Papel higiénico: a que preço? - inês vidal
Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto.
A Renova, empresa sediada na freguesia da Zibreira e, sem sombra de dúvidas, uma das mais afamadas do concelho e que faz situar Torres Novas no mapa, quer fazer um protocolo com a Câmara Municipal com vista a mecenato de papel higiénico. Exacto. Ouviram bem...
Na prática é mais ou menos isto: a empresa oferece alguns dos produtos que fabrica à Câmara e esta compromete-se a oferecê-los num cabaz de boas-vindas a quem visita o concelho. Papel higiénico sexy, lenços de papel com elétricos lisboetas e guardanapos com motivos florais. Uma prenda bonita, de facto, mas que nos deixa a questionar a pertinência da coisa.
A Renova, que nos persegue em tudo o que é outdoor e casa-de-banho por esse país fora, viveu vários anos em estado de graça no concelho. Por um lado, dá emprego a muita gente (o que não faz dela, entenda-se, um grande empregador, já que muitas das pessoas que ali trabalham respondem perante empresas de trabalho temporário), por outro era a única das “nossas” empresas que tinha honras de televisão, de exportação e de visibilidade fora dos limites do concelho. Claro que isso, para provincianos como nós, era suficiente para fazer encher o olho.
Felizmente, gente há que não se deslumbra com tão pouco e que percebeu que há muito de podre, no meio de tanta graça.
A Renova tem estado ultimamente na boca do povo, mas desta vez não pelas melhores razões. Pelo contrário. “A nascente do rio pertence-nos”, dizem, como se a água do rio pertencesse a alguém, que não a todos nós. Não bastasse tamanha aberração e falta de noção, a empresa do Almonda esqueceu-se de como ser humilde, tal o ego conquistado por voos mais altos. Sentido-se intocável e acima da lei, rei no meio de pacóvios, não só não reconhece o erro, como reincide nele, vez após vez, ignorando o desconforto que tem causado nas populações a quem – a esses sim - pertence o rio e indo além das regras do bom senso. Já para não falar das outras.
Além de cegamente reiterar a convicção de que a nascente do rio é propriedade sua, e de insistir, baixando agora uns centímetros, com a manutenção de uma rede medonha a tapar um cenário realmente bonito, a empresa foi inclusive capaz de colocar câmaras de vigilância a apontar para o espaço público, como forma de vigiar quem da nascente se aproxima. Foi, aliás, com recurso a essas câmaras, que há dois anos apresentou uma queixa-crime contra alguns munícipes que, em dia de apanhar a espiga, acorreram ao local. Ao nosso local, portanto. E não somos só nós que achamos essas câmaras viradas para propriedade comum, um abuso. Não o fosse e a empresa não teria sido já obrigada a desviar as câmaras da via pública. Se o fez em duas, uma há que deixa dúvidas. Alguém de direito que o confirme.
Já diz a frase que podemos tirar a Renova da província, mas não conseguiremos nunca tirar a província da Renova. Prova disso é a gestão que a empresa tem feito desta situação. Cheia de pretensões cosmopolitas, esquece facilmente quem primeiro a alimentou e não reconhece essa herança. Humildade e sapiência não devem ser disciplinas leccionadas nos muitos MBA feitos por quem toma as rédeas de uma empresa que reage com tamanha casmurrice e bater do pé, qual criança mimada a quem roubam um brinquedo que, afinal, nem lhe pertence.
Esta oferenda em jeito de cachimbo da paz ao município levanta-me algumas questões. Qual será o objectivo da medida? Tapar o sol com a peneira? Fazer efeito biombo sobre questões realmente importantes? Comprar o silêncio do executivo camarário ou agradecer a passividade que tem tido até agora nesta questão?
Perante tal cenário, fica a pergunta: quer a Câmara Municipal de Torres Novas tapar os olhos a toda esta trapalhada por meia dúzia de lenços de papel? Todos nós temos um preço, é certo. Mas o preço do executivo municipal que decide será assim tão baixo?
Papel higiénico: a que preço? - inês vidal
Enquanto penso em como arrancar com este texto, só consigo imaginar o fartote que Joana Marques, humorista, faria com esta notícia. Tivesse eu jeito para piadas e poderia alvitrar já aqui duas ou três larachas, envolvendo papel higiénico e lavagem de honra, que a responsável pelo podcast Extremamente Desagradável faria com este assunto.
A Renova, empresa sediada na freguesia da Zibreira e, sem sombra de dúvidas, uma das mais afamadas do concelho e que faz situar Torres Novas no mapa, quer fazer um protocolo com a Câmara Municipal com vista a mecenato de papel higiénico. Exacto. Ouviram bem...
Na prática é mais ou menos isto: a empresa oferece alguns dos produtos que fabrica à Câmara e esta compromete-se a oferecê-los num cabaz de boas-vindas a quem visita o concelho. Papel higiénico sexy, lenços de papel com elétricos lisboetas e guardanapos com motivos florais. Uma prenda bonita, de facto, mas que nos deixa a questionar a pertinência da coisa.
A Renova, que nos persegue em tudo o que é outdoor e casa-de-banho por esse país fora, viveu vários anos em estado de graça no concelho. Por um lado, dá emprego a muita gente (o que não faz dela, entenda-se, um grande empregador, já que muitas das pessoas que ali trabalham respondem perante empresas de trabalho temporário), por outro era a única das “nossas” empresas que tinha honras de televisão, de exportação e de visibilidade fora dos limites do concelho. Claro que isso, para provincianos como nós, era suficiente para fazer encher o olho.
