Sempre em pé, por Inês Vidal
"Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende"
Cresci terceira filha depois de dois rapazes. Sempre ouvi dizer que a menina leva as atenções maiores. Não digo que não, mas o facto de ser terceira atenua bem essa regra. Sou aquela que nunca aparece nas histórias divertidas ou que ninguém sabe se um dia teve, ou não, varicela. A par disso, cresci sportinguista. Um amor surgido, desconfio eu, por influência desses mesmos irmãos mais velhos. A juntar ao facto de ser aquela que não aparece nas fotos de família, sou também a que sempre se habituou a nunca ganhar ou a ganhar pouquinho. Se a isso juntarmos as minhas tendências político-sociais, rapidamente percebemos que sou efectivamente uma triste, que cedo se habituou a sobreviver, a remar contra uma maré, a estar do lado errado para uns, no único lado possível para mim.
Não sei se por isso, se promotora disso, não sei se causa ou efeito, estar ligada a um jornal de minorias não me espanta, não me mói, até me orgulha. É assim como que uma continuação do que tem sido a minha vida. MacLuhan dizia que os meios de comunicação social são extensões de nós próprios. Numa adaptação extremamente livre do que esta frase quer dizer, assumo que o Jornal Torrejano surge assim como uma extensão de mim própria, provavelmente reflexo de mim e de tantos como eu.
Tamanha e romanceada introdução para chegar ao que aqui me traz: perante tais constatações sobre a minha vida, tudo o que me envolve e nossa respectiva relação com o mundo (numa atitude egocêntrica que algum especialista explicaria), não é de todo de estranhar que o jornal, a minha tal extensão, viva ali, naquela margem boa de quem não se prende, de quem não deve, que ninguém conhece ou percebe, mas sem o qual uns poucos, os tais que são bons, não vivem.
Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende, não toleramos falta de ética, malabarismos ou injustiças. Mas, infelizmente, nem todos pensam como nós. Talvez tenha de ser mesmo assim, nessa busca questionável pelo equilíbrio do mundo. Se assim for, agradeço a Deus - o mesmo que, ao que parece, nos vai livrar da pandemia - ter nascido do lado certo.
Não conseguimos agradar a todos. Nem queremos. Temos sido preteridos e discriminados por, de forma irritante para quem não o deseja, nos mantermos vivos e de cabeça erguida. Somos o “sempre em pé” que muitos desejavam ver estendido, a pedra no sapato, a visita desbocada naquele almoço infindável. Somos e seremos, enquanto vivermos. Por isso escrevemos o que pode ler no editorial publicado abaixo, porque há momentos em que não podemos ficar calados.
Há muito que somos tratados como parente pobre do jornalismo do concelho e, ironicamente, somos tudo o que resta dele. Não imaginam como isso nos enche de orgulho.
A todos os nossos leitores.
Sempre em pé, por Inês Vidal
Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende
Cresci terceira filha depois de dois rapazes. Sempre ouvi dizer que a menina leva as atenções maiores. Não digo que não, mas o facto de ser terceira atenua bem essa regra. Sou aquela que nunca aparece nas histórias divertidas ou que ninguém sabe se um dia teve, ou não, varicela. A par disso, cresci sportinguista. Um amor surgido, desconfio eu, por influência desses mesmos irmãos mais velhos. A juntar ao facto de ser aquela que não aparece nas fotos de família, sou também a que sempre se habituou a nunca ganhar ou a ganhar pouquinho. Se a isso juntarmos as minhas tendências político-sociais, rapidamente percebemos que sou efectivamente uma triste, que cedo se habituou a sobreviver, a remar contra uma maré, a estar do lado errado para uns, no único lado possível para mim.
Não sei se por isso, se promotora disso, não sei se causa ou efeito, estar ligada a um jornal de minorias não me espanta, não me mói, até me orgulha. É assim como que uma continuação do que tem sido a minha vida. MacLuhan dizia que os meios de comunicação social são extensões de nós próprios. Numa adaptação extremamente livre do que esta frase quer dizer, assumo que o Jornal Torrejano surge assim como uma extensão de mim própria, provavelmente reflexo de mim e de tantos como eu.
Tamanha e romanceada introdução para chegar ao que aqui me traz: perante tais constatações sobre a minha vida, tudo o que me envolve e nossa respectiva relação com o mundo (numa atitude egocêntrica que algum especialista explicaria), não é de todo de estranhar que o jornal, a minha tal extensão, viva ali, naquela margem boa de quem não se prende, de quem não deve, que ninguém conhece ou percebe, mas sem o qual uns poucos, os tais que são bons, não vivem.
Habituamo-nos a sobreviver sozinhos. Ganhamos defesas, estratégias. Não pedimos, não nos vendemos, não toleramos quem se vende, não toleramos falta de ética, malabarismos ou injustiças. Mas, infelizmente, nem todos pensam como nós. Talvez tenha de ser mesmo assim, nessa busca questionável pelo equilíbrio do mundo. Se assim for, agradeço a Deus - o mesmo que, ao que parece, nos vai livrar da pandemia - ter nascido do lado certo.
Não conseguimos agradar a todos. Nem queremos. Temos sido preteridos e discriminados por, de forma irritante para quem não o deseja, nos mantermos vivos e de cabeça erguida. Somos o “sempre em pé” que muitos desejavam ver estendido, a pedra no sapato, a visita desbocada naquele almoço infindável. Somos e seremos, enquanto vivermos. Por isso escrevemos o que pode ler no editorial publicado abaixo, porque há momentos em que não podemos ficar calados.
Há muito que somos tratados como parente pobre do jornalismo do concelho e, ironicamente, somos tudo o que resta dele. Não imaginam como isso nos enche de orgulho.
A todos os nossos leitores.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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» 2025-07-03
» Jorge Carreira Maia
Direita e Esquerda, uma questão de sabores morais |