Generalizar, apontar, julgar - inês vidal
Digo isto com frequência. Quem melhor me conhece, já o ouviu dezenas de vezes. Ainda hoje, ao jantar, dizia à minha filha que não podemos viver no preconceito. A vida não é a preto e branco, tem antes milhares de nuances. Cada pessoa é uma vida e um conjugar de momentos que a fazem tomar decisões e cada decisão dessas é só mais um momento que vai engrossar a sua vida daí para a frente. A tal vida que não é a preto e branco, tem antes milhares de nuances.
Ensinava-a que não podemos julgar as pessoas, muito menos pelas histórias que não conhecemos. Quem somos nós para julgar o outro? Quem somos nós para apontar o dedo à mulher que se prostitui sem percebermos como chegou a esse ponto sem retorno, ao homem que está preso sem ouvirmos os motivos que o levaram lá, à mulher que se divorcia duas vezes, ao sem abrigo que vimos dormir no cartão ao relento? Um dia, antes de um qualquer momento que os levou ali, a vida era outra, provavelmente completamente diferente, bem aceite aos olhos do preconceito. São apenas humanos com uma história, tal como nós.
A linha é ténue, dizia-lhe ainda. Aquela linha que divide o que achamos ser o bem, do que nos ensinaram que era o mal. Tão ténue e fácil de ultrapassar, tantas vezes contra a nossa vontade, mas apenas porque todos nós temos um limite, um fundo, um preço. Uns, um preço mais elevado do que outros. Há pessoas boas e más, é certo, mas não somos ninguém para as rotular, muito menos sem tentar ouvir a sua versão da sua própria história.
Depois de tamanha e socialmente bem aceite dissertação a uma criança de apenas 11 anos, dei comigo a pensar se teria a mãe do André, por ventura, tido conversa semelhante com ele durante a sua infância. E depois de temer que a senhora até a tenha tido e que essa tenha surtido o efeito exactamente contrário, acalmei-me quando olhei para o olhar da minha filha - bem mais ponderado do que a minha, já só por si, tão ponderada explanação - que me espelhava o quão óbvio e evitável era o meu extenso discurso.
E assim, deitei-me como me levantei: confiante de que qualquer criança sabe aquilo que tantos adultos parecem já não conseguir ver: uma prostituta nunca é só uma prostituta, um ladrão nunca é só um ladrão e as suas acções, só por si, descontextualizadas, não os definem. A generalização não é, certamente, o caminho para a sociedade que todos, ou quase todos, defendemos em alta voz. Pelo menos, não é o caminho que eu quero trilhar. Quem optar por ele, que se assuma. Porque, mais do que jogos de extremas, esquemas ou geringonças, é da vida de pessoas que falamos, pois é para elas que a política se faz.
Generalizar, apontar, julgar - inês vidal
Digo isto com frequência. Quem melhor me conhece, já o ouviu dezenas de vezes. Ainda hoje, ao jantar, dizia à minha filha que não podemos viver no preconceito. A vida não é a preto e branco, tem antes milhares de nuances. Cada pessoa é uma vida e um conjugar de momentos que a fazem tomar decisões e cada decisão dessas é só mais um momento que vai engrossar a sua vida daí para a frente. A tal vida que não é a preto e branco, tem antes milhares de nuances.
Ensinava-a que não podemos julgar as pessoas, muito menos pelas histórias que não conhecemos. Quem somos nós para julgar o outro? Quem somos nós para apontar o dedo à mulher que se prostitui sem percebermos como chegou a esse ponto sem retorno, ao homem que está preso sem ouvirmos os motivos que o levaram lá, à mulher que se divorcia duas vezes, ao sem abrigo que vimos dormir no cartão ao relento? Um dia, antes de um qualquer momento que os levou ali, a vida era outra, provavelmente completamente diferente, bem aceite aos olhos do preconceito. São apenas humanos com uma história, tal como nós.
A linha é ténue, dizia-lhe ainda. Aquela linha que divide o que achamos ser o bem, do que nos ensinaram que era o mal. Tão ténue e fácil de ultrapassar, tantas vezes contra a nossa vontade, mas apenas porque todos nós temos um limite, um fundo, um preço. Uns, um preço mais elevado do que outros. Há pessoas boas e más, é certo, mas não somos ninguém para as rotular, muito menos sem tentar ouvir a sua versão da sua própria história.
Depois de tamanha e socialmente bem aceite dissertação a uma criança de apenas 11 anos, dei comigo a pensar se teria a mãe do André, por ventura, tido conversa semelhante com ele durante a sua infância. E depois de temer que a senhora até a tenha tido e que essa tenha surtido o efeito exactamente contrário, acalmei-me quando olhei para o olhar da minha filha - bem mais ponderado do que a minha, já só por si, tão ponderada explanação - que me espelhava o quão óbvio e evitável era o meu extenso discurso.
E assim, deitei-me como me levantei: confiante de que qualquer criança sabe aquilo que tantos adultos parecem já não conseguir ver: uma prostituta nunca é só uma prostituta, um ladrão nunca é só um ladrão e as suas acções, só por si, descontextualizadas, não os definem. A generalização não é, certamente, o caminho para a sociedade que todos, ou quase todos, defendemos em alta voz. Pelo menos, não é o caminho que eu quero trilhar. Quem optar por ele, que se assuma. Porque, mais do que jogos de extremas, esquemas ou geringonças, é da vida de pessoas que falamos, pois é para elas que a política se faz.
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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