Tabacaria Central
"Houve uma mudança ainda mais radical: a virtualização do espaço lúdico"
Ser criança será sempre ser criança e é perante um chocolate ou um brinquedo que se vê. Uma coisa como o 1.º andar da Tabacaria Central numa pequena vila dos anos 60 como era Torres Novas, só não era uma utopia porque as utopias não existem e aquele 1ºandar era tão real como o castelo mais acima. Convém lembrar que é um tempo em que muitas crianças não têm brinquedos ou, se têm, são artesanais, como fisgas, rodas de bicicleta, bolas de trapos ou de papel prensado, carros de ladeira ou então objectos como caricas, botões ou berlindes. Daí que entrar naquele 1ºandar, sobretudo na época de Natal, e ver pistas de automóveis, comboios eléctricos, robots, legos, roupas de fantasia, actions men, matraquilhos, patins, flippers e dezenas de jogos em coloridas caixas de cartão, fosse assim como um adulto estar hoje na secção de detergentes de uma Galinha Gorda em Alhandra e aparecer de repente na secção de perfumaria das Galerias Lafayette.
Era a minha filha ainda adolescente, fomos à Hamleys, uma megaloja com vários andares só de brinquedos, na Regent St.. Dois anos depois, desta vez já com o irmão, ainda pequeno, chegámos a Londres num domingo à noite. A irmã tinha-lhe falado na loja e a excitação e mistificação eram tantas que prometi ser o primeiro sítio onde iríamos no dia seguinte. Mas não chegou. Lá fomos então os dois a pé, numa noite de chuva, desde Russell Square até à loja, só para ver a montra e provar que era mesmo real e não uma pérfida partida a uma criança inocente. Entretanto, estava eu estava a vê-lo espeitar para o interior de uma loja fechada e ao mesmo tempo a ver-me no 1ºandar da Tabacaria Central, que deve ser também mais ou menos o que se vê quando se chega ao santuário de Fátima após 200 km a pé. Por isso, insisto: ser criança será sempre ser criança e é perante um brinquedo que isso se vê. Porém, houve duas coisas que mudaram bastante na relação das crianças com os brinquedos.
A primeira, graças a uma natural evolução social e económica, foi a banalização do brinquedo. Se o entusiasmo e fascínio perante um carro telecomandado acabado de desembrulhar na noite de Natal continuam a ser os mesmos, o impacto pela posse do brinquedo mudou bastante, não só pela avalanche de brinquedos recebidos de uma só vez, temperando a importância de cada um, mas também pela sua constante presença na vida das crianças, em vez de coisa mesmo especial ou até impossível.
Mas houve uma mudança ainda mais radical: a virtualização do espaço lúdico. Brincar consiste cada vez mais em estar sentado num sofá com um tablet, playstation, smartphone, Game Boy ou perante um computador, desligando a criança do mundo real dos objectos assim como do seu próprio corpo, transformado num par de polegares e olhos enfronhados num monitor. Claro que jogar é jogar, brincar é brincar. Porém, como tudo o resto, jogar e brincar têm uma história. Uma história que faria com que hoje a Tabacaria Central se parecesse com aqueles velhos sótãos onde brinquedos há muito esquecidos se vão cobrindo de pó e teias de aranha.
Tabacaria Central
Houve uma mudança ainda mais radical: a virtualização do espaço lúdico
Ser criança será sempre ser criança e é perante um chocolate ou um brinquedo que se vê. Uma coisa como o 1.º andar da Tabacaria Central numa pequena vila dos anos 60 como era Torres Novas, só não era uma utopia porque as utopias não existem e aquele 1ºandar era tão real como o castelo mais acima. Convém lembrar que é um tempo em que muitas crianças não têm brinquedos ou, se têm, são artesanais, como fisgas, rodas de bicicleta, bolas de trapos ou de papel prensado, carros de ladeira ou então objectos como caricas, botões ou berlindes. Daí que entrar naquele 1ºandar, sobretudo na época de Natal, e ver pistas de automóveis, comboios eléctricos, robots, legos, roupas de fantasia, actions men, matraquilhos, patins, flippers e dezenas de jogos em coloridas caixas de cartão, fosse assim como um adulto estar hoje na secção de detergentes de uma Galinha Gorda em Alhandra e aparecer de repente na secção de perfumaria das Galerias Lafayette.
Era a minha filha ainda adolescente, fomos à Hamleys, uma megaloja com vários andares só de brinquedos, na Regent St.. Dois anos depois, desta vez já com o irmão, ainda pequeno, chegámos a Londres num domingo à noite. A irmã tinha-lhe falado na loja e a excitação e mistificação eram tantas que prometi ser o primeiro sítio onde iríamos no dia seguinte. Mas não chegou. Lá fomos então os dois a pé, numa noite de chuva, desde Russell Square até à loja, só para ver a montra e provar que era mesmo real e não uma pérfida partida a uma criança inocente. Entretanto, estava eu estava a vê-lo espeitar para o interior de uma loja fechada e ao mesmo tempo a ver-me no 1ºandar da Tabacaria Central, que deve ser também mais ou menos o que se vê quando se chega ao santuário de Fátima após 200 km a pé. Por isso, insisto: ser criança será sempre ser criança e é perante um brinquedo que isso se vê. Porém, houve duas coisas que mudaram bastante na relação das crianças com os brinquedos.
