O rio do fururo - josé mota pereira
"Felizmente há outras forças alternativas com outro olhar sobre o futuro"
Nos diferentes modelos de desenvolvimento para o concelho, há que reconhecê-lo, os poderes municipais estão muitas vezes limitados nos seus poderes de decisão. Mas, as suas decisões – ou não decisões – e aquilo que consideram estratégico, tem reflexos e consequências para o futuro dos concelhos.
Em Torres Novas, é assumido pelo poder autárquico que o filão do desenvolvimento local passa pela aposta no emprego nas grandes superfícies comerciais. Ainda muito recentemente, já em tempos de pandemia, em entrevista a um jornal local, tal foi declarado ao mais alto nível. Mas também de alguma oposição (?), nomeadamente no seu espectro direito, lemos artigos na imprensa que defendem para o futuro de Torres Novas a continuação na aposta no “cluster” (um grande palavrão do “economês”) das bases logísticas. Uns e outros defendem mais do mesmo: precariedade laboral, baixos salários e incapacidade de atracção no regresso dos jovens que todos os anos saem de Torres Novas para estudar.
Felizmente há outras forças alternativas com outro olhar sobre o futuro. Sabe-se que está previsto para a zona da Várzea dos Mesiões, nos antigos terrenos do “Alves das Lãs”, a implementação de mais um hipermercado, e tal empreendimento tem tido o aplauso e o apoio legal e legítimo da maioria que governa o executivo municipal.
O Município parece querer, por este e outros sinais, abandonar e deixar cair o seu próprio projecto da mata municipal na Várzea. Confesso que daquilo que conheci desse projecto, algumas particularidades levantavam-me alguns sobressaltos. Como também sempre pensei que outras particularidades poderiam ser objecto de melhor análise. Mas sobretudo, sempre pensei, e continuo a pensar, que um projecto como o que foi aprovado, merecia e deveria ter tido uma discussão pública que nunca foi feita. Pelos vistos, nos tempos mais próximos nem discussão nem execução do projecto da mata. Assunto arrumado e arquivado?
Se assim é, uma extensa área natural de elevado potencial (onde persistem, ainda que abandonadas, muitas das antigas hortas da vila) fica vergada ao filão do desenvolvimento preconizado pelo executivo municipal. Venha de lá então mais um hipermercado onde se venderão provavelmente maçãs do Chile, uvas da África do Sul, peixes da aquacultutura da Grécia e borregos da Austrália. Talvez com sorte, até se vendam figos secos da Turquia.
É tempo de encontrar alternativas de desenvolvimento. Sendo certo, não podemos ser ingénuos, que continuaremos muito tempo dependentes da produção em massa, sobrexploração e distribuição global dos recursos que nos vão garantindo a satisfação das imensas quantidades que vamos necessitando para a nossa subsistência.
Mas, se podemos e devemos ir avançando num outro caminho, porque esperamos? Em Torres Novas também é possível fazê-lo.
Na várzea dos Mesiões, junto ao Almonda, pode correr o rio do futuro numa economia mais sustentável, mais ecológica e com aproveitamento dos recursos pelas próprias famílias torrejanas. Implementar numa das portas da cidade hortas urbanas de cariz comunitário em Torres Novas, poderia ser o início desse caminho. Tais espaços, a ser constituídos, seriam regulamentados e enquadrados pelo Município e trariam vantagens económicas para a auto subsistência das famílias envolvidas; valorização dos produtos locais e vantagens ecológicas decorrentes da produção de proximidade com eventual estímulo para o cultivo biológico. Acresceriam ainda vantagens pedagógicas com possível implementação de actividades escolares, de aprendizagem e outras actividades recreativas alargadas a toda a comunidade.
As hortas comunitárias na cidade, na várzea mas não só na várzea, permitiriam ainda o esbatimento do domínio progressivo (quase esmagamento!) da cidade sobre as aldeias, do urbano sobre o campo, criando uma continuidade territorial que poderia ajudar com outros projectos no repovoamento das nossas aldeias – repovoamento que se torna cada vez mais urgente e a que dedicaremos algumas linhas proximamente.
Não é utopia devolver terras às famílias. Não é utopia o Município projectar hortas urbanas de cariz comunitário, implementando na nossa terra uma perspectiva agro-ecológica de desenvolvimento. Ao fazê-lo, estará a investir na biodiversidade local (os tais “produtos da terra” de que até já existe feira) e a ajudar a superar o paradigma da agricultura industrializada, de que apesar tudo e realisticamente, teremos de continuar dependentes.
Em pleno século XXI, à entrada da sua terceira década, está na hora de começar a pensar mudar no rumo do nosso desenvolvimento. Nisso, o município não se pode eximir das suas responsabilidades. Seja pela sua acção ou pela sua inacção.
Nada do que aqui se propõe é grandioso, nem sequer muito inovador e tem sido implementado em muitas cidades do país. A Câmara Municipal tem seguramente quadros técnicos competentes para implementar um projecto desta dimensão. O que importa é que se ouse pensar para lá da velha lógica do betão, das rotundas e do tal filão do emprego dos hipermercados...e além de pensar, agir.
Já é tempo de assim ser.