Felizmente, gente há que não se deslumbra com tão pouco e que percebeu que há muito de podre, no meio de tanta graça.
A Renova tem estado ultimamente na boca do povo, mas desta vez não pelas melhores razões. Pelo contrário. “A nascente do rio pertence-nos”, dizem, como se a água do rio pertencesse a alguém, que não a todos nós. Não bastasse tamanha aberração e falta de noção, a empresa do Almonda esqueceu-se de como ser humilde, tal o ego conquistado por voos mais altos. Sentido-se intocável e acima da lei, rei no meio de pacóvios, não só não reconhece o erro, como reincide nele, vez após vez, ignorando o desconforto que tem causado nas populações a quem – a esses sim - pertence o rio e indo além das regras do bom senso. Já para não falar das outras.
Além de cegamente reiterar a convicção de que a nascente do rio é propriedade sua, e de insistir, baixando agora uns centímetros, com a manutenção de uma rede medonha a tapar um cenário realmente bonito, a empresa foi inclusive capaz de colocar câmaras de vigilância a apontar para o espaço público, como forma de vigiar quem da nascente se aproxima. Foi, aliás, com recurso a essas câmaras, que há dois anos apresentou uma queixa-crime contra alguns munícipes que, em dia de apanhar a espiga, acorreram ao local. Ao nosso local, portanto. E não somos só nós que achamos essas câmaras viradas para propriedade comum, um abuso. Não o fosse e a empresa não teria sido já obrigada a desviar as câmaras da via pública. Se o fez em duas, uma há que deixa dúvidas. Alguém de direito que o confirme.
Já diz a frase que podemos tirar a Renova da província, mas não conseguiremos nunca tirar a província da Renova. Prova disso é a gestão que a empresa tem feito desta situação. Cheia de pretensões cosmopolitas, esquece facilmente quem primeiro a alimentou e não reconhece essa herança. Humildade e sapiência não devem ser disciplinas leccionadas nos muitos MBA feitos por quem toma as rédeas de uma empresa que reage com tamanha casmurrice e bater do pé, qual criança mimada a quem roubam um brinquedo que, afinal, nem lhe pertence.
Esta oferenda em jeito de cachimbo da paz ao município levanta-me algumas questões. Qual será o objectivo da medida? Tapar o sol com a peneira? Fazer efeito biombo sobre questões realmente importantes? Comprar o silêncio do executivo camarário ou agradecer a passividade que tem tido até agora nesta questão?
Perante tal cenário, fica a pergunta: quer a Câmara Municipal de Torres Novas tapar os olhos a toda esta trapalhada por meia dúzia de lenços de papel? Todos nós temos um preço, é certo. Mas o preço do executivo municipal que decide será assim tão baixo?
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![]() Agora que nos estamos a aproximar, no calendário católico, da Páscoa, talvez valha a pena meditar nos versículos 36, 37 e 38, do Capítulo 18, do Evangelho de João. Depois de entregue a Pôncio Pilatos, Jesus respondeu à pergunta deste: Que fizeste? Dito de outro modo: de que és culpado? Ora, a resposta de Jesus é surpreendente: «O meu reino não é deste mundo. |
![]() Gisèle Pelicot vive e cresceu em França. Tem 71 anos. Casou-se aos 20 anos de idade com Dominique Pelicot, de 72 anos, hoje reformado. Teve dois filhos. Gisèle não sabia que a pessoa que escolheu para estar ao seu lado ao longo da vida a repudiava ao ponto de não suportar a ideia de não lhe fazer mal, tudo isto em segredo e com a ajuda de outros homens, que, como ele, viviam vidas aparentemente, parcialmente e eticamente comuns. |
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![]() Deveria seguir-se a demolição do prédio que foi construído em cima do rio há mais de cinquenta anos e a libertação de terrenos junto da fábrica velha Estamos em tempo de cheias no nosso Rio Almonda. |
![]() Chegou o ano do eleitorado concelhio, no sistema constitucional democrático em que vivemos, dizer da sua opinião sobre a política autárquica a que a gestão do município o sujeitou. O Partido Socialista governa desde as eleições de 12 de Dezembro de 1993, com duas figuras que se mantiveram na presidência, António Manuel de Oliveira Rodrigues (1994-2013), Pedro Paulo Ramos Ferreira (2013-2025), com o reforço deste último ter sido vice-presidente do primeiro nos seus três mandatos. |
![]() Coloquemos a questão: O que se está a passar no mundo? Factualmente, temos, para além da tragédia do Médio Oriente, a invasão russa da Ucrânia, o sólido crescimento internacional do poder chinês, o fenómeno Donald Trump e a periclitante saúde das democracias europeias. |
![]() Nos últimos dias do ano veio a revelação da descoberta de mais um trilho de pegadas de dinossauros na Serra de Aire. Neste canto do mundo, outras vidas que aqui andaram, foram deixando involuntariamente o seu rasto e na viagem dos tempos chegaram-se a nós e o passado encontra-se com o presente. |
» 2025-03-31
» Hélder Dias
Entrevistador... |
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» Jorge Carreira Maia
Uma passagem do Evangelho de João - jorge carreira maia |