A primeira, graças a uma natural evolução social e económica, foi a banalização do brinquedo. Se o entusiasmo e fascínio perante um carro telecomandado acabado de desembrulhar na noite de Natal continuam a ser os mesmos, o impacto pela posse do brinquedo mudou bastante, não só pela avalanche de brinquedos recebidos de uma só vez, temperando a importância de cada um, mas também pela sua constante presença na vida das crianças, em vez de coisa mesmo especial ou até impossível.
Mas houve uma mudança ainda mais radical: a virtualização do espaço lúdico. Brincar consiste cada vez mais em estar sentado num sofá com um tablet, playstation, smartphone, Game Boy ou perante um computador, desligando a criança do mundo real dos objectos assim como do seu próprio corpo, transformado num par de polegares e olhos enfronhados num monitor. Claro que jogar é jogar, brincar é brincar. Porém, como tudo o resto, jogar e brincar têm uma história. Uma história que faria com que hoje a Tabacaria Central se parecesse com aqueles velhos sótãos onde brinquedos há muito esquecidos se vão cobrindo de pó e teias de aranha.
![]() Dizia-se do último czar da Rússia, Nicolau II, que a sua opinião era a opinião da última pessoa com quem tinha falado. Cem anos depois, Nicolau II reencarnou em alguma daquela rapaziada que tomou conta dos principais partidos da nossa democracia. |
![]() Quando saí de Torres Novas para ir estudar em Lisboa já sabia que iria depois sair de Lisboa para vir trabalhar em Torres Novas. A primeira razão para voltar foi de natureza umbilical: eu ser de Torres Novas como outros são de Mangualde ou Famalicão. |
![]() Se se observar o comportamento dos portugueses perante a pandemia, talvez seja possível ter um vislumbre daquilo que somos e de como gostamos de ser governados. Obviamente que não nos comportamos todas da mesma forma e não gostamos todos de ser governados da mesma maneira. |
![]() O herói nacional, melhor jogador de futebol do mundo de sempre, segundo dizem, foi protagonista numa daquelas histórias que são matéria-prima para solidificar lendas. Nessa história, sublinhando as origens humildes, o estratosférico conquista mais um laço com o Zé comum. |
![]() Apesar da limitação de vacinas nesta fase, o país tem vindo a ser confrontado com variados episódios de vacinação fora do que está priorizado. Há sempre alguém que se julga acima das normas ou que faz as suas próprias normas e ultrapassa assim os que estão na fila, ou então por via de terceiros chegam primeiro à seringa. |
![]() Na falta de acções presenciais, multiplicaram-se, nos últimos meses, as iniciativas on-line sobre os mais diversos assuntos. Num destes eventos em que participei, sensibilizou-me, particularmente, o testemunho de um ex-ministro social-democrata que, quando questionado sobre um eventual regresso à vida política mais activa, reconheceu que não pretende fazê-lo porque, e nas suas palavras, os quatro anos em que foi ministro mudaram-no, levando amigos e familiares mais próximos a dizerem-lhe que, nessa altura, ele não era “o mesmo Nuno”. |
![]() 1. O PSD de Torres Novas é uma anedota. Ao mesmo tempo que digo isto, ouço já ao fundo vozes a erguerem-se contra esta forma crua e dura de arrancar com este texto. Imagino até as conclusões de quem tem facilidade de falar sem saber: é do Bloco, dizem uns, comunista desde sempre, atiram outros, indo ainda mais longe, lembrando que dirige aquele pasquim comunista, conforme aprenderam com o ex-presidente socialista. |
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![]() Passo de ballet, movimento em que a bailarina estica graciosamente a perna, tem diferentes níveis de dificuldade consoante a direcção da perna e a altura a que chega o pé, requer um grande equilíbrio e um elevado nível de concentração. |
![]() Ouço os sinais ao longe. Um pranto gritado bem alto, do alto dos sinos da igreja, por alguém que partiu. É já raro ouvir-se. Por norma, pelo menos na nossa cidade, ecoam apenas pelos que muito deram de si à causa religiosa. |
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Hill Street Blues - carlos paiva |
» 2021-02-20
» Inês Vidal
PSD: a morte há muito anunciada - inês vidal |
» 2021-02-05
» Jorge Carreira Maia
O estranho caso das vacinas - jorge carreira maia |
» 2021-02-18
» Hélder Dias
Vacina |
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» José Ricardo Costa
Na mouche - josé ricardo costa |