Paul do Boquilobo - Inês Vidal
A globalização, um maior conhecimento do outro, que afinal é igual a nós e está ali ao lado, a uma distância reduzida no tempo pela democratização dos meios de transporte, tornou-nos verdadeiros aprendizes de viajantes. É cada vez mais fácil chegar a qualquer ponto do globo, percorrer milhas, cantos e recantos, provar aqui, esmiuçar ali. Entrar na vida alheia, culturas distantes, outras cores, novos cheiros, jeitos diferentes de sentir. Subir montanhas afamadas, mergulhar num qualquer oceano, comer animais que cá não fazem parte do cardápio. Todo um mundo novo ao nosso alcance. Em dez horas chegamos ao Brasil, em menos do que isso entramos no Dubai, Marrocos é ali tão perto e até a Austrália parece fácil, apesar de estar no outro lado do mundo. Há cada vez menos impossíveis. E há cada vez mais vontade de ver mundo. Há cada vez mais vontade de o mostrar.
Com pouco tempo para tanta volta ao globo, acontece inúmeras vezes acabarmos por nos esquecer do que está mais perto. Mas este ano fantástico que vivemos - fantástico, como quem diz do outro mundo - trouxe-nos, pelo menos, isso de bom. Limitados no espaço, sobrou-nos o tempo, e impedidos de ir mais longe, fomos obrigados a criar alternativas, dar oportunidade ao que antes desvalorizávamos, já que a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha, e muitas vezes dávamos por garantido. Descobrimos a nossa casa, o nosso quarteirão, o nosso concelho. Arranjámos novos destinos e demos vida ao verdadeiro “vá para fora cá dentro”.
Moro há 39 anos no concelho de Torres Novas. Contam-se pelos dedos das mãos as vezes que visitei a Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Algumas delas graças à escola e aos escuteiros, enquanto miúda, outras pelo jornal. Duas delas, só no último mês.
Entre garças, zarros e marrequinhas, muita água e salgueiros, descobri o meu mundo “covid free”, onde mal nos cruzamos com pessoas e a natureza nos dá espaço para respirar sem mordaças. Um cenário onde a vida nunca parou, onde o confinamento se faz sob um gigante céu azul sobrevoado de garças esguias e elegantes e o tempo corre mais lento, a uma velocidade que nos permite sair do ritmo frenético em que nos deixámos enrolar ao aceitar esta vida, que nos querem fazer acreditar não poder ser outra. Na reserva natural do Paul do Boquilobo há um caminho que nos recebe sem medos, não se afasta ou sustém a respiração e há um silêncio que nos leva para longe deste ruído em que se tornaram os nossos dias.
Moro no concelho de Torres Novas há 39 anos. Os mesmos desde que a UNESCO considerou a nossa reserva como Reserva Mundial da Biosfera. Foi, à data, a primeira área protegida portuguesa a integrar a rede mundial de reservas da biosfera, dada a sua importância enquanto local de abrigo para um grande número de aves e seu local de reprodução, alimentação e repouso nas rotas de migração. 39 anos. E contam-se pelos dedos das mãos as vezes que me perdi nos seus braços.
Se a pandemia tem um lado bom, é este: dar valor ao que temos e fazê-lo a um ritmo só nosso, reaprendendo a respirar conscientemente e simplesmente fruir o que o mundo nos dá. Hoje é o nosso dia e nunca sabemos o que o amanhã nos trará.
Paul do Boquilobo - Inês Vidal
A globalização, um maior conhecimento do outro, que afinal é igual a nós e está ali ao lado, a uma distância reduzida no tempo pela democratização dos meios de transporte, tornou-nos verdadeiros aprendizes de viajantes. É cada vez mais fácil chegar a qualquer ponto do globo, percorrer milhas, cantos e recantos, provar aqui, esmiuçar ali. Entrar na vida alheia, culturas distantes, outras cores, novos cheiros, jeitos diferentes de sentir. Subir montanhas afamadas, mergulhar num qualquer oceano, comer animais que cá não fazem parte do cardápio. Todo um mundo novo ao nosso alcance. Em dez horas chegamos ao Brasil, em menos do que isso entramos no Dubai, Marrocos é ali tão perto e até a Austrália parece fácil, apesar de estar no outro lado do mundo. Há cada vez menos impossíveis. E há cada vez mais vontade de ver mundo. Há cada vez mais vontade de o mostrar.
Com pouco tempo para tanta volta ao globo, acontece inúmeras vezes acabarmos por nos esquecer do que está mais perto. Mas este ano fantástico que vivemos - fantástico, como quem diz do outro mundo - trouxe-nos, pelo menos, isso de bom. Limitados no espaço, sobrou-nos o tempo, e impedidos de ir mais longe, fomos obrigados a criar alternativas, dar oportunidade ao que antes desvalorizávamos, já que a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha, e muitas vezes dávamos por garantido. Descobrimos a nossa casa, o nosso quarteirão, o nosso concelho. Arranjámos novos destinos e demos vida ao verdadeiro “vá para fora cá dentro”.
Moro há 39 anos no concelho de Torres Novas. Contam-se pelos dedos das mãos as vezes que visitei a Reserva Natural do Paul do Boquilobo. Algumas delas graças à escola e aos escuteiros, enquanto miúda, outras pelo jornal. Duas delas, só no último mês.
Entre garças, zarros e marrequinhas, muita água e salgueiros, descobri o meu mundo “covid free”, onde mal nos cruzamos com pessoas e a natureza nos dá espaço para respirar sem mordaças. Um cenário onde a vida nunca parou, onde o confinamento se faz sob um gigante céu azul sobrevoado de garças esguias e elegantes e o tempo corre mais lento, a uma velocidade que nos permite sair do ritmo frenético em que nos deixámos enrolar ao aceitar esta vida, que nos querem fazer acreditar não poder ser outra. Na reserva natural do Paul do Boquilobo há um caminho que nos recebe sem medos, não se afasta ou sustém a respiração e há um silêncio que nos leva para longe deste ruído em que se tornaram os nossos dias.
Moro no concelho de Torres Novas há 39 anos. Os mesmos desde que a UNESCO considerou a nossa reserva como Reserva Mundial da Biosfera. Foi, à data, a primeira área protegida portuguesa a integrar a rede mundial de reservas da biosfera, dada a sua importância enquanto local de abrigo para um grande número de aves e seu local de reprodução, alimentação e repouso nas rotas de migração. 39 anos. E contam-se pelos dedos das mãos as vezes que me perdi nos seus braços.
Se a pandemia tem um lado bom, é este: dar valor ao que temos e fazê-lo a um ritmo só nosso, reaprendendo a respirar conscientemente e simplesmente fruir o que o mundo nos dá. Hoje é o nosso dia e nunca sabemos o que o amanhã nos trará.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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