Sempre em pé, por Inês Vidal
Opinião » 2020-04-17 » Inês Vidal"Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende"
Cresci terceira filha depois de dois rapazes. Sempre ouvi dizer que a menina leva as atenções maiores. Não digo que não, mas o facto de ser terceira atenua bem essa regra. Sou aquela que nunca aparece nas histórias divertidas ou que ninguém sabe se um dia teve, ou não, varicela. A par disso, cresci sportinguista. Um amor surgido, desconfio eu, por influência desses mesmos irmãos mais velhos. A juntar ao facto de ser aquela que não aparece nas fotos de família, sou também a que sempre se habituou a nunca ganhar ou a ganhar pouquinho. Se a isso juntarmos as minhas tendências político-sociais, rapidamente percebemos que sou efectivamente uma triste, que cedo se habituou a sobreviver, a remar contra uma maré, a estar do lado errado para uns, no único lado possível para mim.
Não sei se por isso, se promotora disso, não sei se causa ou efeito, estar ligada a um jornal de minorias não me espanta, não me mói, até me orgulha. É assim como que uma continuação do que tem sido a minha vida. MacLuhan dizia que os meios de comunicação social são extensões de nós próprios. Numa adaptação extremamente livre do que esta frase quer dizer, assumo que o Jornal Torrejano surge assim como uma extensão de mim própria, provavelmente reflexo de mim e de tantos como eu.
Tamanha e romanceada introdução para chegar ao que aqui me traz: perante tais constatações sobre a minha vida, tudo o que me envolve e nossa respectiva relação com o mundo (numa atitude egocêntrica que algum especialista explicaria), não é de todo de estranhar que o jornal, a minha tal extensão, viva ali, naquela margem boa de quem não se prende, de quem não deve, que ninguém conhece ou percebe, mas sem o qual uns poucos, os tais que são bons, não vivem.
Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende, não toleramos falta de ética, malabarismos ou injustiças. Mas, infelizmente, nem todos pensam como nós. Talvez tenha de ser mesmo assim, nessa busca questionável pelo equilíbrio do mundo. Se assim for, agradeço a Deus - o mesmo que, ao que parece, nos vai livrar da pandemia - ter nascido do lado certo.
Não conseguimos agradar a todos. Nem queremos. Temos sido preteridos e discriminados por, de forma irritante para quem não o deseja, nos mantermos vivos e de cabeça erguida. Somos o “sempre em pé” que muitos desejavam ver estendido, a pedra no sapato, a visita desbocada naquele almoço infindável. Somos e seremos, enquanto vivermos. Por isso escrevemos o que pode ler no editorial publicado abaixo, porque há momentos em que não podemos ficar calados.
Há muito que somos tratados como parente pobre do jornalismo do concelho e, ironicamente, somos tudo o que resta dele. Não imaginam como isso nos enche de orgulho.
A todos os nossos leitores.
Sempre em pé, por Inês Vidal
Opinião » 2020-04-17 » Inês VidalHabituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende
Cresci terceira filha depois de dois rapazes. Sempre ouvi dizer que a menina leva as atenções maiores. Não digo que não, mas o facto de ser terceira atenua bem essa regra. Sou aquela que nunca aparece nas histórias divertidas ou que ninguém sabe se um dia teve, ou não, varicela. A par disso, cresci sportinguista. Um amor surgido, desconfio eu, por influência desses mesmos irmãos mais velhos. A juntar ao facto de ser aquela que não aparece nas fotos de família, sou também a que sempre se habituou a nunca ganhar ou a ganhar pouquinho. Se a isso juntarmos as minhas tendências político-sociais, rapidamente percebemos que sou efectivamente uma triste, que cedo se habituou a sobreviver, a remar contra uma maré, a estar do lado errado para uns, no único lado possível para mim.
Não sei se por isso, se promotora disso, não sei se causa ou efeito, estar ligada a um jornal de minorias não me espanta, não me mói, até me orgulha. É assim como que uma continuação do que tem sido a minha vida. MacLuhan dizia que os meios de comunicação social são extensões de nós próprios. Numa adaptação extremamente livre do que esta frase quer dizer, assumo que o Jornal Torrejano surge assim como uma extensão de mim própria, provavelmente reflexo de mim e de tantos como eu.
Tamanha e romanceada introdução para chegar ao que aqui me traz: perante tais constatações sobre a minha vida, tudo o que me envolve e nossa respectiva relação com o mundo (numa atitude egocêntrica que algum especialista explicaria), não é de todo de estranhar que o jornal, a minha tal extensão, viva ali, naquela margem boa de quem não se prende, de quem não deve, que ninguém conhece ou percebe, mas sem o qual uns poucos, os tais que são bons, não vivem.
Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende, não toleramos falta de ética, malabarismos ou injustiças. Mas, infelizmente, nem todos pensam como nós. Talvez tenha de ser mesmo assim, nessa busca questionável pelo equilíbrio do mundo. Se assim for, agradeço a Deus - o mesmo que, ao que parece, nos vai livrar da pandemia - ter nascido do lado certo.
Não conseguimos agradar a todos. Nem queremos. Temos sido preteridos e discriminados por, de forma irritante para quem não o deseja, nos mantermos vivos e de cabeça erguida. Somos o “sempre em pé” que muitos desejavam ver estendido, a pedra no sapato, a visita desbocada naquele almoço infindável. Somos e seremos, enquanto vivermos. Por isso escrevemos o que pode ler no editorial publicado abaixo, porque há momentos em que não podemos ficar calados.
Há muito que somos tratados como parente pobre do jornalismo do concelho e, ironicamente, somos tudo o que resta dele. Não imaginam como isso nos enche de orgulho.
A todos os nossos leitores.
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Eleições "livres"... » 2024-03-18 » Hélder Dias |
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O Flautista de Hamelin... » 2024-02-28 » Hélder Dias |
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2032: a redenção do Planeta - jorge cordeiro simões » 2024-02-22 » Jorge Cordeiro Simões
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Avivar a memória - antónio gomes » 2024-02-22 » António Gomes Há dias atrás, no âmbito da pré-campanha eleitoral, visitei o lugar onde passei a maior parte da minha vida (47 anos), as oficinas da CP no Entroncamento. Não que tivesse saudades, mas o espaço, o cheiro e acima de tudo a oportunidade de rever alguns companheiros que ainda por lá se encontram, que ainda lá continuam a vender a sua força de trabalho, foi uma boa recompensa. |
» 2024-04-10
» Jorge Carreira Maia
As eleições e o triunfo do pensamento mágico - jorge carreira maia |