Por este lado é que vamos, por João Carlos Lopes
" Queremos a ser uma janela de onde, localmente, se vê o mundo, e ao mesmo tempo dar expressão ao modo como o mundo e o que nele se passa se projectam na maneira como localmente agimos e pensamos."
1. Políticas nacionais, aqui e ali mais impostas a nível local por opção dos próprios, devastaram as economias locais das pequenas cidades e vilas do país. O comércio local e grande parte dos serviços foram fustigados e depois engolidos pelos grandes grupos nacionais ou trans-nacionais, remetendo as cidades e vilas portuguesas a pouco mais que cenários onde nada se passa. Reina o silêncio quotidiano onde outrora fervilhavam actividades, comércios, ofícios, então movimentando diariamente centenas de pessoas e alimentando trocas e fluxos económicos que reproduziam a própria economia local.
Com este panorama, desapareceu a economia local, uma certa “economia afectiva” que, dados os naturais laços de vizinhança e de relacionamento pessoal e comunitário, suportou durante décadas os jornais locais e regionais. Esta “publicidade afectiva” foi reduzida quase ao grau zero, dificultando a vida das publicações locais. Os grandes grupos têm plataformas próprias de divulgação, não usando os jornais locais para esse fim. Limitam-se a acções de caridade (umas garrafas de água para a corrida), sempre em conluio com os poderes locais instalados, porque deles precisam para “facilidades” várias na prossecução das suas acções de expansão.
A instauração de maiorias políticas absolutas, transversais aos vários partidos políticos com forte expressão autárquica, que se perpetuam por décadas e se transformam em regimes, tendem a manietar os jornais locais, que se tornam submissos e obedientes, megafones muitas vezes mais papistas que o papa, viciando-se num regime de sobrevivência à base do financiamento tão legal quanto directo e vicioso da publicação, em exclusivo, de editais e alvarás, publicidade institucional e engenhosos programas de divulgação de iniciativas autárquicas ou programas inter-municipais, previamente desenhados, acordados e decididos nos gabinetes do amiganço partidário ou de outras afinidades.
Os jornais locais que ousem resistir a este tipo de subserviência e que recusem transformar-se em boletins municipais ou inter-municipais (é o que está a dar com as CIMs) têm a vida mais complicada, lutando contra várias forças adversas:
- a inexistência do tecido económico local de outros tempos, que garantia receita de publicidade;
- a concorrência desleal de jornais que se curvam aos poderes e, curvando-se, são os beneficiados pelas receitas das publicações e propaganda oficiais;
- o boicote e a guerrilha dos poderes instalados, sempre ousados na política de pressão junto daqueles que, colocando publicidade ou simplesmente colaboram na escrita de artigos ou crónicas, tentando desmobilizar, calar, isolar;
- a inexistência de escala, ao nível local e regional, que permita compensar com fontes alternativas de receitas a sabotagem de sectores adversos;
- a crise global da imprensa e a quebra de leitores de publicações em papel, fenómeno esse mais estrutural, com o encerramento de milhares de jornais por todo o mundo: grandes jornais nacionais de referência, jornais regionais e sobretudo jornais locais independentes, que não pertençam a igrejas ou grupos económicos e que não sejam assumidamente cães-de-fila dos poderes locais instalados.
2. Se, num país, a existência de imprensa independente é condição determinante e decisiva da democracia, ao nível local a inexistência dessa imprensa independente conduz, claramente, à inexistência de sociedades locais democráticas. Não há democracia sem escrutínio. E, ao nível local, sobretudo nas pequenas cidades e vilas, as oposições não possuem, nem de longe nem de perto, meios, capacidade e instrumentos para o escrutínio político que a democracia lhe exige. As oposições não enfrentam apenas quem está no poder transitoriamente: lutam contra regimes de décadas, absolutos e titânicos, que dominam todas as outras instâncias da vida social, controlam, pressionam, pagam em prebendas e subsídios (colectividades, religiões, instituições cívicas, misericórdias, bombeiros, escolas, clubes desportivos) secando tudo em seu redor. Secando até a coragem dos cidadãos para a acção cívica e política, reduzindo o campo das oposições na prospecção e convencimento de pessoas empenhadas e reconhecidas, geralmente comprometidas e enredadas nos laços da “economia” dos interesses com o próprio poder.
É, por isso, perfeitamente natural a sanha e o ódio manifestado pelas maiorias absolutas contra quem ousa não plagiar a narrativa oficial e dizer que o rei vai nu (ainda se lembram do Shiva Som, do Boquilobo Golf, do Mega Hotel empresarial da Zibreira, e de toda uma colecção de aldrabices pré-eleitorais, para não falar dos casos recentes da Ribeira da Boa Água, do aeroporto internacional ou da mega-pocilga prevista para próximo do Paul do Boquilobo), dizer que o rei vai nu umas vezes para denunciar, outras para mobilizar a opinião pública contra práticas e opções que vão contra o interesse público.