O rio do fururo - josé mota pereira
Felizmente há outras forças alternativas com outro olhar sobre o futuro
Nos diferentes modelos de desenvolvimento para o concelho, há que reconhecê-lo, os poderes municipais estão muitas vezes limitados nos seus poderes de decisão. Mas, as suas decisões – ou não decisões – e aquilo que consideram estratégico, tem reflexos e consequências para o futuro dos concelhos.
Em Torres Novas, é assumido pelo poder autárquico que o filão do desenvolvimento local passa pela aposta no emprego nas grandes superfícies comerciais. Ainda muito recentemente, já em tempos de pandemia, em entrevista a um jornal local, tal foi declarado ao mais alto nível. Mas também de alguma oposição (?), nomeadamente no seu espectro direito, lemos artigos na imprensa que defendem para o futuro de Torres Novas a continuação na aposta no “cluster” (um grande palavrão do “economês”) das bases logísticas. Uns e outros defendem mais do mesmo: precariedade laboral, baixos salários e incapacidade de atracção no regresso dos jovens que todos os anos saem de Torres Novas para estudar.
Felizmente há outras forças alternativas com outro olhar sobre o futuro. Sabe-se que está previsto para a zona da Várzea dos Mesiões, nos antigos terrenos do “Alves das Lãs”, a implementação de mais um hipermercado, e tal empreendimento tem tido o aplauso e o apoio legal e legítimo da maioria que governa o executivo municipal.
O Município parece querer, por este e outros sinais, abandonar e deixar cair o seu próprio projecto da mata municipal na Várzea. Confesso que daquilo que conheci desse projecto, algumas particularidades levantavam-me alguns sobressaltos. Como também sempre pensei que outras particularidades poderiam ser objecto de melhor análise. Mas sobretudo, sempre pensei, e continuo a pensar, que um projecto como o que foi aprovado, merecia e deveria ter tido uma discussão pública que nunca foi feita. Pelos vistos, nos tempos mais próximos nem discussão nem execução do projecto da mata. Assunto arrumado e arquivado?
Se assim é, uma extensa área natural de elevado potencial (onde persistem, ainda que abandonadas, muitas das antigas hortas da vila) fica vergada ao filão do desenvolvimento preconizado pelo executivo municipal. Venha de lá então mais um hipermercado onde se venderão provavelmente maçãs do Chile, uvas da África do Sul, peixes da aquacultutura da Grécia e borregos da Austrália. Talvez com sorte, até se vendam figos secos da Turquia.
É tempo de encontrar alternativas de desenvolvimento. Sendo certo, não podemos ser ingénuos, que continuaremos muito tempo dependentes da produção em massa, sobrexploração e distribuição global dos recursos que nos vão garantindo a satisfação das imensas quantidades que vamos necessitando para a nossa subsistência.
Mas, se podemos e devemos ir avançando num outro caminho, porque esperamos? Em Torres Novas também é possível fazê-lo.
Na várzea dos Mesiões, junto ao Almonda, pode correr o rio do futuro numa economia mais sustentável, mais ecológica e com aproveitamento dos recursos pelas próprias famílias torrejanas. Implementar numa das portas da cidade hortas urbanas de cariz comunitário em Torres Novas, poderia ser o início desse caminho. Tais espaços, a ser constituídos, seriam regulamentados e enquadrados pelo Município e trariam vantagens económicas para a auto subsistência das famílias envolvidas; valorização dos produtos locais e vantagens ecológicas decorrentes da produção de proximidade com eventual estímulo para o cultivo biológico. Acresceriam ainda vantagens pedagógicas com possível implementação de actividades escolares, de aprendizagem e outras actividades recreativas alargadas a toda a comunidade.
As hortas comunitárias na cidade, na várzea mas não só na várzea, permitiriam ainda o esbatimento do domínio progressivo (quase esmagamento!) da cidade sobre as aldeias, do urbano sobre o campo, criando uma continuidade territorial que poderia ajudar com outros projectos no repovoamento das nossas aldeias – repovoamento que se torna cada vez mais urgente e a que dedicaremos algumas linhas proximamente.
Não é utopia devolver terras às famílias. Não é utopia o Município projectar hortas urbanas de cariz comunitário, implementando na nossa terra uma perspectiva agro-ecológica de desenvolvimento. Ao fazê-lo, estará a investir na biodiversidade local (os tais “produtos da terra” de que até já existe feira) e a ajudar a superar o paradigma da agricultura industrializada, de que apesar tudo e realisticamente, teremos de continuar dependentes.
Em pleno século XXI, à entrada da sua terceira década, está na hora de começar a pensar mudar no rumo do nosso desenvolvimento. Nisso, o município não se pode eximir das suas responsabilidades. Seja pela sua acção ou pela sua inacção.
Nada do que aqui se propõe é grandioso, nem sequer muito inovador e tem sido implementado em muitas cidades do país. A Câmara Municipal tem seguramente quadros técnicos competentes para implementar um projecto desta dimensão. O que importa é que se ouse pensar para lá da velha lógica do betão, das rotundas e do tal filão do emprego dos hipermercados...e além de pensar, agir.
Já é tempo de assim ser.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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