É um pássaro!? É um avião!? Não! É o supermercado! - carlos paiva
"Se um dia Deus permitisse a vinda de tais supermercados para Torres Novas, cairiam de quatro, "
Corria o distante ano de 1987 quando foi inaugurado o segundo hipermercado em território nacional, na Amadora. O primeiro foi em Matosinhos, em 1985, mas por causa da pronúncia do norte, foi mal interpretado e a malta não ligou. Os torrejanos, sedentos de modernidade, apressaram-se a ir à Rodoviária Nacional, que hoje é um monte de entulho vedado por um muro para não ferir susceptibilidades, alugar uns autocarros para excursionarem probatoriamente a novíssima coqueluche do consumo, tudo muito cosmopolita, claro.
Mal o sol se erguia, estavam todos de mala vazia na antiga garagem dos Claras, que hoje é… bom, ninguém sabe muito bem o que é aquilo, por isso chamemos-lhe “a coisa” que assim toda a gente percebe, para partirem rumo à capital, a cidade da Amadora, com o intuito de encher a mala, alguns, ver as vistas, outros. Lá, nesse destino de sonho, descobriram as mais recentes novidades que só a modernidade e o progresso poderiam oferecer. Deslumbrados com tanta luzinha, tanta corzinha e o ritmo frenético com que tudo se processava, compraram laranjas do Pafarrão, doces e suculentas. Figos de Torres Novas, enormes e brilhantes como se tivessem sido encerados. Garrafas de bebidas espirituosas, temperadas com álcool destilado em Torres Novas. Rolos de papel higiénico, macio, dupla folha, imaculadamente branco, fabricado na Zibreira. Álcool em gel fabricado nas Lapas (não viesse para aí uma virose qualquer e mais vale prevenir que remediar). Azeite virgem, fabricado a partir das azeitonas do concelho de Torres Novas. E outros artigos igualmente raros.
Quando as malas já estavam cheias de todas estas iguarias, apenas acessíveis aos que heroicamente se aventuraram na expedição, regressaram ao burgo com as palas dos autocarros a arrojar pelo chão. Chegados cá, do alto da sua recém adquirida urbanidade, esfregaram na cara dos conterrâneos, saloios cobardes, que não se interessaram pela aventura da expedição ao progresso, toda uma experiência transcendente, a roçar o religioso. E feitas as contas, considerando o custo da viagem, os bens de consumo terem ficado pelo dobro do preço, não fazia mal nenhum.
No dia seguinte, na Amadora, as prateleiras foram repostas com indiferença por indiferenciados. Em Torres Novas, o rio Almonda recebeu os bens de consumo, depois de processados pelo aparelho digestivo dos torrejanos, nunca mais se recompondo do trauma até aos dias de hoje. Dizem as lendas desses dias longínquos, acerca da profundidade do impacto desta heróica expedição, que houve homens feitos, de barba rija, a jurar de lágrimas nos olhos que, se um dia Deus permitisse a vinda de tais supermercados para Torres Novas, cairiam de quatro, esticavam a língua e ficariam de cauda a abanar, arfando em êxtase.
Não sou aventureiro expedicionário, talvez por isso me ecoem na cabeça as palavras do meu avô: “Não sirvas quem nunca serviu”.
É um pássaro!? É um avião!? Não! É o supermercado! - carlos paiva
Se um dia Deus permitisse a vinda de tais supermercados para Torres Novas, cairiam de quatro,
Corria o distante ano de 1987 quando foi inaugurado o segundo hipermercado em território nacional, na Amadora. O primeiro foi em Matosinhos, em 1985, mas por causa da pronúncia do norte, foi mal interpretado e a malta não ligou. Os torrejanos, sedentos de modernidade, apressaram-se a ir à Rodoviária Nacional, que hoje é um monte de entulho vedado por um muro para não ferir susceptibilidades, alugar uns autocarros para excursionarem probatoriamente a novíssima coqueluche do consumo, tudo muito cosmopolita, claro.
Mal o sol se erguia, estavam todos de mala vazia na antiga garagem dos Claras, que hoje é… bom, ninguém sabe muito bem o que é aquilo, por isso chamemos-lhe “a coisa” que assim toda a gente percebe, para partirem rumo à capital, a cidade da Amadora, com o intuito de encher a mala, alguns, ver as vistas, outros. Lá, nesse destino de sonho, descobriram as mais recentes novidades que só a modernidade e o progresso poderiam oferecer. Deslumbrados com tanta luzinha, tanta corzinha e o ritmo frenético com que tudo se processava, compraram laranjas do Pafarrão, doces e suculentas. Figos de Torres Novas, enormes e brilhantes como se tivessem sido encerados. Garrafas de bebidas espirituosas, temperadas com álcool destilado em Torres Novas. Rolos de papel higiénico, macio, dupla folha, imaculadamente branco, fabricado na Zibreira. Álcool em gel fabricado nas Lapas (não viesse para aí uma virose qualquer e mais vale prevenir que remediar). Azeite virgem, fabricado a partir das azeitonas do concelho de Torres Novas. E outros artigos igualmente raros.
Quando as malas já estavam cheias de todas estas iguarias, apenas acessíveis aos que heroicamente se aventuraram na expedição, regressaram ao burgo com as palas dos autocarros a arrojar pelo chão. Chegados cá, do alto da sua recém adquirida urbanidade, esfregaram na cara dos conterrâneos, saloios cobardes, que não se interessaram pela aventura da expedição ao progresso, toda uma experiência transcendente, a roçar o religioso. E feitas as contas, considerando o custo da viagem, os bens de consumo terem ficado pelo dobro do preço, não fazia mal nenhum.
No dia seguinte, na Amadora, as prateleiras foram repostas com indiferença por indiferenciados. Em Torres Novas, o rio Almonda recebeu os bens de consumo, depois de processados pelo aparelho digestivo dos torrejanos, nunca mais se recompondo do trauma até aos dias de hoje. Dizem as lendas desses dias longínquos, acerca da profundidade do impacto desta heróica expedição, que houve homens feitos, de barba rija, a jurar de lágrimas nos olhos que, se um dia Deus permitisse a vinda de tais supermercados para Torres Novas, cairiam de quatro, esticavam a língua e ficariam de cauda a abanar, arfando em êxtase.
Não sou aventureiro expedicionário, talvez por isso me ecoem na cabeça as palavras do meu avô: “Não sirvas quem nunca serviu”.
![]() Apresentados os candidatos à presidência da Câmara de Torres Novas, a realizar nos finais de Setembro, ou na primeira quinzena de Outubro, restam pouco mais de três meses (dois de férias), para se conhecer ao que vêm, quem é quem, o que defendem, para o concelho, na sua interligação cidade/freguesias. |
![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
![]()
Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
![]() |
![]() |
![]() |
» 2025-07-03
» Jorge Carreira Maia
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |
» 2025-07-08
» António Mário Santos
O meu projecto eleitoral para a autarquia |
» 2025-07-08
» José Alves Pereira
O MAJOR-GENERAL PATRONO DA GUERRA |
» 2025-07-08
» Acácio Gouveia
Inteligência artificial |