Estivemos sempre do lado do interesse público e das populações contra a pantominice, o golpe simulado, os compadrios ou a simples estupidez no que toca ao governo local. Nestes 25 anos, predisseram vezes sem conta o fim deste jornal. Atiraram-lhe com o estigma do costume, ou porque é comunista, agora porque é do Bloco, amanhã porque há-de ser outra coisa qualquer. Mas nunca fomos obrigados a admitir que demos informação falsa ou publicámos “mentiras”, é isso que os dana.
3. Quase tudo tem um fim e este jornal pode um dia acabar, mas não há-se ser por nenhuma das razões invocadas pelas aves agoirentas. De resto, muitos dos que aqui se tornaram pessoas conhecidas, iniciando nestas páginas o caminho para voos mais altos e carreiras políticas, cospem no prato onde outrora comeram. Clássico.
A má notícia que repetidamente aqui costumamos dar é que vamos continuar neste caminho e com este rumo. Não vamos claudicar perante as dificuldades que, afinal, nos acompanham desde há 25 anos. Não, não temos um centavo de dívidas, e por isso devemos ser caso único no panorama dos jornais locais e regionais, porque os nacionais devem milhões. É claro que o cenário é este porque há um punhado de pessoas que, voluntária e desinteressadamente, dá o seu melhor para a continuidade deste jornal. Felizmente sem esperar em troca “facilidades”, tachos ou carreiras, se calhar antes pelo contrário. É assim há 25 anos, as provas são públicas e notórias.
Não pertencemos a uma igreja, a um grupo económico, a uma rede partidária, a uma empresa. Somos, como há 25 anos, um grupo de cidadãos que continuam a acreditar que a democracia local só é possível com imprensa independente e que, sem ela, não há prática efectiva da democracia.
4. Não vamos ceder ao “jornalismo” infantilizado da falsa proximidade, carregando edições e edições com notícias de festivais de sopas e de almoços, que já não são notícia, ou descarregando notas de imprensa sem enquadramento ou comentários que ajudem o leitor a não embarcar na conversa das verdades alternativas.
A proximidade, hoje, não é um conceito geográfico: sabe-se mais rapidamente o que está acontecer no Brasil do que se a câmara já arranjou o passeio ali em baixo. A proximidade dissolveu-se neste tempo e neste espaço. Entre uma notícia irrelevante da nossa rua e uma coisa interessante que se passa em Tomar ou na Barquinha, optamos por estas últimas. Daremos espaço a um tema “nacional” que interesse aos cidadãos, porque esses a televisão queima-os em 30 segundos na sua campanha permanente de estupidificação dos cidadãos e de infantilização da sociedade, em vez de perdermos tempo com falsas proximidades. Não se justifica o esforço de fazer um jornal cheio de minudências daquelas que povoavam as publicações de há 150 anos. Acabou há muito o tempo das gazetas e dos jornalinhos locais.
Vamos por aqui: não é só o “local” que nos interessa. Queremos continuar a ser uma janela de onde, localmente, se vê e se interpreta o mundo, e ao mesmo tempo dar expressão ao modo como o mundo e o que nele se passa se projectam na maneira como localmente agimos e pensamos. Só assim vale a pena, que não é pequena.
(dedico estas linhas à Conceição Gomes, à Conceição Godinho, ao Luís Miguel Fanha, ao Cristiano Abegão, à Inês Vidal e ao Élio Batista)
Por este lado é que vamos, por João Carlos Lopes
Queremos a ser uma janela de onde, localmente, se vê o mundo, e ao mesmo tempo dar expressão ao modo como o mundo e o que nele se passa se projectam na maneira como localmente agimos e pensamos.
1. Políticas nacionais, aqui e ali mais impostas a nível local por opção dos próprios, devastaram as economias locais das pequenas cidades e vilas do país. O comércio local e grande parte dos serviços foram fustigados e depois engolidos pelos grandes grupos nacionais ou trans-nacionais, remetendo as cidades e vilas portuguesas a pouco mais que cenários onde nada se passa. Reina o silêncio quotidiano onde outrora fervilhavam actividades, comércios, ofícios, então movimentando diariamente centenas de pessoas e alimentando trocas e fluxos económicos que reproduziam a própria economia local.
