge carreira maia » 2024-03-08 » Jorge Carreira Maia A crise das democracias liberais, que tanto e a tantos atormenta, pode residir num conflito entre a natureza humana e o regime democrático-liberal. Num livro de 2008, Democratic Authority – a philosophical framework, o filósofo David. |
A carne e os ossos - pedro borges ferreira » 2024-03-08 » Pedro Ferreira Existe um paternalismo naqueles que desenvolvem uma compreensão do mundo extensiva que muitas vezes não lhes permite ver os outros, quiçá a si próprios, como realmente são. A opinião pública tem sido marcada por reflexões sobre a falta de memória histórica como justificação do novo mundo intolerante que está para vir, adivinho eu, devido à intenção de voto que se espera no CHEGA. |
O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
Este mundo e o outro - joão carlos lopes » 2024-02-22 Escreve Jorge Carreira Maia, nesta edição, ter a certeza de que este mundo já não é o seu e que o mundo a que chamou seu acabou. “Não sei bem qual foi a hora em que as coisas mudaram, em que a megera da História me deixou para trás”, vai ele dizendo na suas palavras sempre lúcidas e brilhantes, concluindo que “vivemos já num mundo tenebroso, onde os clowns ainda não estão no poder, mas este já espera por eles, para que a História satisfaça a sua insaciável sede de sangue e miséria”. |
2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
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