Com este panorama, desapareceu a economia local, uma certa “economia afectiva” que, dados os naturais laços de vizinhança e de relacionamento pessoal e comunitário, suportou durante décadas os jornais locais e regionais. Esta “publicidade afectiva” foi reduzida quase ao grau zero, dificultando a vida das publicações locais. Os grandes grupos têm plataformas próprias de divulgação, não usando os jornais locais para esse fim. Limitam-se a acções de caridade (umas garrafas de água para a corrida), sempre em conluio com os poderes locais instalados, porque deles precisam para “facilidades” várias na prossecução das suas acções de expansão.
A instauração de maiorias políticas absolutas, transversais aos vários partidos políticos com forte expressão autárquica, que se perpetuam por décadas e se transformam em regimes, tendem a manietar os jornais locais, que se tornam submissos e obedientes, megafones muitas vezes mais papistas que o papa, viciando-se num regime de sobrevivência à base do financiamento tão legal quanto directo e vicioso da publicação, em exclusivo, de editais e alvarás, publicidade institucional e engenhosos programas de divulgação de iniciativas autárquicas ou programas inter-municipais, previamente desenhados, acordados e decididos nos gabinetes do amiganço partidário ou de outras afinidades.
Os jornais locais que ousem resistir a este tipo de subserviência e que recusem transformar-se em boletins municipais ou inter-municipais (é o que está a dar com as CIMs) têm a vida mais complicada, lutando contra várias forças adversas:
- a inexistência do tecido económico local de outros tempos, que garantia receita de publicidade;
- a concorrência desleal de jornais que se curvam aos poderes e, curvando-se, são os beneficiados pelas receitas das publicações e propaganda oficiais;
- o boicote e a guerrilha dos poderes instalados, sempre ousados na política de pressão junto daqueles que, colocando publicidade ou simplesmente colaboram na escrita de artigos ou crónicas, tentando desmobilizar, calar, isolar;
- a inexistência de escala, ao nível local e regional, que permita compensar com fontes alternativas de receitas a sabotagem de sectores adversos;
- a crise global da imprensa e a quebra de leitores de publicações em papel, fenómeno esse mais estrutural, com o encerramento de milhares de jornais por todo o mundo: grandes jornais nacionais de referência, jornais regionais e sobretudo jornais locais independentes, que não pertençam a igrejas ou grupos económicos e que não sejam assumidamente cães-de-fila dos poderes locais instalados.
2. Se, num país, a existência de imprensa independente é condição determinante e decisiva da democracia, ao nível local a inexistência dessa imprensa independente conduz, claramente, à inexistência de sociedades locais democráticas. Não há democracia sem escrutínio. E, ao nível local, sobretudo nas pequenas cidades e vilas, as oposições não possuem, nem de longe nem de perto, meios, capacidade e instrumentos para o escrutínio político que a democracia lhe exige. As oposições não enfrentam apenas quem está no poder transitoriamente: lutam contra regimes de décadas, absolutos e titânicos, que dominam todas as outras instâncias da vida social, controlam, pressionam, pagam em prebendas e subsídios (colectividades, religiões, instituições cívicas, misericórdias, bombeiros, escolas, clubes desportivos) secando tudo em seu redor. Secando até a coragem dos cidadãos para a acção cívica e política, reduzindo o campo das oposições na prospecção e convencimento de pessoas empenhadas e reconhecidas, geralmente comprometidas e enredadas nos laços da “economia” dos interesses com o próprio poder.
É, por isso, perfeitamente natural a sanha e o ódio manifestado pelas maiorias absolutas contra quem ousa não plagiar a narrativa oficial e dizer que o rei vai nu (ainda se lembram do Shiva Som, do Boquilobo Golf, do Mega Hotel empresarial da Zibreira, e de toda uma colecção de aldrabices pré-eleitorais, para não falar dos casos recentes da Ribeira da Boa Água, do aeroporto internacional ou da mega-pocilga prevista para próximo do Paul do Boquilobo), dizer que o rei vai nu umas vezes para denunciar, outras para mobilizar a opinião pública contra práticas e opções que vão contra o interesse público.
Estivemos sempre do lado do interesse público e das populações contra a pantominice, o golpe simulado, os compadrios ou a simples estupidez no que toca ao governo local. Nestes 25 anos, predisseram vezes sem conta o fim deste jornal. Atiraram-lhe com o estigma do costume, ou porque é comunista, agora porque é do Bloco, amanhã porque há-de ser outra coisa qualquer. Mas nunca fomos obrigados a admitir que demos informação falsa ou publicámos “mentiras”, é isso que os dana.
3. Quase tudo tem um fim e este jornal pode um dia acabar, mas não há-se ser por nenhuma das razões invocadas pelas aves agoirentas. De resto, muitos dos que aqui se tornaram pessoas conhecidas, iniciando nestas páginas o caminho para voos mais altos e carreiras políticas, cospem no prato onde outrora comeram. Clássico.
A má notícia que repetidamente aqui costumamos dar é que vamos continuar neste caminho e com este rumo. Não vamos claudicar perante as dificuldades que, afinal, nos acompanham desde há 25 anos. Não, não temos um centavo de dívidas, e por isso devemos ser caso único no panorama dos jornais locais e regionais, porque os nacionais devem milhões. É claro que o cenário é este porque há um punhado de pessoas que, voluntária e desinteressadamente, dá o seu melhor para a continuidade deste jornal. Felizmente sem esperar em troca “facilidades”, tachos ou carreiras, se calhar antes pelo contrário. É assim há 25 anos, as provas são públicas e notórias.
Não pertencemos a uma igreja, a um grupo económico, a uma rede partidária, a uma empresa. Somos, como há 25 anos, um grupo de cidadãos que continuam a acreditar que a democracia local só é possível com imprensa independente e que, sem ela, não há prática efectiva da democracia.
4. Não vamos ceder ao “jornalismo” infantilizado da falsa proximidade, carregando edições e edições com notícias de festivais de sopas e de almoços, que já não são notícia, ou descarregando notas de imprensa sem enquadramento ou comentários que ajudem o leitor a não embarcar na conversa das verdades alternativas.
A proximidade, hoje, não é um conceito geográfico: sabe-se mais rapidamente o que está acontecer no Brasil do que se a câmara já arranjou o passeio ali em baixo. A proximidade dissolveu-se neste tempo e neste espaço. Entre uma notícia irrelevante da nossa rua e uma coisa interessante que se passa em Tomar ou na Barquinha, optamos por estas últimas. Daremos espaço a um tema “nacional” que interesse aos cidadãos, porque esses a televisão queima-os em 30 segundos na sua campanha permanente de estupidificação dos cidadãos e de infantilização da sociedade, em vez de perdermos tempo com falsas proximidades. Não se justifica o esforço de fazer um jornal cheio de minudências daquelas que povoavam as publicações de há 150 anos. Acabou há muito o tempo das gazetas e dos jornalinhos locais.
Vamos por aqui: não é só o “local” que nos interessa. Queremos continuar a ser uma janela de onde, localmente, se vê e se interpreta o mundo, e ao mesmo tempo dar expressão ao modo como o mundo e o que nele se passa se projectam na maneira como localmente agimos e pensamos. Só assim vale a pena, que não é pequena.
(dedico estas linhas à Conceição Gomes, à Conceição Godinho, ao Luís Miguel Fanha, ao Cristiano Abegão, à Inês Vidal e ao Élio Batista)
![]() Apresentados os candidatos à presidência da Câmara de Torres Novas, a realizar nos finais de Setembro, ou na primeira quinzena de Outubro, restam pouco mais de três meses (dois de férias), para se conhecer ao que vêm, quem é quem, o que defendem, para o concelho, na sua interligação cidade/freguesias. |
![]() O nosso major-general é uma versão pós-moderna do Pangloss de Voltaire, atestando que, no designado “mundo livre”, estamos no melhor possível, prontos para a vitória e não pode ser de outro modo. |
![]() “Pobre é o discípulo que não excede o seu mestre” Leonardo da Vinci
Mais do que rumor, é já certo que a IA é capaz de usar linguagem ininteligível para os humanos com o objectivo de ser mais eficaz. |
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Em 2012, o psicólogo social Jonathan Haidt publicou a obra A Mente Justa: Porque as Pessoas Boas não se Entendem sobre Política e Religião. Esta obra é fundamental porque nos ajuda a compreender um dos dramas que assolam os países ocidentais, cujas democracias se estruturam, ainda hoje, pela dicotomia esquerda–direita. |
![]() Imagino que as últimas eleições terão sido oportunidade para belos e significativos encontros. Não é difícil pensar, sem ficar fora da verdade, que, em muitas empresas, patrões e empregados terão ambos votado no Chega. |
![]() "Hire a clown, get a circus" * Ele é antissistema. Prometeu limpar o aparelho político de toda a corrupção. Não tem filtros e, como o povo gosta, “chama os bois pelo nome”, não poupando pessoas ou entidades. |
![]() A eleição de um novo Papa é um acontecimento sempre marcante, apesar de se viver, na Europa, em sociedades cada vez mais estranhas ao cristianismo. Uma das grandes preocupações, antes, durante e após a eleição de Leão XIV, era se o sucessor de Francisco seria conservador ou progressista. |
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